Capítulo 19

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Apesar de todo o caos que o cenário apresentava, já que um incontável número de seres sobrenaturais encontrava-se parado e sedento por sangue, a apenas alguns poucos passos de distância da cabana, o caçador sorria. O seu sorriso de escárnio misturado com uma pitada de soberba pareceu perturbar ainda mais as criaturas, as quais, a essa altura, já inquietas, sibilavam, guinchavam e rosnavam sem parar.

Os demônios permaneciam à frente, com o olhar fixo no caçador. O menor deles parecia ter uma cabeça a mais de altura que o Adimus, e tinha o corpo esguio, com a pele avermelhada e coberta por várias inscrições em tinta preta. Seus olhos eram amarelos e sombrios. Sua boca era grande, carnuda e com os caninos alongados. Uma enorme cicatriz podia ser vista na lateral esquerda de seu rosto, que se iniciava na sobrancelha e terminava no queixo, e dois enormes chifres brotavam das suas têmporas. Ele vestia apenas uns trapos em forma de calça e tinha o peito completamente nu. As únicas armas que trazia consigo eram duas adagas negras, embainhadas na cintura. Foi ele quem dera o sinal para as criaturas estancarem, momentos antes.

O outro demônio era ainda maior que o primeiro e devia medir pelo menos o dobro da altura do caçador. Seu corpo parecia uma montanha gigante de músculos, com a pele brilhosa e inteiramente negra. Suas mãos eram grandes e as unhas negras e afiadas como garras. Enormes cicatrizes encontravam-se presentes no peito nu da besta, que a exemplo da outra, vestia apenas alguns trapos. Seu rosto era em formato quadrado, com um enorme chifre saindo do meio de sua testa. Seus olhos eram vermelhos e tinha a boca horrível, pois seus lábios estavam costurados com algo que o caçador não soube identificar. Ele ainda trazia uma enorme espada presa as suas costas.

— O que estão fazendo aqui? — o caçador resolveu quebrar o silêncio e perguntou.

Os dois demônios se entreolharam por um momento e então o menor deu um passo à frente, na direção do caçador, e falou:

— Você tem algo que nos pertence, espectro — o demônio vermelho passou a língua nos dentes e apontou para a cabana ao terminar de falar: — e nós queremos de volta.

O caçador deu de ombros e retrucou:

— O que te faz pensar que eu poderia ter algo em minha posse que pertença ao seu tipo de escória, demônio? — o homem passou o peso do corpo de um lado para o outro ao perguntar, com um leve tom de desdém na voz.

O maior dos dois demônios rosnou e fez uma careta de ódio ao ouvir as palavras do caçador. Ele já se encontrava prestes a puxar a sua enorme espada das costas quando o menor, de pele avermelhada, intercedeu:

— Acalme-se, Bascas! Ainda não é o momento para isso — o demônio vermelho alisou o queixou e olhando fixamente para a cabana, ele continuou: — Não vejo necessidade de derramar mais sangue essa noite. Entregue o nosso prêmio e tens a minha palavra que deixaremos vocês em paz.

O caçador franziu a sobrancelha, coçou a cabeça e falou:

— O que você quis dizer com mais sangue essa noite?

O demônio de pele vermelha e com inscrições pelo corpo olhou para o caçador e sorriu.

— O caminho até aqui foi árduo e longo. Muita coisa aconteceu essa noite, isso eu posso te garantir, porém, o que eu não posso e nem tenho é tempo para perder com conversa fiada, mesmo que essa conversa seja com um renomado espectro como você.

— Obrigado pela consideração — o caçador fez outra mesura exagerada. — Não sei como e nem onde você ouviu esse nome, mas sinto que eu estou em certa desvantagem nessa nossa conversa. Veja bem, eu sei que o nome dessa pilha de estrume ambulante ao seu lado é Bascas, mas o que eu ainda não sei, e quero deixar bem claro que essa situação já começa a me irritar um pouquinho, é como você se chama.

O Caçador MisteriosoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora