Medo

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Charles tinha a impressão de que todos na rua o encaravam. Talvez até fosse uma reação normal depois de você possivelmente ter matado alguém, seus dedos tremiam e ele os enfiara no fundo do casaco preto que estava usando. Passou por sua mente que talvez estivesse sujo de sangue, lembrou instantaneamente dos filmes trash que Chuck assistia de madrugada, onde os assassinos matavam suas vitimas e ficavam cobertos de sangue que escorria pelos seus rostos. Um frio subiu sua espinha e ele foi obrigado a parar em frente a uma loja de eletrodomésticos, observou o vidro da vitrine para ver seu próprio reflexo. Nada de sangue, pelo menos isso. Respirou mais aliviado. do outro lado do vidro uma televisão sem som mostrava um ônibus capotado na pista. Ele seguiu andando pela calçada, passou em sua cabeça que se alguém o tocasse agora, saberia do doutor, saberia do acontecido, ele tinha que evitar contato físico com qualquer pessoa a todo custo, aquilo precisava ser um segredo.

As primeiras gotas de chuva começavam a cair em sua cabeça, todo esse tempo morando em Londres e Charles nunca aprendera que sempre precisava levar um guarda-chuva consigo pra onde fosse. Talvez fosse hora de se abrigar em algum lugar antes que a chuva ficasse mais forte e ele tivesse que seguir andando ensopado, entrou no primeiro pub que viu, um lugar chamado Euphoria's Pub. O lugar se revelou muito aconchegante, alguns casais e amigos ocupavam as mesas ao redor do pub, era quente e tocava uma música de fundo relaxante. Charles sentou em uma mesa no balcão e um homem vestindo uma camisa branca e um avental preto veio atendê-lo.

— Bom dia senhor, no que posso ajudar? – O homem tinha um bigode que fazia uma curva para cima de cada lado, era um homem jovem e sorria, usava um chapéu preto e irradiava boas energias.

— Bom dia – cumprimentou Charles. – Uma Wülerberg, por favor.

— Tendo um dia ruim? – Perguntou o homem pegando uma caneca de vidro enorme e transparente.

— Dos piores – chegou a rir. – Talvez o pior da minha vida.

— Todos nós já tivemos dias assim – disse o homem. – Aproposito, eu sou o Isaac.

— Charles — disse. – Mas todos me chamam de Charlie.

— Dias melhores virão, Charlie – dizia Isaac pressionando uma alavanca que enchia o copo de cerveja. – Tome, essa é por conta da casa.

— Obrigado, mas prefiro pagar, não quero que você arrume confusão e seja demitido por causa de um cara triste e estranho.

— Não se preocupe, não vou ser demitido – ele riu. – Sou o dono daqui.

— Poxa, se esse é o caso então, obrigado – disse Charles dando o primeiro gole na cerveja.

— Então, o que lhe aflige? – Perguntou Isaac.

— Ah, tantas coisas, uma mulher, o desemprego, alguns... – ele pensou – Problemas de saúde.

— Olha Charlie, mulheres são complicadas mesmo, eu mesmo tenho uma em casa e não tenho a menor ideia de como lidar com ela, mas se ela vale a pena, lute. Desemprego? Tenho uma vaga aqui pra bartender, se você quiser se aventurar, em questão dos problemas de saúde, não sei exatamente o que te dizer, mas tenha fé em si mesmo, porque tudo é possível.

— Poxa cara, sério mesmo? Eu adoraria trabalhar aqui – sorriu. – Não tenho nenhum currículo aqui.

— Não se preocupe, anote seu telefone aqui – Isaac estendeu um papel com uma caneta – Se quiser levar seu tempo pra resolver seus problemas de saúde, não tem problema, assim que você quiser é só voltar aqui que o emprego é seu, você me parece ser um cara bom.

— Obrigado, você não tem noção de quanta esperança me deu em cinco minutos de conversa – disse anotando o numero de seu telefone.

— O prazer é meu, agora, com licença, vou atender outro cliente, mas sinta-se em casa – Isaac sorriu e foi em direção a um homem careca que se aproximava do balcão.

As Pontes InvisíveisWhere stories live. Discover now