29 - capítulo

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    Freen Sarocha


- Oh, estão todos aqui e você nem me convida, Annie? - Becky disse com as mãos na cintura e fez uma carinha de brava que não engana ninguém.

- Tentei te ligar, mas deu desligado. - Annie se defendeu.

- Eu preciso de um celular novo, esse mais fica desligado do que ligado. - Becky se sentou a mesa junto com todos nós.

- Mama, a senhora vem dizendo isso a meses. - Lexa comentou e eu acabei rindo.

- Vamos comer. - a anfitriã anunciou e o primeiro a ir foi Dylan que levou um tapa na cabeça. - Primeiro as visitas, garoto. - o menino se afastou e logo veio Lexa que também levou um tapa na cabeça. - O que eu falei sobre as vistas serem primeiro?

- Mas eu sou... é, a senhora tem razão. - Lexa se afastou provavelmente por ficar tanto tempo aqui que já é de casa.

- Bebec, por favor. - pedi que ela tomasse a frente.

- Não, não. Fique a vontade Freen, não quero levar um tapa também. - a mulher disse e Annie assentiu dizendo que faria mesmo isso. Eu fui a primeira e fiquei um pouco constrangida com isso. Assim que terminei os dois adolescentes entraram no meu lugar, as mulheres mais elegantes foram logo depois. O suco estava em cima da mesa e eu fiz questão de servir todos. Estou me sentindo totalmente deslocada, ainda mais por saber que a dona da casa onde estou me odeia. Parecia que ninguém se importava com isso na mesa. Como se ninguém nem recordasse de tudo o que eu tinha feito. Analisei a expressão de cada um ao meu redor. Nem um julgamento ou acusação.

- Tá tudo bem, Freen? - Annie perguntou e eu assenti voltando a comer e parando de encarar os quatro. Assim que todos terminaram eu anunciei que tinha que voltar ao hospital.

- Me da uma carona? - Becky perguntou e vi Anahí a olhando desconfiada.

- Claro, filha se comporte e não deixe a Mel destruir nada. Mas tarde venho te buscar. - falei e as três mulheres ficaram me olhando. Dylan se aproximou com seu grande sorriso.

- Eu cuido dela, tia Freen. - passei o braço por cima de seu ombro e percebi que não faria isso por muito tempo, ele já tem minha altura.

- Valeu, garoto. - Annie e Becky observavam sem dizer nada. - Vamos, Bebec. - a mulher assentiu e deu um beijo em Lexa. Abraçou Anahí e elas cochicharam algo uma pra outra. Ela ainda se despediu do Dylan antes de sairmos da casa. - Bebec, a Lexa já fica naqueles dias? - perguntei quando entramos no carro.

- Se ela já menstrua? - perguntou e eu assenti. - Sim, já deve ter um ano. - respondeu, ela me deu o endereço de pra onde ir e eu percebi que era o principal shopping da cidade.

- Por que não me disse? - perguntei já em movimento.

- Você não iria se importar, não me leve a mal. - ela disse e eu percebi que ela realmente tem razão.

- Dylan disse que ela está de TPM, como devo agir com ela? - perguntei e Becky deu uma risadinha.

- Normalmente. - ela disse e eu a indaguei com o olhar assim que paramos no sinal. - Faça como você fazia comigo.

- A gente transava, Becky. - falei e ela gargalhou.

- Eu quero dizer que se ela tiver irritada deixa ela quieta, mas se ela estiver carente seja carinhosa. E a gente não transava em todas as TPMs. - falou e eu arqueei uma sobrancelha. - Tá bom, na maioria. - arqueei mais uma vez. - Você não vai tirar mais nada de mim. - dei de ombros e ela quis falar sobre meu trabalho, até quando estacionei em frente ao shopping. - A gente se vê amanhã? - perguntou já do lado de fora do carro.

- Vou deixar Lexa na escola, mas levo a Mel pra sua casa. - falei e ela assentiu. - Tchau Bebec.

- Tchau Darling. - ela saiu andando graciosamente. Becky ainda parece ter seus vinte anos.

 Fui em direção ao hospital e só tive consultas rotineiras. Até que Dulce entrou no meu consultório depois de bater, já foi estranho ai.

- Podemos conversar? – perguntou e eu estranhei, mas assenti. – Anahí disse que eu tinha que conversar com você e te entender, ou pelo menos tentar. E eu quero te entender hoje, agora. – ela disse e ajeitou sua postura na cadeira. – Eu quero que me explique, Freen. – ela pediu e eu percebi um pouco de suplica ali.

- O que você quer saber, Dulce? – perguntei guardando a caneta prateada que eu tinha em minhas mãos, sabendo que seria uma conversa longa.

- Por que está se aproximando da Lexa? – perguntou e eu bufei, qual a parte dela ser minha filha as pessoas não entendem? – Eu só quero ter certeza que você não vai magoa-la, eu vim desarmada, em paz. Espero que você também esteja assim. –  disse e eu a encarei.

- Quer saber a verdade? – ela assentiu. – Eu percebi o que eu estava perdendo quando você disse que eu podia perder minha filha pra sempre. Eu lembro do que eu senti quando o único parto que eu não participei como médica foi mágico. Os olhos da Becky brilhando, o choro da Lexa por toda a sala, e que eu fui a primeira pessoa a pega-la no colo. Como ela segurou meu dedo com força e parou de chorar assim que me viu. Foi a primeira vez que eu disse pra ela que a amava. – limpei uma lágrima. – Eu apenas percebi o tempo que havia perdido quando você disse que tínhamos poucas chances pra conseguir um novo coração. Dulce, eu percebi que eu tiro o meu e dou pra ela se isso for necessário. Eu sei que você me julga e desconfia, mas eu até dou razão. E agradeço por ter cuidado da minha filha como eu devia ter feito durante toda a vida dela. – deixei a lágrima percorrer todo o meu rosto. – Eu não devia ter ido embora naquela noite Dul, eu devia ter ficado e concertado tudo, meu casamento e ter sido uma boa mãe como Lexa merece de verdade. Eu sei que até pode ter passado muito tempo, mas nunca é tarde demais. Eu amo Lexa da mesma forma de como eu amava assim que vi seus olhos amendoados tão parecidos com os de Becky. Cometi muitos erros, mas ter uma filha foi a melhor coisa que eu podia ter feito. Eu tenho medo de perde-la, mas é exatamente por isso que eu quero aproveitar tudo que eu posso com ela. – levantei e fui até a janela do consultório. – Eu queria ter assistido seus primeiros dentes nascendo, seus primeiros passos, suas primeiras palavras. Eu deveria, mas eu não merecia. Nunca mereci nenhuma das duas. – eu já não enxugava nenhuma das lágrimas, não seria necessário. – Mas eu perdi, eu perdi por culpa minha, de ninguém mais. – soquei a parede ao meu lado. – E agora eu só quero poder ter ela ao meu lado, ser pra ela o que ela merece. Eu só quero ser o que eu deveria ter sido sempre. Não a abracei quando ela ralou o joelho, mas quero abraça-la mesmo que seja com ela querendo correr de mim. Eu só quero ser mãe, mãe da minha Lexa. – assim que virei meu corpo vi Dulce se levantando.

- Eu vou te dar esse voto de confiança. Não a machuque. – falou e eu assenti.

- Eu não vou fazer isso nunca mais. – falei e ela se retirou da minha sala.

 Olhei no relógio de pulso e percebi que meu horário já tinha sido encerrado, estava na hora de ir buscar minha filha e a levar pra minha casa.

My Mistakes - FreenbeckyWhere stories live. Discover now