Capítulo 11

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As almas que se reencontram

Às duas horas Eros entrava na sala de redação, sentindo um frio no estômago. Parecia um adolescente, em busca de seu primeiro emprego, e aquele nervosismo primário o deixava ainda mais vulnerável.

A rotina dos jornalistas continuava, e parecia que ninguém notara a sua presença, até Nes vir em sua direção.

___ Oi. — se aproximou — Posso ajudar?

___ Preciso achar o Martim Ribeiro. — ele precisou abaixar significavelmente o olhar para encontrá-la, tamanha a diferença de altura.

___ No aquário! — indicou as portas de vidro e sorriu – Você deve ser o novo fotógrafo.

___ Eros Vicenzze.

___ Agnes Andrade, muito prazer! — apertou a mão que ele estendia, sentindo as boas vibrações que vinham dele, apesar do nervosismo que não conseguia disfarçar, pelo menos aos olhos de lince da mulher clara e baixinha a sua frente.

___ Eros! — Martim empurrou uma parte da dita porta de vidro, vendo-o de longe — Esperava por você! — se aproximou — Vejo que já conheceu a Nes.

___ Estava exatamente me mostrando como te encontrar. — ele abraçou o antigo conhecido, dando-lhe um tapinha nas costas.

___ Finalmente eu peguei você! Vamos para minha sala?

Ia saindo, quando voltou-se novamente para Nes:

___ Pode achar a Cathy e o Dre pra mim?

Atrapalhada, Cathy olhou para o relógio que marcava quase três horas. Olhando-se no espelho do banheiro, ela estudou a saia colorida que vestia, sua camiseta preta e justa, já suada, e o tênis sujo de barro, tudo isso por ter passado as duas últimas horas andando a pé numa favela para lá de íngreme, a procura de uma mulher, que havia ligado com informações interessantes sobre a sua tão esperada matéria sobre o descaso das autoridades competentes com violência doméstica.

___ Que horror! — sussurrou, puxando os cabelos frisados, em vão.

Lembrando-se do salão elegantíssimo da casa de chá Tifany's, ela riu, imaginando a reação que causaria se adentrasse o local com aqueles trajes. Pensou em ir para casa se arrumar melhor, e de imediato, sua mente tratou de deixar bem claro que aquilo não era por Bento Ferrari, e sim, devido ao lugar.

Deixando o banheiro coletivo, foi para sua mesa e Nes veio encontrá-la:

___ O Martim está atrás você, há quase uma hora!

___ E o Dre nem pra cobrir a minha?!? — reclamou, deixando sua bolsa sobre a cadeira e imaginando se ele não estaria castigando-a por saber que ela havia ido até a favela sozinha, a procura da fonte.

___ Querida, o Dre já entrou e saiu da sala dele um milhão de vezes!

___ Se eles estão de conluio para tirar sarro da minha cara, por causa daquele maldito buquê, juro por Deus...

Nes imaginou que a pouparia de um possível constrangimento se avisasse que Martim não estava sozinho, mas resolveu se calar. Não era só a sua vontade de rir da situação vexatória da amiga que a impedira, porém. Era seu sexto sentido lhe sussurrava algo, que ela ainda não conseguia entender com clareza.

___ Você só pode estar fazendo isso pra me irritar! — Cathy escancarou a porta, como um furacão — Eu não vou ficar com o Ferrari! Será que eu tô parecendo assim tão necessitada de um... – ela parou de súbito, ao ver, finalmente, que ele não estava só.

Desde o Princípio - Livro 1 - Passado no PresenteWhere stories live. Discover now