Capítulo 32

1.8K 241 29
                                    

Quando Rosalyn citou "deuses" a impressão que tive foi que todos ao meu redor ouviram, pois imediatamente pararam a luta, e olharam pra nós.

Druella ainda estava estirada no chão, incapaz de se defender. Seria tão fácil acabar com ela nesse estado.

Por outro lado, a ideia de uma punição supostamente divina me agradava.

Mas, se durante todos esses anos ela não foi punida, por que agora?

— Rosalyn, não brinca com isso. Eu preciso matá-la. — falei.

— Eu posso lhe explicar como pode ser feito, a guerra tem que parar. — responde ela.

— Você poderia ter dito sobre a possibilidade de chamar os deuses antes, não acha? — questiono. — Agora você teve essa ideia, e me propõe não matá-la em virtude disso.

— Eu sinto muito por isso, mas eu simplesmente não sabia que os deuses que deram nossos poderes, ainda ficam de olho em nós. Eu sei disso agora, pois ouvi uma voz em minha cabeça. "Parem, e chamem-nos" Aparentava ser uma voz feminina, e só podem ser eles. — diz ela.

Rosalyn para de tentar me explicar, afinal entendo que este não era o momento mais adequado para isso.

— Parem! E me ouçam. — gritou ela na tentativa de chamar atenção de todos ali presentes.

Quando conseguiu a atenção de todos pra si, ela começou a falar;
— Vocês realmente gostam do que está acontecendo? Sério? Olha esses corpos estirados no chão, pessoas tanto da família Snape, quanto das outras. Tem uma forma melhor e mais eficiente de justiça! Os deuses irão puní-los! — ela falou em tom alto.

Dália ainda segurava Quara, junto com alguns integrantes da família Swale.

Naquele momento foi visível o desespero da família Snape, incluindo Quara. Os olhos estavam arregalados, uma expressão clara de desistência.

Em seguida, acuados, eles começaram a se retirar daquele local. Sobrando apenas as três linhagens.

Annabel caminhava em minha direção, seu vestido branco se tornara vermelho, com a quantidade de sangue que ela derramou, e aquela era uma prova disso.

— Vocês arranjaram uma forma de falar com os deuses? — ela perguntou.

— Na verdade, aparentemente uma deusa entrou em contato com Rosalyn, através de conexão psíquica. Ainda acharemos um jeito de fazer com que eles nos ouçam. — respondi.

— Eu tentei, por anos, falar com eles, afinal eles deram nossos poderes com o intuito de promover a paz, de controlar os elementos, e o que a família Snape faz é perturbar a paz, a natureza. Eles matam curandeiros por pura diversão, e não sentem o menor remorso nisso. — contou ela. — Mas no geral, espero que vocês tenham êxito nisso, pois caso contrário, sabemos o que acontecerá.

Ela estava certa. Por anos eles mataram, promoveram o caos e o medo através de suas atitudes impiedosas, e agora, os deuses decidem se envolver nisso.

Por qual razão em específico isso aconteceria?

Talvez tenham se sensibilizado com a morte de Markus, seja lá de onde quer que eles estejam, sei que nos observam.

Espero que eles saibam de nosso sofrimento.

— Iremos pra nosso palácio. Me atualizem de qualquer progresso. — disse Annabel.

Assenti com a cabeça, e voltei para a mansão Swale, junto de Dylan, e a família Clive.

Nossa caminhada foi silenciosa, após todo o caos da guerra, e a grande perda, ninguém tinha nada pra falar, e isso me assustava.

Os passarinhos já não cantarolavam mais, o céu já não era tão azul, e assim como meus olhos, as nuvens faziam o mesmo, apenas chovia, as mesmas lágrimas que caíam de meus olhos de forma pesada, caiam do céu, molhando minha cabeça.

Sobrou apenas a tristeza e a dor da perda de alguém querido. Conforme eu andava, eu lembrava do meu trajeto com ele até aquela floresta iluminada por vagalumes, meu coração parecia que ia saltar.

Pior ainda era saber que Dylan perdeu a chance de ter um irmão, ele sempre foi muito sozinho, e justo quando teve a chance de ter uma família, essa tragédia aconteceu. Ele com certeza saberá que Markus era seu irmão, eu só não sei como darei essa notícia.

Markus também perdeu seu irmão, justo quando ele tinha a chance de conhecê-lo, e eu estraguei tudo.

Ele morreu, sabendo que eu sou a culpada pelo fato dele não conhecer seu irmão.

Eu só queria ficar de joelhos, e pedir para qualquer divindade ouvir meu clamor, e tirar essa dor de meu peito. Essa culpa, esse fardo que levarei comigo pro túmulo.

Enfim chegamos ao palácio.

— Vamos até a biblioteca, e pegar todos os livros que temos sobre divindades, e como chamá-los. — propôs Rosalyn.

Caminhamos até lá, e logo peguei um banquinho para ser capaz de alcançar os livros da parte de cima da prateleira.

Ao pegar um, imediatamente tossi com a quantidade de poeira existente naquele livro, com certeza ele não foi aberto em muito tempo.

Desci do banquinho, em um movimento rápido joguei o livro sob a mesa e assoprei-o. Comecei a folhear e procurar por qualquer coisa envolvendo os deuses, os outros faziam o mesmo, incluindo Dylan.

Havia ilustrações das quatro linhagens, textos e mais textos, mas nada sobre os deuses.

Não desisti, e continuei folheando sem parar, prestando atenção em cada parágrafo.

Após folhear cerca de duzentas e cinquenta páginas, finalmente achei algo, uma citação, acompanhada por uma ilustração onde um mar azul cercava uma mulher, era visível que a água estava presa a ela, pois as águas acompanhavam sua mão, ela olhava para o céu, e sua feição era perfeita. Seria aquela a ilustração de uma deusa?

"Calista, deusa da água, junto aos seus três irmãos, respectivamente deuses dos outros elementos, terra, fogo, e ar. Decidiram que a partir daquele dia, iriam originar linhagens para ajudá-los a controlar a natureza. Niccolo, deus da terra, com todo seu egoísmo e vaidade, lutou com todas as suas forças para que isso não ocorresse, pois para ele, era tolo dar tamanho poder a meros humanos. Sua luta foi em vão, pois seus outros irmãos decidiram que isso aconteceria de uma forma ou de outra, e não havia nada que ele pudesse fazer."

“Calista ao longo dos séculos, manteve contato com a linhagem da água, mas com o tempo ela e seus irmãos se sentiram forçados a cortar tal contato, para evitar com que houvesse amor entre humanos e deuses. Mas quando necessário, Calista entra em contato com um escolhido, para sempre manter a paz e harmonia entre os humanos. A única forma de falar invocar os deuses, é tocando a alma do escolhido. Fazendo com que a deusa ou os deuses sintam na obrigação de intervir."

Tocar a alma, o que significaria isso?

Uma gota no oceanoWhere stories live. Discover now