Doce sacrifício
Todos os assuntos da sala já haviam se misturado, enquanto eles comiam e ninguém pareceu se importar com o toque do telefone celular que estava sobre uma mesinha, perto de onde Cathy e Eros estavam, até que ela pegou o aparelho, desagradada, a pensar que sua mãe havia esquecido de destilar a sua indiferença em mais algum comentário sobre seu trabalho.
Não reconheceu o número, no entanto, percebendo somente que devia ser um número fixo da cidade, devido ao prefixo. Pensou em não atender, mas podia ser um informante, afinal. E ela não podia perder a oportunidade de dar notícia, nem num dia como aquele.
___ Cathy Batista, com quem eu falo? – não pôde ouvir a resposta, apenas muitos ruídos altos – Alô? – aumentou o tom de voz, tapando o outro ouvido para as conversas na sala.
___ Catharina...
Ao ouvir aquela voz abafada, ela sentiu o coração disparar e não teve dúvidas, desligou o aparelho em seguida.
Levantando-se imediatamente, ela caminhou até o balcão onde estavam dispostas as pizzas, rezando para que ninguém a interpelasse. Sentia algo ferir-lhe o coração, pois aquela voz trazia consigo lembranças doloridas, e mesmo fazendo de tudo para disfarçar o turbilhão que a invadia, sua aparência desinteressada não foi suficiente para despistar Agnes, que a seguiu com os olhos.
Tomando um grande gole de cerveja, ela sentia o líquido descer como que rasgando sua garganta, sem conseguir prestar atenção no que os outros conversavam, tão empolgados.
Por pior que a ligação estivesse, ela ouviu, sentiu: só podia ser um pesadelo, do qual desejou com todas as forças, acordar.
___ É uma pena que depois de todo o trabalho que o Ben teve para organizar a festa surpresa do Carter amanhã, ele foi escalado pra um trabalho importante e viajou sem data para voltar! — Dre começou, voltando-se para a amiga — Então, já temos um a menos na nossa banda, hein? Vê se não vai dar para trás também!
___ Dar para trás no quê? — Cathy perguntou, parecendo muito distraída.
___ Ela tá viajando... — riu — Isso tudo é efeito do chá com o deus?
___ Não vamos voltar nesse assunto hoje, por caridade!!! — a reclamação fez todos rirem e ela tratou de tentar esquecer que seu passado estava tentando alcançá-la — A festa do Carter, claro! Pois, saiba que eu não esqueci e jamais pularia fora de qualquer coisa pra homenagear meu antigo chefinho! E outra: não é todo dia que se faz trinta aninhos!
___ Vocês têm uma banda? — Crau se interessou.
___ Sim! São três cuecas, eu, o Ben, que é o síndico, o Marquinhos aí e está aqui a nossa cantora! — Dre anunciou.
___ Cantora não, não força, tem gente nova por aqui, podem pensar que você está falando sério!
___ Modéstia sua, quero ver outra jornalista com essa goela! — Dre riu.
___ E que tipo de música vocês tocam? — interessado na conversa, Eros decidiu perguntar.
___ Rock das antigas, muito rock! — Marquinhos respondeu, em meio aos bocados no seu pedaço de pizza.
___ É, somos saudosistas do rock nacional dos anos 80 e 90, poucas coisas novas, mas enfim, tem guitarra, estamos lá! — Cathy completou a explicação do amigo.
___ Eu sempre fui meio fanático pela Legião Urbana, aprendi a tocar violão com as músicas deles. — Eros confessou.
___ Então, está convocado a se juntar a nós, cara! Amanhã, a festa vai rolar até tarde! - Marquinhos finalmente conseguiu se sentir saciado o suficiente para que pudesse dizer uma frase completa, sem ter que se interromper para mais garfadas.
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Desde o Princípio - Livro 1 - Passado no Presente
RomancePode o destino entrelaçar de tal forma três caminhos ao ponto deles se cruzarem, vida após vida, causando intrigas e polêmicas, ambição e gestos abnegados, ciúme e renúncia, amor profundo e ódio enraizado? Quando Eros Vicenzze, movido pela curiosida...