Capítulo 4

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Uma tempestade estava se aproximando. Harry olhava pela persiana francesa o tempo que formava-se no céu. Ele havia feito planos de passear com a filha, levá-la para conhecer a praia pela primeira vez. Mas pelo jeito, todos os seus planos deverão ser adiados.

Louis ainda dormia aconchegante, e Harry soube naquele momento que poderia observá-lo assim por horas, se não fosse a necessidade do chorinho de Darcy pedir toda a sua atenção.

O cacheado vestiu uma calça moletom rapidamente e fora até a filha, tomando-a em seus braços. A pequena tinha os cachos bagunçados e ainda dormia enquanto chorava. Ele a balançou lentamente em seu colo enquanto cantava uma canção de ninar, que imediatamente acalmou a filha. O que ele não esperava, era que a sua canção fosse capaz de despertar o marido.

— Ouvi-lo cantar, é como escutar as vozes de anjos. — Louis disse, levantando-se lentamente e se sentando na cama, observando as costas largas e nuas de Harry. — Isso tem haver com o fato de você ser... ahn... você sabe, um tritão?

— Talvez essa fosse a nossa maldição. — Harry colocou a filha de volta no berço, assim que ela havia adormecido. — Ou talvez, quando se trata de Darcy, apenas uma salvação.

— Os choros dela tem ficado piores. — Louis levantou-se indo até o berço da filha e a observando dormir. — Nós já tentamos de tudo, e ainda sim ela continua tendo esses pesadelos.

— Estou agradecido por ela ter herdado o seu lado humano. Seria muito perigoso para uma criança especial viver no meio dos humanos. — Harry passou os dedos suavemente pelas bochechas da filha, acariciando-a e a olhando com certa admiração. — Eu não consigo imaginar alguém machucando-a.

— Eu também não. — Louis virou-se para Harry. O moreno levou as mãos até o pescoço do cacheado, fazendo com que ele se virasse e conectasse suas malaquitas em seus cristais — Assim como eu não consigo imaginar alguém machucando à você.

— Às vezes eu penso na minha mãe. Tudo que ela fez por mim e por Gemma, no final não fora para nos ver infeliz. Ela apenas queria nos proteger das pessoas cruéis. — Harry rodeou os braços na cintura do marido, e deixou uma lágrima escorrer pelas suas bochechas. — Hoje eu consigo compreender, porque eu também quero proteger Darcy.

Louis passou um dos polegares na bochecha de Harry, limpando a lágrima repleta de amargura.

— Você sente falta dela, não é?

— Não há um dia sequer que eu não me pergunte onde ela está, ou o que esteja fazendo. Mas há meu pai também. Era um homem de honra, me ensinou todos os valores de nossa família e me ensinou futuramente ser um tritão onde todos se orgulhariam. Infelizmente, eu apenas fui capaz de decepcioná-los.

— E você se arrepende de suas escolhas? — Louis perguntou, com a preocupação e culpa nítida em sua voz.

— Como eu poderia? Eu tenho as melhores coisas que um homem deseja. Você me proporcionou uma família, e só isso é capaz de me tornar um homem completo e satisfeito.

Harry lançou-lhe um sorriso gigantesco, repleto de sinceridade. Era um amor único, e Louis quis jogar-se nos braços do marido e encher toda a sua pele com marquinhas. Mas Darcy retornou a chorar. Dessa vez fora pior, ela se debatia contra o travesseiro, como se estivesse tentando fugir de algo.

Louis e Harry se entreolharam espantados. Eles já presenciaram alguns dos pesadelos da filha, mas nunca nada tão intenso quanto agora. Eles estavam ficando preocupados. A medida que ela crescia, eles eram mais frequentes e piores.

— Querida? — Harry pegou-a no colo, tentando acalmá-la.

A pequena abriu os gigantes olhos malaquitas marejados. A pupila estava dilatada e o terror em sua feição preocupava os homens. Mas aos poucos, quando a imagem do pai focou-se, ela parecia mais calma. Então, ela levou a pequena mãozinha nas bochechas de Harry, como se estivesse tentando um contato físico para ter certeza que tudo que estava presenciando agora era real, e não fruto de um segundo pesadelo que poderia começar a qualquer momento.

Merman 2 - l.sWhere stories live. Discover now