39 - capítulo

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     Freen Sarocha


- Okay, agora você experimenta o macarrão. – Becky disse e eu encarei a panela de água borbulhante. – Vê se está al dente.

- Al dente? – perguntei tentando entender o que ela ta dizendo. Becky se aproximou e pegou um macarrão com o garfo que anteriormente eu estava segurando, cortou um pequeno pedaço e veio trazendo em direção a minha boca. – Mas não tem molho. – falei e Becky o levou aos meus lábios e eu aceitei. Até que não é tão ruim.

- Tá muito duro? – balancei a cabeça negativamente. – Mole demais? – novamente neguei. – Ótimo, está al dente. – ela disse e eu assenti. – Agora você tira panela do fogo e tire a água quente, vamos fazer o molho agora. – fiz tudo o que ela disse e voltei pra perto do fogão.

- Mãe, as roupas novas ficaram ótimas. – Lexa disse entrando na cozinha. – Vai lá, não quero atrapalhar sua aula. – disse e se sentou a mesa. Becky me passou todas as dicas e eu o fiz com muita atenção, misturei o molho ao macarrão e esperei o próximo passo.

- Pronto, agora vamos jantar. – Becky disse e eu suspirei aliviada. Lexa foi a primeira a se servir, gulosa igual a Becky. Becky foi a segunda e eu a última. Eu disse que as duas são gulosas.

- Nada mal mãe. - Lexa disse com a boca cheia e recebeu um olhar severo de Becky. - Desculpa. - a garota disse depois de engolir tudo.

- Como vai buscar Allan amanhã? Não tem consultas a tarde? - Becky perguntou e eu tive a sensação que sempre seria assim se ainda fossemos casadas.

- Eu pedi pra atendente remarcar todas as consultas pra até duas da tarde. Depois posso ir buscá-lo. - falei e ela assentiu. - Por que não dormem lá em casa depois que o buscarmos, sabe. Ele sempre esteve em um lugar cheio de gente, talvez estranhe se for só nós dois. - falei inventando uma desculpa qualquer.

- Não sei se é uma boa idéia. - Becky disse me olhando desconfiada. - Lexa pode ir.

- Ah mama, vamos. A cama da mãe é ótima. - minha filha disse e eu acabei rindo.

- Vou pensar. - a bela mulher disse e eu tentei disfarçar meu sorriso. - Quem vai esperar os móveis do quarto do Allan? Vão chegar amanhã pela manhã. - falou e eu tentei pensar em alguém. - Eu posso esperar se você quiser. - disse e eu arregalei os olhos.

- Nem pensar, não vou deixar você sozinha com os montadores, não vou mesmo. Vou pedir a Lauren. - anunciei e as duas me encaravam com a sobrancelha arqueada. - Ah, me desculpa. Eu só não quero te atrapalhar. - tentei disfarçar, só não acho que deu certo por que a Lexa estava segurando a risada, e Becky tinha um pequeno sorriso nos lábios.

(...)

Estava esperando a próxima paciente quando meu celular começou a tocar.

- Oi Laur. - falei ao atender.

- Cadê esses montadores idiotas? - olhei no relógio e vi que era quase nove da manhã.

- Ainda é cedo, Laur. Daqui a pouco eles aparecem. - minha amiga bufou. - O que aconteceu entre você e Camila? - a mulher suspirou.

- Ela está dizendo que não ligo pra ela. Que não faço nada pra ajudar em casa, entre outras coisas. E ai depois fica toda carinhosa e carente. - a mulher disse parecendo cansada.

- Duas opções, ou ela tá com tensão pré-menstrual, ou... - pausei.

- Ou o que? - ela perguntou.

- Ou talvez ela está grávida. - a linha congelou. - Lauren? - chamei.

- Grávida? Eu preciso ir pra casa conversar com a minha esposa. - ela disse andando pelo meu apartamento, eu conseguia ouvir seus passos.

- Laur, sossega o rabo ai e espera os montadores, depois você fala com a Camila. - ela rosnou como um cachorro bravo.

- Se eles demorarem demais eu vou embora. Preciso falar com a Camz. - a mulher disse toda nervosa e eu tinha vontade de rir.

- Eles não vão demorar. - ela desligou na minha cara. Voltei a atender as pacientes sabendo que em poucas horas vou buscar meu segundo filho.

