Capítulo 14 - Não me ESCONDA

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AVISO DE (que talvez não tenha) GATILHO.
O capítulo a seguir está tão leve que pode ocasionar surpresas.
O aviso acima é só para vocês relembrarem que "Não me TOC" ainda lida com transtornos psicológicos.

Obrigada pela atenção,
Boa Leitura!

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 (...)

19h.

O jantar que encomendou já havia chegado.

Mas a pessoa que o negro tanto esperava não — e não entendia porque estava decepcionado, quer dizer, não era como se isso fosse uma surpresa. Independente do dia anterior, ainda estava se referindo a Adams Sales, o rapaz cuja ausência em eventos sociais irrelevantes era quase sempre uma certeza.

Não deveria ficar surpreso se o modelo realmente faltasse — entretanto, a falta de mensagem acabava o decepcionando, pelo menos isso o garoto não teria coragem de fazer, certo?

Durante o dia, seus pensamentos se concentraram na resposta entregue ao seu convite — um like­ — e seu real significado. Estava dando uma bronca? Brincando? Aquele convite importava para o menino?

Se Lucas fosse honesto consigo mesmo, admitiria que a única pergunta que gostaria de obter uma resposta era se o moreno de olhos verdes viria. Não sabia. Mesmo assim, arrumou o ambiente como se existisse a probabilidade e encomendou uma ceia simples — até mesmo tomou cuidado em organizar as revistas da mesa de centro por ordem de lançamento.

Dois pratos estavam dispostos na pequena mesa do canto da sala que quase nunca era usada, geralmente apenas fazia as refeições no balcão americano da cozinha — porém pensou que isso poderia parecer ofensivo aos costumes do garoto, apesar de não ter certeza. Não tinha certeza de nada.

Gostaria de ter.

Irá vir, pensou, teria enviado uma mensagem recusando o convite se não viesse.

Adams não enviou mensagem alguma — o silêncio era tão fatal quanto uma recusa.

À medida que os ponteiros do relógio completavam mais uma volta, sentia-se cada vez mais ridículo — talvez fosse por isso que as pessoas tinham o hábito de passar o Natal com suas famílias em vez de esperar que milagres ocorressem, ou talvez fosse por isso costumavam dizer que não se devia esperar nada de modelos — e, em determinado momento, um pouco cansado de observar os números, fechou os olhos. Sentiu um pouco de saudades da época da faculdade e dos cigarros. Durante todo o dia, desejou poder fumar um pouco para amenizar a crescente onda de ansiedade por não saber se aquilo iria funcionar — pessoas como Adams não se misturavam com pessoas como ele.

Não importava a relação profissional que tivessem ou como havia sido a madrugada anterior, Lucas ainda era Lucas — ainda permanecia sem ser filho de algum homem importante, um modelo famoso ou algo parecido. Permanecia sendo apenas um agente.

Droga, xingou.

Morar sozinho entregava diversas vantagens, a solidão não era uma delas.

20h.

E não se lembrava da última vez que se sentiu tão solitário, geralmente seu telefone estava sempre apitando ou estava cercado de pessoas, rodeado de pensamentos e ideias, rodeado de oportunidades. A solidão era a principal inimiga das pessoas que nascem sem muitos privilégios — ao mesmo tempo que era, talvez, a maior das companheiras. Para Lucas, aquela palavra era tão antagônica quando posta em frente a sua personalidade que o irritava só de pensar.

Pequena palavra que o relembrava da sua pré-adolescência e de uma época anterior a São Paulo.

Pequena palavra que o relembrava de coisas que talvez fosse melhor esquecer.

Não me TOC [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora