Capítulo 40

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Todos a minha volta me encararam, principalmente Dylan. Talvez ele estivesse pensando que essa pessoa é ele.

Mas não, não é ninguém daqui.

Essa decisão doeu em mim. Mas eu terei que fazer isso. Meus pais e meus amigos no mundo humano provavelmente estão procurando por mim, talvez tenham até acionado a polícia sobre. E isso me preocupa.

Eu não tive tempo de parar para pensar nisso com tudo que vem acontecendo, mas agora que está tudo bem, eu quero revê-los. Mas eles perguntarão o motivo do meu sumiço, e eu simplesmente não vou poder dizer o real motivo, e nem inventar uma mentira. Não há razão para uma pessoa sumir por meses, e ninguém conseguir achá-la.

Eu queria explicar tudo, ou melhor, eu queria mostrar tudo. Mas vai contra as regras, e não quero arrastar meus pais, e nem as três meninas para tudo isso.

Eu sinto saudades de minha vida lá, mas depois de tudo isso, não há volta.

O meu lugar é aqui.

— Posso fazer isso, mas quero saber o porquê. — disse Calista.

— Tenho pessoas importantes no mundo humano, e eles devem estar preocupados comigo. Eu vou voltar e revê-los. Mas não quero ficar lá tendo que ouvir perguntas que simplesmente não tem resposta, e depois sumir novamente, é injusto com todos eles, e eu os amo. — afirmei.

— Nobre de sua parte. Eu o farei. Preciso saber apenas quando você quer que elas te esqueçam, estarei te observando, e verei quem são as pessoas. — disse ela.

— Quero que eles se esqueçam de mim daqui a três horas. — pedi.

— Tudo bem, três horas a partir de agora. — disse ela. — Foi bom conhecer vocês, se mantenham forte, pois cada um que está aqui agora é o futuro de Northmoss. Vocês são exatamente o que sempre sintamos para este lugar: a definição de família unida, de cumplicidade, amor e compaixão. Obrigado por tudo.

Os outros dois Deuses ali presentes sorriram, e logo em seguida se esvaíram no ar, sumindo completamente.

— Você vai voltar? — perguntou Dylan.

— Ah, logo agora que eu queria matar a saudade. — afirmou Markus.

— Sim, mas eu voltarei daqui a três horas.  — contei.

— Não demore, filha. Irei começar a organizar hoje mesmo um baile de celebração a paz, dessa vez, a verdadeira paz. — pediu Dália.

— Pode deixar. — Falei enquanto entrei rapidamente para trocar de roupa.

Logo em seguida, saí às pressas e corri por toda Northmoss para chegar o mais rápido possível.

Agora é hora de acertar as contas com o mundo humano.

Chego ao portal, e ao tocar na árvore, ele imediatamente se abre, fazendo com que eu fosse capaz de ver o mundo por de trás dela.

Após passar alguns segundos tomando coragem para colocar o pé no mundo humano, eu finalmente tomei coragem.

Ao entrar, pude sentir o cheiro diferente. O ar daqui não é puro, é poluído. Uma mistura de cheiro de queima de árvore, com lixo espalhado no chão da floresta.

Haviam algumas bandeiras pequenas cravadas no solo, uma trilha delas, e as mesmas terminavam na árvore por onde eu entrei em Northmoss.

Isso só pode ser uma coisa.

Continuei andando, e logo já estava na estrada. O barulho dos carros me incomodava, o mundo humano sem dúvidas não é mais meu lar.

Continuei andando, e dessa vez não peguei táxi ou algo assim, acabei me acostumando a me locomover sem precisar disso. E além do mais, eu voltei para cá apenas com a roupa do corpo. 

As pessoas caminhando, a velocidade e a brutalidade no trânsito, tudo isso me parecia tão alheio a minha realidade.

Eu tive o privilégio de fazer parte de algo maior, e no começo eu não reconheci isso.

Hoje em dia enxergo meus poderes como um dom especial, e não como um fardo, como Druella e Quara quiseram que eu acreditasse.

O caminho até minha casa não leva muito tempo, mas cada passo que eu dava parecia uma eternidade. Aquele lugar realmente me incomodava, tanto barulho, pessoas sempre estressadas, sempre apressadas.

E eu não via hora de voltar a minha calmaria.

Cada passo me remetia a quando essa era a minha realidade. São muitas lembranças boas, que nunca serão apagadas de minha mente.

Eu adiantei os passos, afinal estava correndo contra o tempo. Agora ainda devo ter umas duas horas sobrando.

•••••••

Finalmente eu estava lá. Parada em frente a o lugar que um dia foi minha casa. Meu carro ainda estava lá estacionado, bem no lugar onde o deixei.

Tomei coragem, e bati na porta. Bastou apenas uma batida, para que abrissem.

Minha mãe foi quem abriu. Ela imediatamente me abraçou, sem tempo para falar nada, ela apenas me segurou em seus braços, e se afundou em meu ombro.

Suas lágrimas caíam em minha blusa, fazendo com que cada lágrima daquela pesasse em mim. Pois eu sei, eu sei que é culpa minha.

Ela para o abraço, para olhar em meus olhos.

— Você é real? — Ela toca em meu braço, na intenção de verificar se sou de carne e osso.

— Mãe. Sou eu. — afirmo, retornando ao abraço.

Ficamos por minutos abraçadas, até eu tomar a coragem de parar o abraço, para entrar em casa.

O lugar que eu chamava de casa, hoje me parece indiferente. Me dói que eu tenha perdido tanto a conexão com esse mundo. Me parecia ingrato.

— Anthony! — Minha mãe gritou da forma mais alta que pôde, chamando meu pai.

Ele imediatamente desceu, e ao chegar ao último degrau olhou para mim e viu que eu estava lá.

— Filha? É você mesma? — Ele disse enquanto se aproximava de mim, com lágrimas nos olhos.

— Sim, sou eu. — Corri em direção de seu abraço, e ele mergulhou em meu ombro, assim como minha mãe.

Logo em seguida, parei o abraço e pedi para que sentassem.

— Tenho tantas perguntas, têm policiais atrás de você… — ela gagueja. — Filha, eu te amo. Desculpe-me por não ter te contado antes, é culpa minha. — disse ela.

— Não, mãe. Não é. — afirmo. — É culpa minha. Eu irei te explicar tudo, por favor, avise Mary, Emily, e Olivia que estou aqui. Elas precisam participar dessa conversa.

Não vai fazer mal algum contar tudo a eles, afinal, eles irão esquecer, e isso me dói. Eu não esperava que fosse ser tão doloroso, mas é.

Uma gota no oceanoWo Geschichten leben. Entdecke jetzt