Capítulo 22

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Improviso

Dada a hora de partir para a fatídica entrevista do dia, Cathy deixou, sob conselhos apaziguadores, a sala do seu editor-chefe e saiu a procura de Eros, que encontrou na copa, cercado de agrados e gentilezas pela frente feminina da revista.

___ Que galinhas... — murmurou, pigarreando alto, para chamar a atenção.

Ao vê-la, Eros se sentiu muito aliviado.

___ Com licença, meninas! — pediu, assim que elas abriram o círculo que tinham formado em volta dele, para se voltar para a jornalista, todas insatisfeitas — Me perdoem a interrupção, mas, estamos aqui para trabalhar, afinal!

Todas, inclusive Mel, riram, como que achando graça da brincadeira de Cathy, mas, intimamente, a odiaram. Sabendo exatamente a reação que sua brincadeira tinha causado, ela fez um sinal de mão para que ele a seguisse e vendo-o atendê-la imediatamente, saiu na direção do elevador, sentindo-se muito vitoriosa.

Logo que a porta do elevador se fechou, teve que comentar:

___ Cuidado com essa mulherada aqui da redação, hein? Elas não perdoam ninguém! — disparou, vendo-o sorrir timidamente.

___ Acho que nunca fui tão bem recebido numa revista antes! — ele comentou, fazendo um gesto negativo de cabeça, com um sorriso inconformado.

___ Algo entre as mulheres de Baía dos Santos e excesso de receptividade, você logo se acostuma! — ela brincou, não podia deixar aquela passar — Ah, e claro, tratando-se de redações, devemos nos lembrar do que disse o nosso editor: antes elas não eram tomadas por mulheres!

Cathy se perguntava se Eros seria do tipo que se aproveitaria daquela situação para "varrer" toda a redação, como muitos por ali já haviam feito antes dele. E a julgar pela forma como as mulheres derretiam-se em agrados e elogios para ele, quem poderia julgá-lo? Cada um era livre para fazer o que bem entendesse!

Eros, por sua vez, sequer pensava no assédio, aquilo não o interessava sob nenhum ponto. Tinha todas as energias voltadas para a mulher que agora estava ao seu lado.

Quando ele abriu a caminhonete com o alarme, fez um sinal com a chave, perguntando a ela se queria dirigir.

___ Não, eu seria um perigo com um carro desse tamanho! — recusou com um sorriso — Vou te dando as direções, e aproveito pra responder umas mensagens no caminho.

Seguiram para o quartel general da Fórmula, ouvindo o rádio, e Cathy parecia concentrada em digitar rapidamente no celular, por isso ele se manteve em silêncio.

Quando viu que uma de suas fontes se esquivou novamente em lhe contar onde estava sua testemunha contra a delegada negligente e os policiais civis que faziam as vítimas se sentirem pior que o criminosos, ela suspirou, recostando-se no banco.

___ Sentiu falta desse trânsito, quando estava lá em Vila Velha do Caminho Real? — quis saber, querendo desanuviar a mente.

Ele ficou contente — não gostava de ficar em silêncio do lado dela, tinha medo de querer começar uma conversa e dizer algo ridículo, por nervosismo.

___ Eu quase nem dirigia! Morava ao lado do trabalho, e só pegava o carro quando ia transportar a carga da fazenda para adega. — comentou, pensando que, sim, podia dizer que aquela fase da sua vida tinha finalmente acabado.

___ Sempre tive vontade de conhecer aquela cidade! Acho absurdo viver tão perto de um lugar e nunca ter ido até lá! Me faz ter a sensação de que eu não tenho tempo para fazer as coisas que eu gosto... — ela riu, balançando a cabeça — Desculpa! Por que eu tendo a divagar quando estou conversando com você?

Desde o Princípio - Livro 1 - Passado no PresenteWhere stories live. Discover now