Harry

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Não sei como fui capaz de chegar a esse ponto. Não sei quando deixe-me transformar na pessoa que hoje olho no espelho. O que antes era um mar de rosas, se transformara em um pesadelo.

Lembro-me das noites que fiquei acordado com a pequena Darcy deitada em meu ombro, sentindo sua respiração quase que desesperada atrás do pai, e eu não estava diferente. Pensei que fosse apenas uma fase do casamento, assim como quando Louis ainda estava na faculdade, mas não foi.

Eu deveria entender como marido. Era o seu emprego, mesmo que eu não gostasse que ele ficasse até tarde tocando em bares, era o que nos dava sustento, mesmo que ele tivesse uma pequena fortuna guardada. Darcy estava cada vez mais necessitada dos pais. Passei a levá-la na galeria, parecia acalmá-la, mas ela era tão pequenina e curiosa que não conseguia evitar mexer nas coisas que via. Isso tornou-se um problema.

Eu não podia mais deixá-la em casa com a babá. Então eu deixei a galeria. Passei a dedicar o meu tempo a ela. Pensei que assim talvez eu e Louis iríamos nos aproximar novamente. Acreditei que aquela chama que tínhamos não havia se esfriado. Eu estava enganado.

Eu o esperava por horas, e quando ele chegava mal conseguia me olhar nos olhos. Ele nunca estava presente, nunca disposto. Não sei quando foi que chegamos a isso que somos hoje.

Pensei até que ele poderia me trair. Enlouqueci. Vasculhei seus e-mails, celular e não me orgulho de quem me tornei. Mas eu precisava saber se ele ainda continuava aqui por mim, se ele ainda sentia o mesmo.

Quando mais eu vasculhava, mais eu descobria que muitas das vezes que ele dizia trabalhar, ele não fazia isso. Uma dor estava em meu coração. Eu confiei nele quando disse que me amava. Confiei quando disse que passaria o resto dos seus dias por nós. Ele mentiu. Mentiu esse tempo todo.

Darcy estava dormindo quietinha no meu peito. As pequenas mãozinhas apertavam minha camiseta e eu apenas queria cuidar dela. Olhei para o canto do quarto onde ficava o guarda roupa e pensei em colocar tudo em uma mala e ir embora. Pensei em deixá-lo. Não poderia deixá-la crescer na merda de vida que estávamos vivendo.

Eu estou cansado. Não quero mais gritar, não quero mais brigar com Louis. Não importa o que eu diga, não importa o quanto eu esteja quebrado, ele nunca parece se importar. Honestamente, queria reviver os nossos primeiros anos de casamento.

Éramos felizes. Louis parecia ainda mais carinhoso cada dia que se passasse. Totalmente dedicando-se a família. Eu sinto falta dos seus beijos calorosos, ou da forma que o seu abraço me dava proteção.

Não sei se posso continuar nessa casa fria me sentindo sozinho, incompleto.

Andei até o pequeno quarto da pequena e a coloquei deitada no berço. Ela dormia feito um anjo, e de fato ela era um. O anjo da minha vida. A analisei dormir por mais alguns minutos. Eu quero poder dá-la o melhor. Louis está explosivo, está diferente. Não age feito pai e marido. Não posso deixá-la crescer com essa imagem do pai.

Eu vejo o medo em seus pequenos olhinhos quando o vê. Consigo perceber a forma que ela se encolhe em meu colo, como se ele fosse um estranho perambulando pela nossa casa. E ele era.

Liguei a babá eletrônica e sai do cômodo, andando lentamente pelo corredor frio e escuro, até finalmente chegar em nosso quarto. O cheiro dele não toma mais conta do ambiente. Afinal das contas, não consigo me lembrar qual fora a última vez que ele dormira ao meu lado.

Olhei mais uma vez para o guarda-roupas. Minha mente gritava para recolher todas as minhas coisas e de Darcy e partir. Sem nenhum aviso, porque eu sei que se ele estiver aqui, vai dizer estar arrependido, vai me pedir para ficar. Não consigo olhar nos seus olhos e lhe negar algo. Eu ainda o amo, mesmo depois de tudo.

Merman 2 - l.sOnde as histórias ganham vida. Descobre agora