XVII - Sempre haverá um novo capítulo

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Se tem uma coisa que a gente aprende sobre a vida ao gravar uma série é, não importa o que aconteça, sempre haverá um novo capítulo. E sim, haveria um novo capítulo na minha vida, em nossas vidas.

E assim os meses foram seguindo, as gravações da quinta temporada estavam quase no final, teríamos férias muito curtas e logo retornaríamos para gravar a sexta temporada e talvez a última em que eu e Sam faríamos como Claire e Jamie. Outlander estava ficando cada vez mais conhecida e chegando em novos países, isso significava cada vez mais pessoas no fandom da série, o que era sempre uma grande alegria para nós.

Fora das telas, eu e Sam nos aproximávamos cada dia mais. Às vezes eu tinha a sensação de que era como se nada tivesse acontecido, como se nunca tivéssemos nos separado e nada tivesse mudado.

Pena que era só uma sensação mesmo. Tudo havia deixado marcas, talvez não tão visíveis, mas havia, e íamos assim escrevendo os novos capítulos da nossa história com o que tínhamos em mãos: um amor intenso, uma amizade linda, um contrato indigesto, uma história no passado e todas as transformações que tínhamos vivido.

Mas entre eu e o Sam era muito difícil haver somente momentos de conversa e diversão. Não era porque a gente precisava do sexo, mas entre nós isso sempre fez parte, era uma linguagem diferente que tínhamos para demonstrar todo o amor, o carinho e a admiração que tínhamos um pelo outro. Era sempre uma outra forma da gente conversar e como era bom. Sempre foi e acredito que sempre seria.

Só que as coisas estavam diferentes. Ele nunca dormia a noite toda na minha casa e no outro dia agia como se nada tivesse acontecido. Claro que sempre com carinho e cuidado, características dele mesmo, mas não haviam perguntas, questionamentos e nem comentários e aquilo estava começando a me intrigar, comecei a pensar se Sam não poderia estar se apaixonando por outra pessoa.

Até nossos amigos mais próximos estavam percebendo e este foi o assunto entre eu e Sophie aquela noite:

- O que está rolando entre vocês? Vejo vocês dois tão próximos novamente, mas ao mesmo tempo tão distantes. - Ela dizia com um semblante de que não nos reconhecia com aquelas atitudes.

- Eu não sei Sophie, sinceramente não tenho a mínima ideia. Achava que conhecia Sam, mas começo a achar que não conheço não. - Falei aliviada por poder dividir isso com alguém.

- Olha mom, vou ser bem sincera, posso? - Sophie perguntou antes de continuar e balancei a cabeça de modo afirmativo.

- Não acho que não conheça Sam, mas já parou para se colocar no lugar dele? Quantas vezes ele tentou se aproximar novamente e nesses momentos você barrou? O afastou usando as desculpas mais esfarrapadas do mundo? Por mais que exista amor, uma hora qualquer um cansa. - Percebi que Sophie escolhia cuidadosamente cada palavra para me dizer aquilo que pensava e ela tinha total razão.

Todas as vezes em que ele se aproximava um pouco mais, eu me afastava. Era um movimento quase inconsciente. Eu amava Sam, mas estaria disposta a passar por tudo novamente? A ter que esconder nosso amor? A viver sempre cuidando o que eu ia falar, como agir? Cada vez que eu fazia esse movimento, Sam também se afastava, respeitando meu espaço e meu tempo.

- Você acha que ele pode ter um outro alguém? - Perguntei sem pensar direito o que fez Sophie dar um pulo da cadeira.

- Não acho mom, não acho que ele tenha, mas também não acho que ele vai ficar assim pra sempre. - Ela disse quando fomos interrompidos por Sam, Richard e David que haviam acabado de chegar.

Levantei para abrir a porta pra eles. Sam me cumprimentou com um beijo na bochecha, estava alegre e falante. Ele amava estar entre amigos, contava histórias, piadas e também conversávamos sobre coisas sérias, mas com a leveza que só Sam tinha.

Comemos, bebemos e rimos bastante, quando Sophie, Richard e David levantaram para ir embora, Sam levantou junto, disse que também precisava ir. Não estava esperando por aquilo, morávamos no mesmo prédio, ele podia ficar mais tempo, não tinha razão para ele ir querer tão cedo, já tinha falado que não tinha nenhum compromisso no outro dia, sendo que nem gravar nós íamos.

De repente me vi sentindo ciúmes. Se era isso que ele queria, ele tinha acabado de conseguir.

- Sam, será que pode ficar mais um pouco? Quero te contar sobre umas ideias que tive para as próximas cenas. - Eu disse mentindo visivelmente.

Sophie levantou adiantando Richard e David a sair com ela nos deixando a sós. Enchendo novamente nossos copos tentando ali encontrar uma maneira de introduzir o assunto, mas não vinha nada na minha mente, então não tive outra alternativa se não ir direto ao ponto:

- Sam, você tem alguém? - Disse sem tomar fôlego.

Ao contrário do que pensei, ele ficou sério olhando para o chão e brincando com o copo, dando apenas uma risadinha no canto da boca. Demorou algum tempo para se levantar e vir para perto de mim. Eu ainda continuava em pé, tensa, segurando meu copo e a garrafa de vinho. Ele retirou os dois da minha mão e me puxou para perto dele e me abraçou sem dizer uma palavra.

Aquilo estava mais me angustiando do que tranquilizando. Ele deve estar querendo me preparar para dar alguma notícia, só pode ser, eu pensava. Mas ele continuava tranquilo e sem a menor pressa de falar.

Depois que ficamos abraçados por alguns minutos e ele fazendo carinho nas minhas costas, se afastou e só então começou:

- Cait! Eu não sei como te falar isso, porque falar isso me requer ir fundo em tudo o que a gente passou e viveu. - Mais uma pausa. - Queria saber onde você estava todo esse tempo que eu não te encontrei antes. Talvez eu tente, mas nunca consiga de fato te explicar o que eu senti no dia em que te vi pela primeira vez naquele teste de química. Sei que já tentei, mas às vezes eu acho que você não entende, nunca entendeu.

Tentei argumentar, mas depois achei melhor deixá-lo terminar, era melhor eu ouvi logo tudo de uma vez.

- Talvez também não tenha entendido o tamanho e a intensidade do amor que nutri por você todos esses anos, da felicidade que senti quando você contou que estava grávida e muito menos do tamanho da minha dor quando terminamos, quando você não quis me ver. Assim como não saiba como me senti naquele trailler quando nos beijamos e muito menos quando dormimos juntos novamente aquele dia aqui no seu apartamento. Eu sabia que era cedo, mas eu queria tanto, mas tanto passar a noite todinha ao seu lado, te beijar, te ver dormir naquelas e nas noites seguintes, mas sempre que eu tentava me aproximar mais você se afastava, e eu entendo, mas não sou um moleque e tudo que tivemos não foi um caso. Sou um homem, eu sei muito bem o que estou fazendo e o que eu quero para minha vida, e eu quero você, só você! Eu não tenho ninguém e se tivesse eu não estaria aqui e estou surpreso que tenha pensado isso de mim. - Ele deu uma risadinha antes de continuar.

- Eu quero você, com todas as minhas forças Cait, mas aprendi até onde consigo ir, eu entendo seu tempo, entendo o que sente, o medo, tudo isso, mas não posso dar mais um passo nisso se você não estiver segurando na minha mão. Não posso dormir aqui com você ou estar mais presente do que estou porque preciso manter o meu equilíbrio.

Lágrimas caíam do meu rosto. Ele não dizia, mas eu sentia que estava perdendo Sam, e ao contrário do que eu havia pensado, isso estava me doendo demais. Ele estava escrevendo as novas páginas da sua história e eu começava a temer demais não estar nelas. 

Quando nasce o amor? - Sam & Cait (Outlander)Where stories live. Discover now