Capítulo 24

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Algumas horas depois de um merecido e revigorante sono, Adimus despertou, ainda um pouco sonolento, e olhou com preocupação, de um lado para o outro, à procura da pequena Arryn. Para a sua felicidade, ele logo percebeu que a menina permanecia ao seu lado, ainda mais aninhada ao seu corpo, desfrutando de um sono profundo e aparentemente bem tranquilo, e foi então que ele relaxou. Acho que há um bom tempo ela não dorme assim, em paz e sem se preocupar com nada, o gigante pensou, enquanto afagava os cabelos sujos e desgrenhados da menina com a sua enorme e calejada mão.

Mais tranquilo em saber que a menina permanecia segura ao seu lado, Adimus levantou-se lentamente. Com movimentos suaves para não acordar a criança, ele retirou a sua enorme capa azulada e a usou para cobrir a pequena Arryn, que mesmo com toda a movimentação, continuava dormindo profundamente. De pé, encarou o céu por alguns instantes e, a julgar pela sua experiência, ele supôs ter no máximo mais umas duas horas de luz, antes de cair a noite. Com as energias revigoradas e com uma disposição entusiasmante, o gigante adentrou um pouco mais nas matas altas da floresta, a fim de colher algumas frutas para a menina comer, pois imaginou que ela estaria com a barriga roncando e morta de fome ao acordar.

O pensamento de Adimus não poderia estar mais correto e quando ele voltou para o acampamento improvisado, a menina já encontrava-se acordada e com um olhar assustado em sua face. Seu semblante abrandou-se no mesmo instante que ela viu o gigante se aproximando. Ao notar o que ele trazia em seus braços, um enorme sorriso de felicidade brotou do rosto sujo e inocente da menina, que passara por maus bocados até chegar aqui, e que finalmente, depois de tanto tempo, tinha algo pelo que sorrir.

Adimus entregou uma parte dos alimentos para a menina e logo tentou iniciar uma prosa, porém, ele foi sumariamente ignorado pela criança, que nesse momento só tinha atenção para a imensa quantidade de frutas dispostas a sua frente, e as devorava com uma ferocidade típica de quem havia ficado muito tempo sem se alimentar. Um pouco resignado, o gigante então tratou de recolher as suas coisas no acampamento e iniciou os preparativos para continuar a viagem até Vila Ernelis, enquanto e pequena Arryn terminava de comer.

Ao contrário do que Adimus vislumbrou inicialmente, a situação em que se encontravam no momento estava, de uma certa forma, sob o seu controle. Ele havia deixado para trás as criaturas que o perseguiam antes mesmo da última noite chegar ao fim, e quando a luz pálida do dia se apresentou, ele aproveitou para continuar se movimentando, e com isso, aumentar ainda mais a distância entre eles e seus perseguidores. Por isso, assim que a menina terminou de comer, eles iniciaram uma caminhada leve, despreocupada e até mesmo divertida, na qual puderam se conhecer e se aproximar um pouco mais, além conversar bastante, é claro. A criança era curiosa e muito falante, durante algumas horas, ela não parou de fazer perguntas sobre o gigante, sobre o lugar para onde estavam indo e principalmente sobre o caçador.

Com a chegada da noite, as conversas entre eles cessaram e a caminhada leve deu lugar a passos largos e acelerados, pois o gigante sabia que com a escuridão, a floresta se tornaria novamente um lugar vil e traiçoeiro, onde o perigo poderia dar de cara com eles a qualquer momento e em qualquer lugar. Obviamente que o conhecimento do terreno era uma vantagem para ele, e Adimus tirou proveito disso para se manter praticamente invisível durante toda a noite, e sem maiores percalços, assim que amanheceu, ele alcançou uma trilha muito antiga que eles usavam para cortar caminho por dentro da floresta. Essa trilha vai nos permitir cortar uma boa parte do percurso e nos poupar quase um dia inteiro de viagem. Pelos meus cálculos, mesmo eventualmente parando para descansar, vamos chegar à Vila Ernelis antes mesmo do jantar, o que seria de muito bom agrado, o gigante pensou e deixou escapar um fino sorriso de tranquilidade.

Aproveitando-se da luz do dia e da familiaridade que ele tinha do lugar, e principalmente depois de ouvir a menina reclamar algumas vezes de uma ardência no peito, que ele julgou ser devido ao cansaço, o gigante resolveu se afastar um pouco da trilha para fazer uma pausa na caminhada e descansar.

O Caçador MisteriosoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora