Capítulo 15

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O caçador teve a sua atenção atraída pela voz do velho fantasma.

— Aquelas criaturas...

— Elas já vão embora, Rasban, não há motivos para se preocupar. O dia está quase chegando e elas serão obrigadas a procurar um lugar para se esconder! — o caçador interrompeu a fala do velho e deu um tapa no ar ao falar.

— Sim, disso eu já estou mais do que ciente e você não precisa me lembrar, mas a noite vai chegar novamente e é provável que elas voltem.

— Provável? — O caçador deu uma risadinha irônica e continuou a falar: — elas estarão de volta assim que a noite cair, esteja certo disso.

— E você fala isso assim, na maior naturalidade? — o fantasma esbravejou.

— De que outro modo eu poderia falar? Quer que eu minta para você e diga que vai ficar tudo bem e que não terá nenhuma criatura lá fora quando anoitecer novamente? – O caçador deu de ombros.

— Obviamente que não — O velho andou de um lado para o outro e parou ao lado da cama onde a menina encontrava-se deitada. Rasban olhou durante algum tempo para o rosto pálido e inocente da criança e, quase sussurrando, ele finalmente fez a pergunta que martelava em sua mente desde que vira as criaturas, que ele julgava não existirem mais, do lado de fora da sua porta: — O que será de nós quando elas voltarem?

O caçador deu um longo suspiro e depois de um silêncio inquietante, respondeu:

— Eu não sei.

— Não sabe? Como... — O velho já estava prestes a dar um outro rompante quando o homem o interrompeu.

— Escute, Rasban, eu sei que você está preocupado e tenha certeza que eu também estou, mas acontece que não estou em condições de pensar em nada neste momento.

— Nós precisamos pensar em como sair dessa — o velho rebateu prontamente.

— Eu sei, nós vamos pensar juntos e achar uma solução.

— Juntos? — Pela primeira vez na noite o fantasma pareceu confuso e satisfeito ao mesmo tempo. — Quando?

— Em breve, eu prometo, mas primeiro preciso descansar e dormir por algumas horas. Assim que eu acordar, provavelmente esta dor de cabeça insuportável já terá me deixado e tenho certeza que vou saber o que fazer.

— Certo!

— Ah! Como está a menina? — O caçador se lembrou de perguntar por ela momentos antes de fechar os olhos novamente. — Acha que ela vai sobreviver?

O fantasma abaixou a cabeça e olhou de soslaio para a cama onde ela encontrava-se deitada e falou entredentes:

— Eu fiz tudo o que estava ao meu alcance para salvá-la, você precisa entender isso. — Ele fez uma pausa e continuou: — O ferimento na perna não foi um problema, mas, sinceramente, não acho que ela vá aguentar ao veneno nefasto dos vormags.

— Não se preocupe com isso, ela vai sobreviver! — disse o caçador ao fechar os olhos.

— Como pode ter tanta certeza disso?

O caçador respirou profundamente e abriu os olhos lentamente ao responder:

— Apesar de ser um velho miserável e rabugento, Rasban, você é bom no que faz. Eu não conheço ninguém que tenha salvado mais vidas em qualquer canto desse mundo do que você.

— Hã? Obrigado. — Rasban ficou bem confuso com as palavras do homem. Ele não imaginava receber qualquer tipo de elogio esta noite, principalmente vindo dele.

— Não precisa me agradecer, eu apenas tenho fé em você. — O homem deu de ombros.

— Fé não será suficiente para salvá-la da morte por envenenamento. — Rasban gesticulou e apontou na direção da cama ao sacudir negativamente a cabeça.

— Ela é mais forte do que você imagina, velho. Achei que você também tivesse sentido isso quando tocou nela.

— Eu senti. — O velho hesitou um pouco antes de continuar: — Mas, ainda assim, é veneno de vormag. Não existe nenhuma cura para isso entre os homens.

— Deixa disso, velho, você é rabugento, não pessimista. Isso não combina nem um pouco com você. — O caçador levou as mãos à parte posterior da cabeça, entrelaçou os dedos e fechou os olhos ao terminar de falar: — Dê-me as boas notícias quando eu acordar.

— Se houver alguma para dar! — Rasban resmungou.

— Haverá! Agora pare de me importunar e deixe-me dormir de uma vez.

Sem mais o que argumentar, Rasban fez como o caçador pediu e finalmente o deixou em paz para tirar seu tão sonhado e merecido sono.

O Caçador MisteriosoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora