Insanidade

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Na quarta semana as coisas começaram a mudar. Por favor, note que as medidas de tempo desse relato podem não ser exatas. Meu calendário era um canto na parede onde a cada dia que passava eu fazia uma pequena linha vertical de aproximadamente três centímetros, a noção de tempo em um lugar como aquele é estranha. Haviam dias que eu não tinha certeza se já havia marcado na parede, então posso ou não me enganar sobre quantidade de semanas e dias. Voltando ao que interessa, foi na quarta semana que eu ouvi pela primeira vez as engrenagens daquela porta girando entre si e eu a vi abrindo diante de mim. Juro que naquele momento, se eu tivesse forças eu correria, mas eu estava tão magro e fraco que minha única reação foi admirar a luz e a brisa que entrava por ela. Junto com isso, um homem de jaleco branco entrou por aquela porta.

— Bom dia senhor Black, como se sente? – Perguntou o homem. Permaneci em silêncio tentando de alguma forma decifrar e engolir as coisas que estavam acontecendo. – Eu sou o Doutor William Foster, hoje começa a segunda etapa do seu tratamento – eu não sabia o que esperar daquela segunda etapa, mal tinha sobrevivido à primeira.

— Se levante e venha comigo – disse o homem. Não movi um músculo, para falar a verdade, nem havia tentado, faltava tanto força física quanto força de vontade.

Somente nessa hora vi que junto com ele havia uma bela moça com uniforme de enfermeira. Reconheci aqueles olhos. Ela tinha um cabelo preto levemente ondulado e lábios cor-de-rosa que eram simplesmente lindos. Ela estendeu a mão e eu a segurei, tive que me apoiar um pouco nela até ficar de pé de conseguir manter meu próprio equilíbrio.

— Por favor, siga-me – disse a jovem, tratei de obedece-la.

— Não entendo essa inclinação que os homens tem de aceitar ordens de mulheres. – falou o médico enquanto andávamos pelo corredor. Eu dava passos demorados e a bela moça acompanhava meu ritmo, o Doutor impaciente andava na frente.

— Questão de respeito inconsciente com uma raça superior – disse a moça com um sorriso.

— Com certeza – falou o médico em um tom de ironia que chegou a manchar as paredes de pedra.

— Poderei ir embora? – Perguntei finalmente com a voz falhada, mesmo que eu já soubesse a resposta. O médico olhou para trás e deu uma pequena risada seguida de uma coçada no nariz.

— Você está sob tratamento – disse ele. – Essa é somente uma nova fase, só poderá ir embora quando estiver realmente bem.

— Eu estava ótimo antes de entrar aqui – disse eu.

— Não é o que a ficha diz – falou o médico. – Andando.

Seguimos até o fim do corredor e descemos as escadas de pedra, eu estava descalço e o chão gelado incomodava meus pés, ainda não era o térreo, andamos por mais um corredor até uma sala no fim dele.

— Essa é a sala de recreação e socialização. Agora você virá aqui em dias alternados, um sim, outro não – disse a moça. – Tente criar alguma amizade.

— Como se eu quisesse ser amigo de um monte de loucos – disse baixinho.

Entrei na sala, era um salão enorme com várias mesas e sofás. Haviam cerca de quinze a vinte pessoas naquele lugar. As paredes eram de cor marrom e o chão parecia de pedra. Relógios estavam pendurados para qualquer direção que você olhasse, havia um enorme de pendulo perto da porta. Eles estavam ali, dos mais variados tamanhos e tipos nas paredes. Eu não entendi muito bem o sentindo daquilo, ouvi uma porta se fechar atrás de mim e quando olhei o médico e a moça já haviam sumido de vista. Eu estava ali preso com um bando de gente louca.

Adentrei mais a fundo na sala, a maioria das pessoas pareciam estar ocupados em suas próprias mentes. Minhas pernas já doíam e eu precisava me sentar, andei mais um pouco até uma mesa onde havia um tabuleiro de xadrez pintado, porém sem as peças. Sentei-me à cadeira e me debrucei sobre a mesa, era bom estar em um lugar diferente, fora do quarto, passei a mão pela minha barriga e a senti gritar por qualquer coisa comestível. Olhei ao redor em busca de qualquer coisa para comer, porém não havia nada.

As Pontes InvisíveisWhere stories live. Discover now