Capítulo 2

235 66 578
                                    

Os motivos ocultos da pesquisa

Vila Velha do Caminho Real, 1 mês atrás

Podia-se ver as pedras, certamente muito antigas, que os ladeavam de ambos os lados por cerca de cinco metros, até que adentrassem um cômodo climatizado, muito diferente da biblioteca, sem janelas, contendo apenas uma mesa de metal e madeira, duas cadeiras confortáveis ao redor e que continha prateleiras cercadas de vidro os todas as paredes. Abrindo uma das gavetas da mesa, ela retirou um par de luvas, esticando-o na direção do convidado.

___ Estão organizados por ordem de antiguidade, da esquerda para a direita. — ela apontou para a primeira prateleira coberta pelo vidro, próxima ao corredor — O Sr. Arthur Domênico, nosso arquivista, é bastante detalhista com o seu trabalho e me fez prometer que recomendaria ao senhor que trate os documentos com a maior cautela e atenção, usando, sempre que possível, as luvas e também, as pinças.

Somente então Eros visualizou o objeto sobre a mesa de metal. Um rápido pensamento de que estava num necrotério lhe cruzou a mente.

___ Certamente que sim. — concordou com um sorriso de lado e uma leve movimentação de cabeça (um de seus melhores combos sedutores, ele bem sabia), voltando seus olhos agudos e atenciosos para a acompanhante.

Dessa vez a mulher parecia finalmente tê-lo enxergado, pois deu uma leve engasgada com a respiração (nada muito chamativo, claro) e esticou, com mãos trêmulas, uma sineta que estava em sua outra mão, deste que vieram da biblioteca.

___ Qualquer dúvida, é só tocar. — recomeçou empostando a voz para livrar-se de um pigarro certamente induzido pela timidez.

___ Muito obrigado Emengarda.

Eros apanhou o objeto sentindo-se um bastardo provocador: seu melhor amigo, Cráudio Chaves (sim, escrito errado mesmo, longa história!) que depois de se tornar um estilista famoso só respondia pela sua persona alternativa "Crau", não estava errado quando dizia que ele estava acostumado a ter tudo o que queria usando somente sua aparência e charme de canastrão italiano!

Ainda, sempre e em todas as oportunidades, tratava de terminar o discurso maldizendo o universo pelo fato de que Eros Vicenzze não tinha só uma aparência atraente, mas uma maldita conta bancária de único herdeiro também! Tudo acompanhado, claro, dos trejeitos engraçados que faziam de Crau a maior figura que Eros tinha o prazer de conviver.

___ Vou preparar um refresco para os senhores e retornarei em breve.

___ Que singela gentileza! — não conteve o riso quando ela tremeu os lábios, como quem queria conter-se e não estragar a fachada de criada alemã rígida com qualquer demonstração que excedesse o tratamento gélido, mas conseguiu se conter e deu-lhe as costas, apressada.

Com um gesto negativo de cabeça, e repreendendo-se mentalmente por não resistido à provocação com a pobre mulher que só queria fazer o seu trabalho em paz, ele voltou-se para as estantes de vidro e seus milhares de documentos.

Período colonial, será que eles vieram com a Corte? Existiriam famílias italianas tão entranhadas na Corte Portuguesa que teriam vindo para a América junto a Dom João VI? Ou será que chegaram depois, aproveitando-se da oportunidade para expandir aqui seus negócios?

Cheio desses pensamentos que mais tarde o comprovaram o quão pouco ele ainda sabia sobre a história de seu próprio país (sim, filho de italianos, mas nascido no Brasil). Eros começou suas pesquisas, mais certo do que nunca que estar ali era a melhor coisa que fizera nos últimos tempos.

Desde o Princípio - Livro 1 - Passado no PresenteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora