Capítulo 25

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O caçador percorreu todo o caminho por entre os corredores longos e escuros, com o chão coberto de escombros, musgo e ossos, que com uma ligeira passada de olhos pareceram ser de humanos, por meio das ruínas em que se encontrava a construção que um dia fora chamada de castelo, seguindo o famigerado demônio vermelho de perto e em silêncio.

O ar no local era quente e muito abafado, além disso, exalava um cheiro velho e pútrido, que imediatamente provocou uma desconfortável sensação de queimação nas narinas e ardia nos pulmões do caçador ao inspirar. A escuridão dominava inteiramente o lugar e o reivindicava para si, apoderando-se e espalhando-se em cada corredor, escada e sala por onde eles passavam. Certamente seria impossível para qualquer pessoa enxergar um palmo à frente do nariz dentro dessa escuridão, fato esse que provavelmente traria uma infinidade de problemas a quem quer que seja louco o suficiente para entrar ali, porém, felizmente, isso não era nenhum problema para o caçador, uma vez que a sua visão funcionava perfeitamente no escuro e a loucura fazia parte da sua vida desde o momento em que ele decidiu caçar e exterminar todas as criaturas que espalham o caos e sofrimento com os seus atos de barbárie e pura maldade pelo mundo.

Um fato que chamou a sua atenção foi que ao longo de todo o percurso, nenhum ser vivo foi visto em qualquer canto por onde eles passaram, apesar dos gritos de sofrimento e chamados lamuriosos que o caçador fora capaz de escutar ecoando por todas as direções dentro do castelo. Provavelmente esse local é repleto de salas ocultas, onde eles torturam e corrompem as pobres almas que, por uma infelicidade do destino ou por alguma maneira que eu ainda desconheço, encontram-se sob o domínio de Gorvas. Isso não pode continuar assim! O caçador pensou e o sentimento de ódio cresceu ainda mais em seu peito. Ele já estava prestes a decepar a cabeça do demônio de olhos amarelos quando Alkhor parou subitamente em frente a uma enorme porta de madeira envelhecida e toda esburacada e falou:

— Chegamos, espectro — Alkhor se afastou um pouco para dar passagem ao caçador, apontou para a porta e continuou: — Entre! Meu mestre o aguarda lá dentro.

O caçador estancou e encarou o demônio por alguns segundos, ponderando se ele deveria perguntar o motivo dele estar parado olhando para a sua cara ou se deveria apenas simplificar as coisas e cortar logo a cabeça horrível da besta a sua frente. Por mais que a sua vontade fosse de agir, a razão falou mais alto e o caçador perguntou:

— Você não vai entrar, demônio?

— Ainda preciso cuidar de alguns assuntos pendentes — Alkhor sorriu maliciosamente —, mas, fique tranquilo, me juntarei a vocês muito em breve.

Demônio maldito! O caçador pensou antes de deixá-lo para trás. Ele cruzou a enorme porta de madeira a caminhou por quase um minuto por mais um nefasto corredor, até chegar a um salão amplo e, para a sua surpresa, muito bem iluminado por uma grande variedade de velas e castiçais pendurados em diversos pontos pelas paredes.

Ao contrário do que o caçador havia visto até o momento, o local em si era muito diferente do restante do castelo. Se antes tudo se resumia a fedor, escombros e ruínas, o salão era exatamente o oposto de tudo isso. O cheiro era agradável e exalava um adocicado aroma de flores e mel. Diversas tapeçarias se encontravam dispostas nas paredes e pilastras, muito bem cuidadas por sinal, junto com outras ornamentações nobres e igualmente delicadas. O chão estava extremamente limpo e em partes era coberto por um estrondoso tapete carmesim aveludado, que iniciava na entrada do salão e terminava próximo a uma espécie de trono de pedra polida e cravejado de jóias, onde Gorvas se encontrava de pé, conversando com uma pessoa que o caçador desconhecia.

Assim que o caçador pisou no tapete, Gorvas e o desconhecido pareceram perceber a sua presença e pararam de conversar. O silêncio fez o espectro estancar e ele aproveitou esse momento para dar uma examinada melhor no local. Após alguns segundos de escrutinação, ele constatou que o cenário não era nem um pouco animador. Além dele, Gorvas e do desconhecido, o caçador pôde contar mais quatro demônios, cinco vormags e pelo menos mais umas oito presenças ocultas, que ele não fora capaz de distinguir o que seriam. A única coisa que ele sabia ao certo é que elas estavam por ali, atentas e à espreita, prontas para dar o bote caso houvesse a necessidade.

O Caçador MisteriosoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora