Vulnerabilidade

893 58 4
                                    

Charles tentou se levantar sem fazer barulho, ainda faltavam quinze minutos para as seis, o que significava que o despertador ainda não havia tocado. Jennifer dormia serenamente do lado esquerdo da cama. Ele deu passos lentos e abriu o guarda-roupas devagar, o que não o impediu de emitir um rangido agudo. Virou-se rapidamente para cama para te certeza de que Jennifer continuava dormindo, pegou a primeira cueca e calça que viu e saiu pela porta, andou pelo pequeno corredor da casa silenciosa. Perguntou a si mesmo se Chuck e Justine haviam feito as pazes ou se tinham matado um ao outro, entrou no banheiro e trancou a porta. Tinha a mania de trancar mesmo se estivesse sozinho em casa, ligou o chuveiro e ajustou a temperatura. Aquele chuveiro tinha apenas duas temperaturas: "Gelo do Alaska" ou "Fogo do inferno", decidiu que preferia quente. Despiu-se e entrou na agua corrente, estava bem quente e queimou sua pele no começo, porém bastou segundos para ela ficar agradável.

A agua escorria pelo seu corpo e ele fechou os olhos. Agora seus cortes no corpo não doíam tanto, ele sentia uma ponta de esperança no fundo do peito. Talvez essa esperança tivesse nome, e era Jennifer. Charles tinha certeza que se ela não estivesse do seu lado ele não conseguiria, talvez por isso ele quisesse tanto que ela fosse para Paris com ele, ele precisava da força dela quando descobrisse a verdade.

Ele saiu do banho e secou o corpo, vestiu a cueca preta e a calça jeans que havia pego no quarto, aquela calça que havia ganhado de Melanie meses atrás. Só agora percebeu que não pensava mais nela, perguntou a si mesmo se ela se importaria, concluiu que não. Olhou sua imagem desfocada no espelho embaçado por causa do vapor da agua quente, passou a mão na tentativa de limpar e verificar em que grau de feiura seu rosto estava e concluiu que não estava tão ruim. Ele saiu do banheiro e entrou lentamente no quarto, encontrou Jennifer com os olhos abertos e um doce sorriso nos lábios. Seu cabelo laranja estava bagunçado e seus braços tatuados por cima do cobertor.

— Bom dia, dorminhoca — ele deu um enorme sorriso.

— Bom dia C. – disse ela com voz de sono. – Que horas são?

— Seis da manhã.

— Ai – resmungou ela – Por que tão cedo? – Ela colocou o travesseiro sobre o próprio rosto. — É contra minha religião acordar antes do meio dia.

— Sua religião?

— Sou pizzaholic. Acredito no Deus pizza. — os dois riram.

— Vou trabalhar hoje, mas pode ficar aqui, descansa pra mais tarde – disse ele virando-se para o guarda roupas em busca de uma camiseta.

— Charlie – disse Jennifer alerta. – O que significa esses números tatuados na sua nuca?

Charles virou-se e encarou Jennifer, ele tinha muitas tatuagens nos braços: Um navio pirata, um rato de chapéu, um gato em cada braço e algumas palavras que o definiam, além disso, tinha uma tatuagem no peito que dizia "Stairway to Heaven", porém nunca havia feito nenhuma tatuagem na nuca.

— Não tenho tatuagem na nuca — respondeu.

Jennifer engatinhou até a ponta cama, vestia apenas um short preto. Estendeu a mão até sua bolsa no chão e pegou um pequeno um espelho, apontou para que Charles olhasse para o espelho grande no guarda roupas e posicionou o pequeno atrás de sua nuca. Charles pode ler os seguintes números ao contrário "1317".

— Isso não estava ai antes, eu não fiz essa tatuagem – disse ele.

— Com certeza foi nos três dias – concluiu ela.

— Isso está errado.

— Eu sei – disse ela, abraçando-o por trás. – Eu estou com você, certo?

— Obrigado.

— Vai trabalhar – disse ela. – Vou dormir mais um pouco, te vejo a uma da tarde, ok?

As Pontes InvisíveisWhere stories live. Discover now