Capítulo 11

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Correndo, incansavelmente, por pelo menos quatro horas, o caçador conquistava arduamente cada quilômetro em direção ao seu destino, sem nem ao menos se importar com seus ferimentos e principalmente com a sua perna, que fora rasgada pelas garras do vormag partido ao meio dentro daquela nefasta caverna, onde a única coisa boa que achou foi a menina, que lutava pela vida em seus braços, neste momento.

Durante todo o percurso, eles foram acompanhados de perto por várias criaturas maléficas que habitavam a noite e o caçador também tinha certeza que os vormags vinham em seu rastro, a julgar pelos gritos que ouvia, de quando em quando, ao longe, em algum lugar na floresta.

Na sua última parada, ele examinou, mais uma vez, a menina e, dessa vez, o que ele esperava que, mais cedo ou mais tarde, fosse acontecer, enfim, se deu. A criança delirava e ardia em febre e o ferimento causado pelo vormag, em sua pequena perna, encontrava-se cheio de pus e infeccionado. O caçador usou o resto água que havia em seu odre para hidratar e limpar da melhor maneira possível a ferida da menina.

O cenário atual não era nada animador. A febre da pequena Arryn estava muito alta e, mesmo após a limpeza, seu ferimento tinha uma aparência feia e já cheirava muito mal. O caçador sabia que não tinha muito tempo a perder, pois a menina já se encontrava à beira de entrar em colapso. Ele havia calculado mal e ela não teria de dez a doze horas de vida, nem mesmo chegaria à metade desse tempo. Talvez correr floresta adentro com a criança no colo tenha apressado a infecção, mas eu não tinha nenhuma outra opção viável no momento e, principalmente, alguma que pudesse dar ao menos uma chance mínima de sobrevivência à menina, ele lamentou consigo mesmo. A salvação seria chegar logo à cabana, mas ela ainda estava a pelo menos uns 20 quilômetros de distância.

A essa altura, apesar de o caçador não ser apenas um homem normal, todo esse esforço já começava a cobrar o seu preço. Sua perna rasgada encontrava-se muito pesada e dormente, seu ombro mordido latejava e irradiava uma dor aguda, que subia pelo seu pescoço e passava pela sua cabeça até chegar no fundo dos seus olhos. A boca estava ressecada, seu estômago roncava de fome e sua respiração era dificultada pelo cansaço da corrida desenfreada que vinha mantendo nas últimas horas, mas, mesmo assim, ele sabia que precisava de mais.

Neste momento, a pobre menina dependia única e exclusivamente dele para ter pelo menos mais um dia de vida e o caçador sabia que ele teria que tirar forças do fundo da sua alma para aumentar o ritmo da sua corrida e cobrir os 20 quilômetros, sem nenhuma parada a mais e no menor tempo possível.

De olhos fechados, o caçador encheu seus pulmões de ar e prendeu a respiração por um momento, concentrando sua audição na procura de qualquer tipo de som sobrenatural que nenhum homem normal poderia ser capaz de escutar, antes de expirar suavemente. O homem, em seu momento de pura concentração, inspirou, profundamente, mais três vezes, antes de abrir os olhos e encarar com incredulidade o caminho na floresta por onde chegara até ali. O tempo de descanso e lamentação enfim se esgotou e, com a energia um pouco renovada, o caçador virou-se para o leste e iniciou sua incansável corrida pela última vez nessa noite.

O Caçador MisteriosoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora