Negação

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Charles permaneceu sentado no banco do ônibus em silêncio ainda tentando assimilar os acontecimentos passados. Um zumbido muito alto entrava pelo seu ouvido esquerdo e parecia se extinguir dentro de sua cabeça, além da dor no corpo e nos olhos que o incomodava, pensava sem parar em como aquela loucura toda era possível e se perguntava se aquilo tudo não passara de um delírio ou um sonho grande e interminável.

A paisagem passava pela janela do ônibus enquanto suas mãos tremiam. Estava tão atordoado que passou do ponto onde deveria descer e nem se deu por conta, continuou imóvel. Charles nunca havia se sentido tão estranho em toda sua vida e algo lhe dizia que aquilo tudo estava apenas começando.

— Senhor? – perguntou uma de senhora que estava longe momento antes. – Você está bem?

— Sim – disse ele, sendo libertado do estado de transe. – Obrigado, é meu ponto.

Charles desceu do ônibus sem saber exatamente onde estava, não conhecia a cidade tão bem quanto gostaria. Colocou a mão no bolso a fim de pegar seu celular para checar o mapa, mas o bolso se encontrava vazio. Fez questão de checar os quatro bolsos de sua calça e os quatro de sua jaqueta, não estava lá. O rapaz observou o ônibus sumindo no fim da rua.

— Não acredito que deixei o celular no ônibus – resmungou para si mesmo.

Ele levou as mãos ao rosto e esfregou seus olhos. Sentia-se cansado, com raiva e doente. Ele não tinha ideia do que estava acontecendo, mas tinha certeza de que era injustiça. Seguiu andando sem rumo por um tempo à procura de um telefone público, mas como sempre tudo some quando se mais precisa. O frio já o fazia se arrepender de ter saído sem um casaco a mais de casa e ele estava ficando sem opções, avistou um pequeno pub de cor vermelha e uma porta de vidro. Acima da maçaneta, encostada no vidro descasava uma pequena placa com as inscrições "Aberto" e não perdeu tempo, foi logo entrando.

O lugar até que era agradável, as paredes eram cheias de fotográficas e recortes de jornais. Uma luz alaranjada iluminava quase todo o cômodo, dois homens jogavam sinuca no fim da sala e um casal comia batatas fritas em uma mesa.

— Com licença, teria um telefone que eu pudesse usar? – perguntou Charles para um homem barrigudo no balcão.

— Só pra clientes – o homem não fez questão de desviar os olhos da taça que ele secava com um pano amarelo que um dia já fora branco. Até então, com tudo que tinha acontecido, ele havia esquecido que estava com fome, mas ela voltou com toda força nesse exato momento.

— Um hambúrguer, por favor – Disse Charles. — Não, melhor dois!

O barrigudo com cara de poucos amigos anotou o pedido e não perguntou se ele queria mais alguma coisa. Afastou-se e entrou por uma porta cujo destino era impossível de se saber. Charles olhou ao redor e percebeu que os dois homens jogando sinuca o encaravam, desviou o olhar e começou a ler os recortes de jornais da parede.

"Melhor x-burger da região – 1997"

Fazia mesmo tempo desde que aquele lugar tivera sido bom, agora provavelmente mal rendia para pagar os prejuízos, ou pelo menos era o que parecia. Ele se esqueceu por um momento que havia perdido e tentou pegar seu celular no bolso para fingir que estava fazendo alguma coisa, mas claro, não estava lá. É uma sensação muito estranha estar sendo observado e não saber exatamente o que fazer, será que ele devia encarar de volta?

— Aqui está – disse o homem barrigudo aparecendo pela porta novamente. – Bom apetite.

— Uma garrafa de refrigerante também, por favor.

— Claro. – disse o velho fazendo uma careta.

Charles começou a comer e não tinha certeza se era a fome, mas aquele lanche estava mesmo delicioso. Comeu o primeiro em um piscar de olhos, porém quando chegou no segundo decidiu comer mais devagar para que durasse um pouco mais de tempo. O queijo derretido fazia uma ponte de sua boca até o que restava do x-burger e cada mordida era um prazer. Antes que pudesse perceber havia acabado e ele lambia seus próprios dedos.

As Pontes InvisíveisWhere stories live. Discover now