Capítulo 3

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As criaturas já tinham partido há algum tempo quando o caçador, enfim, deixou o seu esconderijo no alto da árvore com um salto preciso e aterrissou, majestosamente, no chão de terra dura com um baque surdo, levantando poeira e folhas ao seu redor. Ele ficou agachado e parado durante um tempo, olhando para todos os lados e, sem encontrar algum sinal de perigo iminente, levantou-se e caminhou lentamente, com passos leves e silenciosos, na direção da entrada da caverna.

Ao se aproximar, imediatamente o homem encapuzado sentiu um cheiro pútrido exalando do local, mas nem isso pareceu ser suficiente para abalar a determinação do caçador, cujo único pensamento era de encontrar alguém vivo e dar o fora dali antes do regresso das terríveis criaturas. Agarrando-se a essa tola esperança, ele entrou na caverna e deu de cara com dezenas de ossos, de aparência humana, jogados ao chão em meio a sangue, roupas, botas, cintos, armas, armaduras e outras coisas mais. Ele se abaixou para examinar um pouco mais de perto os objetos e reparou que, em alguns deles, o sangue ainda estava fresco e morno. Ao que tudo indica, esse parece ser o local onde as criaturas descartam as roupas de suas vítimas, junto com todos os objetos que não são de seu interesse, ele concluiu.

Uma brisa gélida soprou do que parecia ser uma passagem na parede de pedra ao fundo da caverna e chamou a atenção do único homem ali, que imediatamente deixou os objetos de lado e pôs-se de pé, sacando as duas espadas que carregava embainhadas na cintura, uma em cada lado do corpo. O caçador ainda possuía outras armas à sua disposição, como duas adagas de prata guardadas no interior de cada uma de suas botas de couro leve e quatro facas de arremesso feitas de ferro puro, presas no seu cinto, também de couro, às suas costas.

A passagem era íngreme e escorregadia, mas com espaço suficiente para três homens de ombros largos caminharem lado a lado, sem problemas. O teto era bem alto e o chão irregular, também coberto de sangue. O caçador caminhou com as espadas na mão, sem medo, mas ainda com passos leves e silenciosos, cada vez mais para o interior do maldito covil das fúrias, até chegar a uma cavidade gigantesca onde parecia ser o lar das criaturas.

O ambiente também tinha o piso muito irregular e o caçador logo pôde notar imensas pedras dispostas imóveis e de forma aleatória, por todo o local. Ao centro, a mesma bagunça de corpos mutilados e dilacerados, os quais jaziam jogados sem vida no chão. Debruçados sobre eles, dois vormags pareciam estar se alimentado, vorazmente, da carne fresca dos cadáveres recém chegados. O cheiro do ar ali dentro não era tão forte e ruim quanto o da entrada da caverna, mas ainda assim era capaz de causar dificuldades na sua respiração.

Silenciosamente, o caçador embainhou novamente suas espadas à cintura e caminhou em direção à pedra mais próxima para examinar melhor o local. Com seus olhos que tudo veem, ele se certificou de que não havia mais nenhuma outra criatura ali, além daquelas duas que se alimentavam sem parar e que não chegaram nem perto de notar a sua presença. Depois de pensar por alguns segundos e traçar um plano de ataque, ele decidiu agir.

Ele se aproximou lentamente por trás das fúrias enquanto tirava duas facas de arremesso da presilha no seu cinto. O caçador parou a uma distância de mais ou menos 20 passos e, com uma pontaria certeira, ele arremessou e acertou a parte posterior da cabeça de uma das criaturas, que caiu no chão com um baque surdo. A outra se virou rapidamente para encarar seu agressor, quando, imediatamente, foi atingida pela outra faca de ferro na altura da testa, caindo para trás com a força do impacto.

Infelizmente, os vormags não morrem facilmente, mesmo atingidos por ferro puro ou prata e, mesmo atordoados, logo se puseram de pé novamente. Só existem duas maneiras de matar essas criaturas: queimando sua carne ou separando suas cabeças de seus corpos. Como o caçador não possuía nenhuma fonte de fogo consigo no momento, ele imediatamente puxou as espadas e saiu em disparada na direção das fúrias, que, a essa altura, já haviam recobrado o seu juízo perfeito.

A primeira fúria, que havia sido acertada com a faca na nuca, saltou sobre o homem, com a sua enorme garra cortando o ar em direção à cabeça do caçador, que aparou o golpe com uma das armas e aproveitou a brecha para cortar o braço da criatura com a sua outra espada. O vormag uivou enquanto o homem encapuzado girava em seus calcanhares e usava uma das espadas para bloquear um ataque na altura de suas pernas, disparado pela outra criatura que já havia se aproximado, e extirpar a cabeça da fúria que havia perdido o braço, segundos antes, com a sua segunda arma.

O vormag solitário parou e olhou para o corpo do seu semelhante jogado sem vida ao chão e grunhiu ferozmente ao reiniciar um ataque rápido e implacável contra o caçador. Ela disparou a mão em forma de garras na direção da cabeça do homem, que instantaneamente jogou o corpo para trás, esquivando-se do ataque, mas sendo atingido pela gosma verde que escorria pela ponta dos dedos da criatura. Se o caçador fosse um homem normal, estaria terrivelmente condenado nesse momento, mas como ele estava longe da normalidade, o líquido gosmento foi ineficaz e ele contra-atacou a criatura, fazendo um rasgo na altura de seu peito.

A criatura deu um passo para trás, no entanto, não pareceu sentir o ferimento em seu peito e, rapidamente, disparou uma sucessão de ataques ineficientes contra o caçador. A grande maioria passou ao vento e alguns foram bloqueados pelas espadas do homem, que aproveitava qualquer brecha para acertar a Fúria, sempre com ataques precisos e minuciosamente planejados. O vormag era uma máquina de matar incansável e implacável, que nunca desistia de uma luta e jamais abria mão de provar o sabor da carne das suas vítimas, então ele atacou novamente, tentando atingir a perna do caçador, que imediatamente saltou sobre uma pedra e desferiu um chute violento contra a cabeça da criatura. Ela cambaleou um pouco para trás e tropeçou numa pedra, caindo de costas para o chão.

O momento que o caçador esperava enfim apareceu com a queda da criatura e ele rapidamente levou ambas as mãos às costas, pegou as últimas duas facas de arremesso e as disparou, simultaneamente, em direção à fúria, acertando mais uma lâmina na altura da testa e a outra onde deveria existir um nariz. Sem dar tempo para o vormag se recuperar, o caçador saltou da pedra em que se encontrava e, ao cair, cravou uma das espadas no peito da criatura, perfurando carne, osso e a terra do chão. A fúria se debateu ferozmente, sem parar, e cansado do chiado que ela produzia, o homem misterioso ergueu a sua outra espada acima da sua cabeça e desceu o braço com um movimento rápido e preciso, separando corpo e cabeça, finalmente dando um fim na última criatura que restava no covil.

O Caçador MisteriosoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora