Capítulo 35

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Foi visível no olhar de Calista, o tamanho de sua vontade de fazer algo por Markus.

— O garoto está morto, Bertram. Não podemos fazer nada! — disse Calista.

Bertram a encarou como se já soubesse o que dizer, sem muitas expressões faciais, afinal, ele é o fogo materializado.

— O corpo dele ainda não foi enterrado. Nós podemos sim fazer algo, reaver sua alma, e curar suas feridas. — respondeu Bertram.

— Não temos o poder de cura física, Apenas passamos esses poderes pra as pessoas. — disse Tessele.

Os deuses eram seres elementais, e não havia ninguém entre eles com tal poder. Porém, quando os Deuses juntam suas forças, utilizando o poder da natureza, são capazes de originar curandeiros.

Afinal, os curandeiros são uma junção dos quatro elementos da natureza, eles são responsáveis pelo equilíbrio da fauna.

— Óbvio que eu sei disso. Mas eu tenho um plano para isso. — afirmou Bertram.

Seu olhar os transmitia certeza. A confiança de que seria possível trazer alguém de volta à vida.

Elena


Estou extremamente nervosa, andando de um lado pro outro esperando que Calista volte, e nos der uma resposta sobre o que vai ser feito mediante Druella e Quara.
É difícil acreditar que após anos de tanta dor, e injustiça, finalmente a justiça será feita, e principalmente, por Markus.

Deus, como eu queria ter o poder de modificar o que houve com ele, o poder de fazer com que aquela espada de terra se desmanchasse no ar, e chegasse até ele em forma de pó.

Se esse fosse um livro, e eu estivesse escrevendo-o, eu com certeza mudaria isso. Mas, infelizmente, isso tudo é muito real, não há como ser mentira a sensação de seu sangue ainda quente, escorrendo em meu colo enquanto eu o segurava, e chorava diante seu corpo. O sofrimento, a dor, a amargura em meu peito.

Adela deve estar no mundo humano curando animais, é tão ruim saber que seu filho está morto faz dois dias, e ela nem imagina. Não consigo imaginar quão grande será sua dor.

— Ela vai mesmo voltar? — perguntou Dylan.

— Não sei. — respondi.

— Eu preciso conversar com você, Dylan. — falei.

Ele me olhou assustado, seus olhos azuis brilhantes pararam de brilhar por um segundo, afinal, sempre que alguém diz essa frase, nunca é coisa boa. E dessa vez não é diferente, não tenho nada bom para dizer.

Estávamos em frente a toda família, frente ao palácio Swale, então peguei seu braço e puxei-o para dentro. Para o que eu estava prestes a falar, era necessário o mais absoluto silêncio.

Pedi para que ele se acomodasse no sofá, enquanto eu andava pela sala sem parar, um sinal claro de nervosismo.

— Sente-se também, Elena. — ele propôs.

— Não consigo, estou muito nervosa para isso. — afirmei.

— Você está me assustando. — disse ele.

— Não é pra tanto. Dylan, eu não sei como explicar isso, na verdade, nem sei se é possível nesse momento. Mas, vou direto ao ponto. Markus era seu irmão, e eu sinto muito por ter sido a responsável de fazer com que vocês não se conhecessem antes do trágico ocorrido. Por favor, me perdoe. — enquanto eu falava, o soluço do choro tomou conta de mim, e caí aos prantos antes que eu pudesse explicar de forma mais detalhada.

A culpa estava me consumindo pouco a pouco, e eu realmente precisava tirar esse peso do meu peito.

— Tudo que eu sempre quis, foi uma família. Fui adotado por pessoas que não davam a mínima pra mim, Elena. Eu tive a chance de ter uma, e você me tirou isso. Por quê? — ele perguntou, com um olhar furioso.

— Para te proteger. Dylan, essa guerra toda aconteceu porque queriam matar você! Ninguém podia saber que você era realmente o irmão de Markus, e quando eu percebi que eles já sabiam, era tarde demais pra te contar. Tudo aconteceu muito rápido, a guerra, a morte, e só agora eu pude te contar. Eu sinto muito. — eu continuava aos prantos, e Dylan parecia não dar a mínima.

— Sou eu quem sente muito, Elena. — ele disse enquanto se levantava do sofá, e corria em direção à porta, sem olhar para trás.

Aquelas foram as palavras mais duras que eu já havia ouvido, vindo dele. E eu não sabia o que fazer para me redimir.

Na verdade, acho que eu não posso fazer nada.

Saí do palácio, ainda chorando, com o intuito de esperar pela Deusa, e torcer por uma resposta positiva.

Posicionei-me do lado de Dália e Vince, que me olharam curiosos, pois viram claramente o quão eu estava triste. Talvez até sentissem, pois provavelmente a minha dor é tão grande, que seja capaz de fazer com que os outros também sintam.

O tempo passava rapidamente, e eu nem senti. Estava apenas me afogando em meus pensamentos.

Quando me dei conta, a nuvem carregada estava em nossa frente, e a mágica estava começando a acontecer.

Calista novamente estava se materializando em nossa frente, e é tão mágico quanto à primeira vez.

Rapidamente, ela já estava materializada em nossa frente, e logo começou a falar;

— Nós chegamos a um veredicto. Quara e Druella perderão seus poderes, e serão banidas de Northmoss, na mesma medida que serão enviadas pro mundo humano. Há essa hora, Niccolo já deve estar cuidando disso. Logo, vocês poderão tirar a prova.

Ouvir essas palavras pareceu música em minha mente, tudo que eu precisava agora.

— Tem mais. Os Deuses decidiram fazer uma coisa por Markus, mas apenas se vocês concordarem. — disse Calista.

— Claro que concordamos! — afirmei, falando por todos. Pois tenho certeza que as pessoas presentes aqui, concordam.

Meu coração se encheu de esperança, as coisas talvez fossem voltar pro lugar.

— Daremos a Dylan o poder de curar tudo. Até mesmo um ferimento de tanta magnitude quanto o de Markus. — disse Calista.

— Mas ele está morto, não adianta mais. — respondi.

— Não se os Deuses resgatarem sua alma, e colocarem-na de volta em seu corpo. — ela respondeu.

Talvez seja cedo demais para eu me encher de esperanças, mas posso afirmar que nesse momento, eu estou muito feliz.

Uma gota no oceanoWhere stories live. Discover now