(...)

- Freen, relaxa. – Becky disse ao meu lado enquanto eu apertava o volante. Ainda estávamos paradas em frente da casa dela.

- Eu não consigo, okay. Eu tô nervosa. – falei e ela soltou uma risadinha.

- Você está da mesma forma que ficou quando minha bolsa estourou. Tivemos que chamar o vizinho pra nos levar até a maternidade. –  disse e deu uma gargalhada.

- Fala sério mãe, você não conseguia nem dirigir? – Lexa perguntou do banco traseiro. – Mama, conta mais. –  exclamou.

- Okay. – Becky segurou minha mão sobre o volante. – Dirigi, tá tudo bem. –  disse e eu assenti finalmente conseguindo ligar o carro. – Sua mãe não estava conseguindo respirar, demos sorte de ter um saco de papel no porta-luvas, ela estava hiperventilando. – eu só ouvia as risadas das duas. – Ela repetia palavras sem sentindo algum, bebê, respirar, hospital, placenta, gasolina, urso de pelúcia. Entre outras. – Lexa gargalhou alto.

- Eu estava nervosa, ajudei vários partos, mas você ia ser o primeiro que eu não ia fazer, e foi o primeiro que eu chorei. – falei.

- Ninguém gravou isso? Senhora Freen Sarocha chorando no nascimento da filha. Eu preciso ver isso. – Lexa começou a me zoar e só parou assim que parei o carro em frente ao orfanato, respirei fundo tomando coragem pra entrar.

- Vamos entrar. – Freen anunciou. Ela foi a primeira a sair do carro, e eu covardemente, a última. Assim que entramos  nós deparamos com Taylor, que sorriu tímida, ela deu um abraço na Lexa e beijou a bochecha da Becky e só esse movimento fez meu sangue ferver. Quando a mulher veio apertar minha mão, fiz um pouco mais de força. Fomos até a diretoria do lugar e a senhora Mary já nos esperava. Um homem baixinho também estava ali.

- Esse é o doutor Andrew, ele está aqui como testemunha e vai levar os documentos assinados para a juíza da vara da família. - Taylor anunciou e eu assenti, a única folha me foi entregue e eu li rapidamente, só queria levar meu menino pra casa. Peguei a caneta metálica em cima da mesa e assinei meu nome, depois de todos se cumprimentarem o homem baixinho foi embora e a senhora pediu que chamassem Allan. Ficamos fora da sala e eu estava andando de um lado para o outro. Sempre que estamos querendo que a hora passe rápido, ela parece parar. Taylor havia partido, eu prometi pagar seus honorários, mas ela não aceitou, da mesma forma eu lhe mandaria um cheque. Não foi um favor, é o trabalho dela.

- Tá demorando demais. - reclamei bufando. Lexa se aproximou e me parou, ajeitou a gola da minha camisa e beijou meu rosto.

- Se acalma, mãe. - abracei seu corpo pequeno e fiquei ali.

- Eu te amo, filha. - eu fiquei com medo dela achar que eu estava a abandonando novamente, por conta de adotar Allan, mas a cada dia eu percebia como ela tem o coração puro da Becky na época em que a conheci. Olhei pra Becky que tanto amei e não dei o valor necessário. Uma lágrima escapou de meus olhos, mas era acompanhado de um grande sorriso. Ela devolveu com um sorriso envergonhado.

- Mamãe. - eu sabia que não era a voz de Lexa. A menina sorriu pra mim e apontou pra trás com a cabeça.

 Virei pra trás e vi o pequeno garoto com a mochila que havia ganhado nas costas e o rosto envergonhado. Ele parecia tão pequeno agora. Me ajoelhei e abrir os braços, o menino me olhou e correu em minha direção. O abracei fortemente, levantei com ele no colo e abracei Lexa, beijei os dois. A forma de amor mais límpida. Nós três olhamos pra Becky e Allan a chamou pra se juntar a nós no abraço. A mulher ponderou, mas veio, sendo abraçada por Allan pelo pescoço e por Lexa pela cintura. Estávamos de frente uma pra outra e eu me aproximei beijando sua testa. Quando me separei dela, nos olhamos alguns segundos antes de nos apertamos novamente no abraço apertado.

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............... 


Momento lindo, não é? ❤❤❤

My Mistakes - FreenbeckyWhere stories live. Discover now