Capítulo 34

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Sua voz era singela, e parecia canção para nossos ouvidos. A deusa havia se materializado em nossa frente, e o azul do elemento que a compõe brilhava, como se o sol estivesse exclusivamente iluminando-a, e mais nada. Ela roubou toda a luz pra si, pois o céu estava escuro, como se uma tempestade fosse cair.

Ela nos olhava, esperando por uma resposta que não sabíamos como dar. Como ficar normal diante uma divindade?

Apenas a olhávamos, admirando-a. Ela movimentava sua cabeça, esperando nós nos posicionarmos.

Então, o fiz.

— Sim, chamamos. — respondi.

— Imagino que sei o motivo, doce criança. A linhagem da terra. — ela disse.

Surpreende-me que ela já tinha conhecimento disso. E é intrigante o fato dela não intervir antes.

— Eu sei os seus pensamentos. E respondendo a eles, eu não interrompi antes por não poder. Nós, deuses, não podemos ter contato com humanos, somente em circunstâncias extremas, e essa é uma delas. — disse ela.

Nem em meus próprios pensamentos estou segura.

— Quando nasceu uma menina híbrida de água e fogo, não foi uma circunstância extrema? — perguntou Rosalyn.

— Sim, mas nada que poderíamos intervir, afinal, não mataríamos uma bebê inocente, isso vai contra a primeira regra. — ela diz.

Eu já havia ouvido falar nessas regras, mas, não achei que até os deuses levariam isso a sério. As regras estão gravadas em minha mente, e eu lembro todas elas.

"Todo ser, seja místico ou humano, necessita de regras para boa convivência, e paz. Desde o início dos tempos existem regras, e pros seres elementais não é diferente."


Primeira regra: Todo indivíduo tem direito a vida. Seja um adulto, uma criança, ou até mesmo um bebê.
Essa regra vale para todos os seres existentes, incluindo nós mesmos.
Segunda regra: Não ter relações sexuais com seres de poder diferente, isso pode gerar um poder além do conhecido, e além do permitido.
Terceira regra: Não expôr os poderes pra um humano. Todos os poderes existentes estão além da compreensão deles.
Quarta regra: Não trair seu próprio povo. Eles são parte do solo em que você pisa. E traí-los é o mesmo que tirar o próprio chão.
Quinta regra: Os curandeiros não podem curar a menos que haja necessidade real disso. Sua função é manter o equilíbrio dos animais, e curar caçadores feridos em suas batalhas. Os curandeiros ajudaram em inúmeras guerras existentes no mundo humano, incluindo a segunda guerra mundial. Pois são os únicos que tem permissão para sair de Northmoss e manter a fauna e a flora equilibrada.
Sexta regra: Matar apenas em prol da própria sobrevivência. Nesse caso, a primeira regra é anulada.

De fato, eu não fui contra nenhuma regra desde que cheguei a Northmoss, exceto de mostrar os poderes ao Dylan, mas ele é daqui também, e na época eu não sabia de tais regras.

— A família Snape foi contra todas as regras. Exceto a de ter relações sexuais com pessoas de outros poderes, até onde eu sei. — falei.

— Por isso eu fui obrigada a intervir. Não só eu, como os outros deuses, chamarei-os, e veremos a punição cabível. — disse a deusa.

Questionei a mim mesma como seria o encontro deles. Eu sei que ela sabia tudo que eu pensava, mas, é inevitável fazer tal questionamento.

— Não temos um ponto de encontro no céu ou algo assim. Os deuses estão aqui. Cada um presente em um elemento, e quando invocados, eles se materializam, assim como eu. — explicou ela.

É fascinante saber que o Deus do fogo está presente, assim como os outros. Eles sentem, e isso explica muita coisa. Sempre pensei que divindades moravam no céu, ou algo assim.

Enquanto eu pensava, a divindade presente em nossa frente começou a se desfazer, as gotas de água que a formaram, estava pouco a pouco indo pro chão. Eu tinha tanto a perguntar…


Em algum lugar não distante dali…

Calista se materializou, e debruçou-se sob o chão coberto de grama, na intenção de invocar seus irmãos a comparecer.
"Que o elo presente em nosso sangue, faça com que vocês me ouçam. Fogo, ar, terra, mostrem-se"

O chão começou a tremer, numa intensidade jamais vista. O ar se rebelou, de forma com que os ventos fossem capazes de derrubar árvores. O calor naquele lugar começava a ficar insuportável, um sinal claro do que estava por vir.

Todos os Deuses responsáveis pelos elementos se materializariam ali, e decidiriam o futuro de uma linhagem, que por anos se banhou com sangue inocente, ostentou maldade, e espalhou o caos.

Mas, aquilo estava prestes a acabar.

A terra presente naquele chão, aos poucos se rachava, e as pedras começaram a dar origem a um ser, um Deus.

O vento começou a dar sua graça, formando-se um redemoinho poderoso de vento, que aos poucos deu origem a um ser, uma Deusa.

E o tão esperado também se formou. O calor naquele local fez com que arbustos queimassem, e o fogo ali presente se juntou até dar origem a um ser flamejante, com aspecto poderoso, e aparência não tão agradável, um Deus.

Calista observava seus irmãos com um olhar orgulhoso, e eles não hesitaram em sentar-se em meio àquela floresta.

O que estava prestes a acontecer, era raro. Os Deuses se encontraram por um só propósito.

— Já sei o motivo de estarmos aqui. A minha linhagem.  — disse o Deus da terra, Niccolo. — É uma pena ver o que eles se tornaram.

— Isso tudo é um reflexo de sua vaidade e egoísmo, Niccolo. — disse o Deus do fogo, Bertram.

— Não estamos aqui para discutir, tivermos bilhões de anos para isso. — disse a Deusa do ar, Tessele.

— Precisamos chegar a uma só conclusão. Eu tenho uma sugestão, retirar os poderes das principais autoras dos ataques, e banir as mesmas. Isso serviria de exemplo pros outros da família Snape. — disse Calista.

Os Deuses assentiram, um sinal de concordância.

— Algo pode ser feito pelo garoto que morreu. Markus. Mas preciso saber se vocês concordam. Eu senti o sofrimento da garota, Elena, e eu sei que você também sentiu o mesmo, Calista. — disse Bertram.

Uma gota no oceanoWhere stories live. Discover now