41 - capítulo

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    Freen Sarocha


Allan estranhou um pouco a comida mexicana, Becky o ajudou e logo o garoto já era fã de carteirinha. Mel roubou um dos meus tacos e Lexa ficou rindo de mim, até que eu roubei um dela. Becky como uma verdadeira dama, diferente de Lexa e eu, que mais brincávamos do que comíamos. Depois do jantar, eu levei o Allan pra tomar um banho. O garoto ficou envergonhado e eu deixei com ele uma toalha e um pijama. Quinze minutos depois ele saiu todo arrumado. O levei pra sala e as duas mulheres já estavam no sofá maior assistindo um filme de romance. Eu nem sabia que Lexa gostava desses filmes. Sentei no sofá menor puxando o Allan para o meu colo.

- O que tá achando da casa nova? – perguntei baixinho pra ele.

- É diferente, eu tava acostumado com todas as crianças, mas é muito melhor, ter uma mãe, uma irmã. É divertido. – ele disse e eu acariciei seus cabelos.

- Quando Lexa nasceu, eu queria ter mais um bebê, queria que fosse menino. Não aconteceu, mas ai você apareceu e foi a melhor coisa. Agora tenho dois filhos. – o menino me abraçou forte e beijou meu rosto. – A Becky vai te matricular em uma escola nova. Acho que você vai gostar.

- Eu não posso nem ter umas férias? – ele perguntou fazendo charme e eu ri.

- Espertinho, nada de férias. Você não pode perder muitas aulas. – o garoto assentiu contragosto. Eu também não gostava muito da escola, até conhecer a Becky. Depois disso eu acordava as seis da manhã todos os dias e ficava ansiosa pra ir pra aula e namorar com ela um pouco antes de irmos pra aula. O filme acabou e eu percebi que Allan já estava dormindo com o rosto encostado no meu ombro. Levantei com cuidado e o levei pra seu quarto, o embrulhei e deixei o abajur ligado pra que se ele acordasse durante a noite conseguisse ver algo e não se assustar. Voltei a sala e vi que Lexa também dormia no colo da Becky. Me aproximei e beijei seu rosto. – Amor, vai dormir na cama. – chamei e ela esticou os braços pra mim pedindo que eu a levasse no colo, acabei rindo e Becky disse que eu estava a mimando demais. A peguei no colo e levei em direção a meu quarto, a embrulhei e fiz um carinho em seu rosto. Voltei a sala e Becky ainda assistia a TV. – Quer que eu te leve para a cama também? – perguntei e depois percebi o duplo sentido, fiquei corada. – Desculpa.

- Freen, nós podemos conversar? – ela perguntou e eu assenti. – Senta aqui do meu lado. –  bateu a mão no espaço vazio na cama e esperou que eu me sentasse ali. – Eu quero que esclarecemos as coisas, você tá diferente agora e eu preciso saber tudo que aconteceu. – falou e eu engoli em seco, era a hora de abrirmos tudo entre nós. – Por favor, Darling. –  me olhou com os olhos marejados e cheios de esperanças.

- O que quer saber, Bebec? – perguntei com a voz embargada, engoli o nó na minha garganta.

- Por que você mudou daquela forma, eu quero entender. – ela perguntou.

- Becky, é difícil pra mim. – falei e ela me olhou rapidamente.

- Pra mim também foi. – ela disse e eu segurei suas mãos.

