Capítulo 7

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O barulho dentro da caverna era terrível e enlouquecedor, principalmente para uma criança de apenas 8 anos de idade. As criaturas gritavam e batiam os dentes sem parar e, para piorar ainda mais a situação da menina, ela não conseguia enxergar sequer um palmo na frente do seu nariz. A escuridão a deixava aterrorizada e seu coração batia tão forte que ela era capaz de escutá-lo pulsando dentro dos seus próprios ouvidos. Sua respiração estava tão ofegante, que seu peito arfava sem parar, para cima e para baixo, num ritmo frenético. Suas minúsculas mãozinhas tremiam demais e tateavam o ar de um lado para o outro, na vã tentativa de alcançar o seu protetor em algum lugar à sua frente.

Arryn sentia-se terrivelmente sozinha e desamparada, nesse momento, apavorada e sem ter a mínima noção do que deveria fazer. A garota queria correr, mas sem enxergar nada à sua frente, ela tinha conhecimento suficiente para saber, apesar da sua pouca idade, que dificilmente acharia um caminho seguro para fora dali. É mais fácil eu virar comida dos monstros do que fugir deste lugar malvado e fedorento, ela falou consigo mesma e logo desistiu da ideia. Também pensou em voltar para o seu esconderijo embaixo dos corpos, mas ela já passara muito tempo lá. A menina estava faminta e sedenta e, mesmo que quisesse seguir em frente com esse plano que havia imaginado, não fazia a mínima ideia por onde começar a procurar, então também deixou esse pensamento de lado e resolveu fazer exatamente do jeito que o homem misterioso havia pedido antes de ser mordido no ombro por aquela criatura nojenta.

Sem nenhuma esperança de conseguir sair da caverna sozinha e muito menos de se esconder novamente, Arryn decidiu que deveria acreditar na palavra do homem misterioso e permaneceu parada, rigorosamente na mesma posição onde se encontrava, a uma distância de pelo menos cinco passos do caçador. Só o que restava agora era torcer para que o homem fosse capaz de matar esses monstros, do mesmo jeito que ele fez com os outros, a pouquíssimo tempo atrás.

Um terrível grito de lamúria reverberou pelas paredes do corredor em todas as direções, até chegar aos imaculados ouvidos da doce menina. Seu pavor foi tão grande ao escutar aquele som bestial oriundo das criaturas, que suas pernas tremeram tanto e de uma tal forma, que ela sequer pôde sentir quando seus joelhos bateram um no outro, repetidamente e sem parar.

Sem forças para lutar contra o medo que dominava o seu coração, a pobre criança levou suas pequeninas mãos aos ouvidos, na doce ilusão de conseguir afastar aquele som horrível e incessante que as criaturas emitiam e, num ato de puro desespero, ela sentou-se com os olhos fechados no chão, afundou a cabeça no meio de suas pernas e, entre soluços e fungadas, desandou a chorar copiosamente.

Por um momento, tudo ao redor de Arryn parou. A menina já não chorava e nem fungava mais. As pernas pararam de tremer e agora encontravam-se rígidas como gravetos. Seu coração pulsava num ritmo absurdamente acelerado e o ar queimava ainda mais quando era puxado para dentro do seu peito. Ela não conseguia mais ouvir o som do aço das espadas do caçador e muito menos os gritos horríveis dos monstros como escutara até bem pouco tempo atrás. Tudo à sua volta se encontrava silencioso e tranquilo, nesse momento. Seu desespero de antes deu lugar a uma paz de espírito que não parecia ser desse mundo e a menina encarava, despretensiosamente, a escuridão à sua frente, sem fazer a mínima ideia do que estava acontecendo em sua volta.

A criança sentiu uma calorosa e gostosa sensação de tranquilidade percorrendo todo o seu corpo e irradiando para todos os lados da caverna, reivindicando e se apoderando completamente de tudo que existia no local. Por um momento, Arryn se sentiu leve como uma pena e se lembrou, com uma saudade que chegava a doer dentro do seu peito, de todas as noites passadas na segurança de sua casa, deitada confortavelmente em sua cama macia e quentinha, embrulhada nos seus cobertores de lã limpos e cheirosos, com seu pai contando uma linda e emocionante história de princesa até que ela pegasse no sono.

A lembrança foi tão reconfortante que a menina não queria mais voltar para todo o terror que estava vivendo desde que fora capturada pelas criaturas, algumas noites atrás. Ela se agarrou com todas as forças na memória que tinha de seu pai, esfregando suavemente seus cabelos e beijando carinhosamente a sua testa e ficou parada ali, em paz e sorrindo, tentando alcançar com sua minúscula mãozinha a imagem imaginária de seu pai, porém, a paz e o sorriso perduraram apenas por alguns segundos, até que uma forte sensação de ardência em sua perna esquerda a trouxe de volta para a realidade.

A lembrança se foi e, para sua infelicidade, ela estava novamente na caverna, deitada no chão sujo de lama e sangue ao invés da sua cama macia e cheirosa. Um monstro horrível e nojento olhava para ela com aqueles terríveis olhos vermelhos e com uma das mãos em formas de garras cravadas em algum lugar que a menina não conseguia enxergar. Ela pensou em se levantar para correr, e já estava quase se movimentando para isso, quando uma forte dor, diferente de todas as dores que ela já sentira em algum momento da sua curta vida, subiu pela sua perna e chegou até o fundo da sua barriga. A menina mal teve tempo para gritar quando perdeu os sentidos e desmaiou, deixando o seu corpo e sua carne à mercê daqueles monstros horrorosos e famintos, sem fazer a mínima ideia se algum dia chegaria a abrir os olhos outra vez.

O Caçador MisteriosoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora