Capítulo 10 - Não me QUESTIONE

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AVISO DE GATILHO.
O capítulo a seguir conta com uma desconstrução do conceito romântico entregue à maternidade, tal ato pode gerar crises ou desconforto, por isso, peço que leiam com cuidado e tenham consciência de seus limites.

Obrigada pela atenção,
Boa Leitura!

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Enjoou-se.

Para ser fiel a realidade, o sentimento de quem poderia vomitar a qualquer momento, junto com o cansaço acumulado — ocasionado pelas noites que já não conseguia dormir direito —, que entregava sempre a impressão de que estava prestes a cair de uma corda bamba, e toda a irritação que sentia por conta dos fatores mencionados acima — que se acumulavam com o passar dos dias —, definiam a sua vida recentemente.

Sentia-se cada vez mais estafada. Com a rapidez do passar dos dias, a gravidez avançava e pouco a pouco, a vida adulta começava a pesar em seus braços, ou melhor, em sua barriga.

Logo seria Natal. Luan estava feliz, ela dizia estar feliz, seus pais nunca estiveram tão brilhantes e até a mãe do esposo a parabenizou. Então, por que, de certa forma, ela não sentia honestidade na sua voz quando se afirmava feliz? O que era aquele sentimento que a consumia por dentro e por que ninguém a havia relatado sobre isso antes? Será que era a primeira grávida a ter aquilo? Não, não poderia ser a única. Aquilo nem ao menos fazia sentido!

Diversas mulheres engravidavam por dia, milhares, por que nenhuma delas tinha revelado nada sobre toda aquela confusão que florescia? Por que nenhuma a contou que a gravidez não era a primavera que todos prometeram que iria ser?

A maternidade deveria a tornar especial, fazê-la completa, deveria ser o passo principal na vida de uma mulher, aquilo que diferenciaria Marina das outras, que a tornava responsável. Então, por que a ideia de ser mãe não estava a fazendo se sentir melhor? Não estava tornando-a uma pessoa melhor? Todos os livros e todos que a cercavam definiam o ato de gerar uma vida como uma benção divina, mas a estilista estava cada vez mais perdida. Queria gritar que não era nada daquilo que a descreveram, na realidade, a gravidez era apenas um processo recheado de dúvidas, incertezas, temores e enjoos.

Temia.

Temia não ser uma boa mãe.

Temia não ser capaz de conciliar o trabalho e o filho. Temia que Luan não fosse capaz de manter a casa sozinho e todo o seu casamento começasse a ser resumido em pagar contas.

Temia tantas coisas que começava a pensar que toda sua vida seria resumida ao verbo temer.

Pensava que poderia ser apenas os hormônios da gravidez que começavam a agir e, com o tempo, tudo aquilo que ela estava sentindo iria sumir e ser substituído pela alegria imensurável que lhe foi prometida. Contudo, com o tempo, tudo que conseguia adquirir era uma série de preocupações que martelavam em sua cabeça e a faziam parar em diversos momentos do dia para se perguntar o que estava acontecendo consigo mesma.

Existia o trabalho, a casa que estava cada vez mais bagunçada — e que em breve teria que ser arrumada para dar espaço às coisas do bebê —, eram tantas as coisas que a perturbavam. Não poderia apenas jogar para cima de Luan e exigir que ele cuidasse de tudo, não poderia exigir que ele entendesse como ela se sentia vendo que, talvez, todos seus sonhos estivessem sendo arremessados do vigésimo andar. Ainda poderia continuar no ramo da moda quando fosse mãe? Todas que conheciam afirmaram que pararam de trabalhar pelo filho, para sentir o deleite da maternidade e que não se arrependiam, mas e se com ela tudo fosse diferente?

Ainda poderia ganhar o mundo, ter sua própria coleção em lojas famosas, fazer um desfile, entre outras coisas que um dia desejou? Por um curto momento, às vezes, se pegava pensando em seu próprio casamento.

Não me TOC [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora