Capítulo 21

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O segundo homem

Já na redação, Cathy permanecia imóvel, diante do computador, lutando contra o desejo de definitivamente confirmar suas suspeitas sobre a soltura de Miguel.

Alguns cliques e com os dados que ela já tinha pesquisado inúmeras vezes, descobriria através do site do Tribunal de Justiça local se ele tinha conseguido a liberdade provisória. Alguns segundos e todos os indícios dos últimos dias — o telefonema, a moto e a silhueta na praia — tudo o que era somente uma suspeita, passaria a ser definitivo.

Então, a afirmação feita anteriormente, num tom tão seguro e falso, seria completamente verdadeira. E o tempo entre o presente e o reencontro começaria a correr numa contagem regressiva angustiante, que lhe roubaria a alegria de viver, sugando-a num vórtice maligno de expectativa e ansiedade.

Expirando lenta e profundamente, ela convenceu-se de que não lhe faria nenhum mal adiar aquela confirmação. Se pudesse pensar que ainda tinha tempo, talvez pudesse começar a considerar a ideia da amiga de não estar sozinha quando o reencontro acontecesse. Talvez pudesse, afinal, existir o tal segundo homem...

"Ótimo, agora estou mesmo querendo acreditar que sair por aí beijando na boca vai me ajudar em alguma coisa!!!", pensou, desanimada. "Catharina Hilário Batista, você é patética, patética, patética!!!"

___ Cathy, você é um gênio!!! — Thomas veio até ela, retirando-lhe de sua "esquizofrenia" para comentar que uma sugestão dada por ela no dia anterior, tinha o ajudado muito em um novo trabalho.

Agradecida — ela realmente adorava ajudar os amigos — ela se voltou para o seu computador quando ele se afastou.

Era incrível como as batalhas mais absurdas eram travadas no interior das pessoas, sem que ninguém mais pudesse suspeitar.

Pensando nisso, ela começou a abrir alguns arquivos, com a mente ainda longe do trabalho. A capa do quinto álbum da Legião Urbana, que estava colocada como papel de parede desktop, fez com que pensasse na noite anterior e logo, a mente trouxe novamente o arrepio sentido quando estava tão próxima de Eros, no carro.

Mais um suspiro. Aquilo era facilmente explicável. Muitos anos de abstinência sexual, ela era humana, afinal. E ele, o deus mitológico do desejo sexual.

Aquele pensamento levou-a a lembrar da irritação que surgiu quando percebeu que Cida estava doida para ser a primeira a "experimentar" o novo vizinho. Maneando a cabeça, Cathy tentou se livrar daquela sensação e fechando os olhos, pousou uma das mãos sobre a testa.

"Êta manhã difícil!"

Ela só podia estar enlouquecendo, essa era a única explicação! Só perdendo a razão a ideia de, não só envolver-se com um "segundo homem", mas envolver-se com Eros, nutrindo qualquer expectativa que não guardasse relação exclusiva com seu desempenho profissional, seria aceitável!

___ Cara, preciso trabalhar... — murmurou, abrindo os olhos — Preciso me concentrar alguma coisa útil antes que a ideia da Linda comece a parecer realmente interessante...

Um sorriso inesperado, no entanto, tomou conta dos lábios de Catharina, logo após aquela tão sensata constatação. E pela mente sabiamente controlada pela razão, emoções tão condenadas como "experimentar" algo novo, penetraram despercebidamente, quase sem querer.

Eros, que havia chegado e acabara de sair do elevador acompanhado por Dre, avistou aquele sorriso e sem suspeitar do que ele significava, deixou-se perder por alguns segundos nos pensamentos causados pela constatação ocular de que seria inevitável criar outras expectativas sobre sua colega de trabalho.

Desde o Princípio - Livro 1 - Passado no PresenteWhere stories live. Discover now