13. Quelqu'un m'a dit

7.6K 632 148
                                    


A presença de Benjamin Elliot Marlowe no saguão dos hóteis Marlowe sempre era um grande evento, notado pelos funcionários curiosos que passavam o dia na recepção.

Ele não era como Aaron, que passava boa parte do seu tempo em um dos escritórios do prédio, ou como James, que praticamente nunca saia de lá. Só ia até o lugar esporadicamente quando realmente precisava, confirmando a posição de visitante que tinha de si mesmo.

Era tão herdeiro daquele lugar quanto Aaron, mas apenas se dava conta disso quando observava as paredes claras do lugar preenchidas por fotos que continham feições conhecidas e pelo quadro com o nome de cada integrante da família inglesa, imortalizada em bronze para os próximos cinquenta anos que viessem.

O dele estava ali, embaixo do de Eva e James, ao lado do de Aaron, colocando-o dentro da família que boa parte das pessoas desejavam estar e dentro de um império que tinha estrutura forte, mas paredes finas como uma folha de papel quando se olhava por dentro.

E bastava um segundo na presença dele e de James para saber o que isso queria dizer.

— Atrasado — a voz de James ressoou por toda a sala assim que Ben passou pela porta de madeira, segurando o notebook e alguns papéis com uma das mãos enquanto a outra balançava ao lado do seu corpo. — Esqueceu suas raízes inglesas?

Travou o maxilar por um segundo, respirando fundo antes de caminhar até a mesa que o pai estava sentado, evitando ficar ao seu lado ou em sua frente. Já era desconfortável o suficiente estar em sua presença, preferia aumentar o quanto pudesse a distância entre eles.

— Dormi demais — Ben respondeu seco, dirigindo o olhar para as outras pessoas que estavam ali. — Eu peço desculpas por tê-los deixado esperando.

Ben mentiu na primeira resposta, mas sabia que não havia questionamento quanto a isso porque ele sempre fora um bom mentiroso. Talvez não quando era pequeno e discutia com Aaron, sempre acabando com a culpa por um vaso quebrado da mãe ou de um troféu caro do pai, mas aquilo tinha sido algo que tinha crescido dentro de si com o passar dos anos.

Desde que tivera que mentir de frente a todos pela primeira vez.

Como ele podia ter dormido demais se não tinha fechado os olhos por um segundo sequer na última noite? Como podia dormir se sua cabeça continuava a pensar na reunião do dia seguinte? Marcada por James e avisada por uma mensagem direta e crua, apenas com o lugar, data e horários selecionados.

James sabia que ele entenderia.

— O que eu perdi?

Ben olhou diretamente para Theo quando falou, vendo o amigo abaixar os olhos para o computador a sua frente, provavelmente com o cronograma da reunião aberto. Sabia que podia se atrasar quanto fosse que Carter o passaria todos os detalhes, provavelmente imitando uma ou duas falas de James, como apenas ele sabia fazer.

— Quase nada, Ben — ele o tranquilizou, negando levemente com a cabeça. — Eu fiz a leitura do seu planejamento para o evento, não houve nenhuma oposição. Nós estamos falando das flores no momento.

— Brancas? — Ben apenas confirmou, vendo James e Aaron assentir em sintonia. — Pensei em orquídeas e rosas. Nós teríamos que ver com uma floricultura se elas combinam juntas, mas é o meu palpite.

— Eu concordo — Aaron murmurou em concordância. — Mas nós podemos ligar para algumas floriculturas sim.

— Mantenham as orquídeas — James falou firme, sem olhar para nenhum dos filhos em específico. — Eram suas favoritas.

Hall of Fame ✅Onde as histórias ganham vida. Descobre agora