- Eu tava perdida, Bebec. A gente tava brigando muito e decidimos ter a Lexa. No começo eu sentia que conseguiria. Mas depois que meu pai bateu o carro e eu o vi no hospital em coma, eu já não tinha tanta certeza, eu não sabia se conseguiria. Eu não tinha pra quem pedir conselho, pra esquecer que meu pai podia morrer a qualquer momento eu me afundei no trabalho. – abaixei a cabeça e suspirei. – Até que o pior dia chegou, meu pai não acordaria mais. Era o meu herói ali, morto naquela maca. Eu estava com ele quando a maquina de seus batimentos anunciou que o corpo estava sem vida. Eu segurava a mão dele, contando que Lexa tinha o sorriso parecido com o nosso. Meu pai morreu enquanto eu segurava a mão dele. Os paramédicos me arrancaram da sala, mas eu ouvi eles tentando reanimar meu pai, sem sucesso. Eu fiquei com tanto medo, se o homem mais forte que eu conheci morreu, eu não conseguiria fazer nada, eu só queria poder voltar no tempo e não ligar brigando com ele, apenas por que ele não tinha devolvido meu carro que ele havia pego emprestado. – minhas lágrimas caíram livremente. – Ele saiu da casa dele a noite e um bêbado imbecil matou meu pai. – Becky puxou meu corpo e me abraçou. – Por que eu tinha que ligar pra ele enquanto estava com a cabeça quente, foi minha culpa, Becky. Depois disso eu me vi perdida e sozinha, o sorriso de Lexa me lembrava ele, a nossa casa me lembrava dele, por que ele a escolheu, você me lembrava dele, toda vez que eu te via lembrava dele dizendo que eu tinha feito a melhor escolha. – a apertei em meus braços. – No velório do meu pai foi a última vez que vi minha mãe, ela era a que mais me lembrava dele, eu conseguia ouvir a risada dele apenas ao olhar pra ela. Shay sempre estava na casa dos dois, e ajudava minha mãe, eu não ia mais até aquela casa, eu sentiria o cheiro dele. Eu não queria me torturar mais. Shay me pressionava pra ir visita-la. Eu não queria, não queria. Alguns anos depois, Shay já não tendo tantas condições, com uma filha e gravida de outro, eu tomei a decisão de mandar minha mãe para o asilo, ela não conseguia se cuidar sozinha e eu não queria o fazer. Bom, voltando ao nosso casamento, eu comecei a beber, bebia antes do trabalho e no consultório, durante a noite eu fugia de você pra que não sentisse meu cheiro. Até que eu percebi que estava me tornando no mesmo merda que matou meu pai, que você não precisava mais de mim, se virava sozinha e quando não conseguia chamava Dulce, que me pegou bebendo vodka no hospital. Me afundei no trabalho, ou fingia que estava fazendo isso, as vezes me pegava em lembranças de risadas junto ao homem que sempre me ajudou em tudo, que me apoiou quando eu decidi fazer medicina e vendeu o próprio carro pra poder me ajudar. Me desculpa Becky, me desculpa por favor, eu sei que errei, que devia ter pedido sua ajuda, não podia ter deixado eu me afogar, e eu só queria fugir de tudo que me lembrava dele, que me trazia a mágoa de novo, que me lembrava da minha culpa. – eu já não conseguia parar de soluçar. – Eu só percebi meus erros quando vi que estava perdendo minha filha.

- Shhh, tá tudo bem. – ela disse e pegou meu rosto entre suas mãos. Beijou meu rosto e todas as minhas lágrimas. – Tá tudo bem, a culpa não foi sua, Darling. Nunca mais pensa isso, por favor. – ainda encarava meus olhos com carinho. – Seu pai era um ótimo homem, você se parece tanto com ele. Eu vejo isso em todos os seus gestos. Obrigada, Darling. Obrigada por voltar a ser como ele. Pense só nas coisas boas. – eu já não chorava, eu estava leve. Depois de contar tudo pra ela eu sentia como se estivesse flutuando. Becky me abraçou. – Você podia ter me contado, eu estaria ao seu lado, te ajudaria.

- Eu sei, eu só não conseguia falar. Eu sei que é difícil, mas só preciso do seu perdão. – falei com o rosto no pescoço dela. Becky se deitou devagar no sofá me levando junto dela. Logo eu estava entre as pernas delas e com a cabeça sobre seus seios, sem maldade alguma. Ela acariciava meus cabelos enquanto eu abraçava sua cintura.

- Já passou, Darling. Já passou. – ela dizia baixinho, em meio a um sussurro, eu só ouvi pra estar muito perto dela.

- Você acha que um dia vai conseguir me perdoar? – perguntei receosa por conta da resposta.

- Eu já te perdoei. – ela disse e eu encarei seus olhos.

- Isso quer dizer que... – ela negou com a cabeça.

- Não, nós somos amigas agora, amigas. – falou e eu assenti.

- Eu gosto de ser sua amiga. – falei e ela deu uma leve risada, voltei a deitar em seu colo enquanto a mesma acariciava meus cabelos, não sei quando, mas dormir com ela fazendo seus carinhos e cantando uma musica de ninar em espanhol.

My Mistakes - FreenbeckyWhere stories live. Discover now