Acasos do Amor

Capítulo 12

Ficamos nos olhando por um momento até que decidi quebrar o gelo:

- Fernando, quero mais uma vez me desculpar pelo episódio de sábado, admito que sou uma workaholic e tive dificuldade em aceitar que outra pessoa pudesse dividir o cargo que ocupo.

- Não precisa se desculpar – ele pega minha mão sobre a mesa e acaricia os meus dedos, eu assustada com seu gesto retiro minha mão – entendo perfeitamente sua posição e talvez pensasse do mesmo modo, mas não quero ser seu inimigo número um por conta disso, quero somar. Eu não vou mentir que sempre tive vontade de trabalhar na B&B e já estava com vontade de voltar para meu país, eles sabiam disso, e prontamente me ofereceram o cargo e eu aceitei.

- Então quer dizer que veio pra ficar de vez ? – Não gostaria de demonstrar minha curiosidade, mas não pude me conter.

- Sim, digamos que deixei alguns assuntos inacabados e devo admitir que chegou a hora de enfrenta-los, adoro novos desafios. – E deu um sorriso de molhar a calcinha.

- Então somos dois, batalhei para chegar onde estou e não é qualquer coisa que me assusta. – Digo firme.

- Que bom que se tornou uma mulher decidida Paloma, mas me diga o que poderia te assustar ? – Ele ergue uma sobrancelha.

Você, é o que eu tenho vontade de dizer. Olho no fundo dos seus olhos e percebo que é como se eles quisessem transmitir algo.

- Praticamente nada me assusta e não será para você que direi alguma coisa. – Respondo.

- Bom saber disso. – E sorri de lado.

Ele chama o garçom e pede a carta de vinhos, fazemos nossos pedidos e logo voltamos a conversar sobre trabalho.

- E seu namorado não se importa que trabalhe tanto? – Ele pergunta levando sua taça de vinho a boca.

- Não, Josh entende perfeitamente o meu trabalho.

- Acho que até demais. Não é estranho um cara com uma mulher linda ao seu lado deixa-la tanto tempo livre pra dedicar-se ao trabalho?

- O que eu acho mesmo é que não vim aqui pra discutir minha vida pessoal com você Fernando. E quero deixar claro desde já que nossa relação é estritamente profissional, não vou permitir que se meta onde não é da sua conta.

- Olha a gatinha tem garras – Ele diz irônico.

- Não queira experimenta-las. – Digo impaciente.

- E se isso for exatamente o que eu quero ? – Ele diz isso e por um momento percorre meu rosto e meus seios com o olhar.

Antes mesmo que eu responda o garçom chega com nossos pratos.

- Te fiz uma pergunta Paloma, não vai me responder?

- Claro que sim, sobre a última observação que você fez saiba que estou muito satisfeita com meu namorado e não preciso de mais ninguém. – Começo a comer e bebo um pouco de vinho, lembro de maneirar pois o álcool surte um efeito rápido no meu organismo e não quero me arrepender de nada.

- Ah Paloma, uma mulher como você tão vai querer um moleque como aquele, venhamos e convenhamos seja sincera consigo mesma.

- E o que uma mulher como eu iria querer? Alguém como você? Que tem transas casuais? Que tira a virgindade das moças e no dia seguinte vai embora sem ao menos dizer nada? Não querido, muito obrigada, dispenso esse tipo de relação. – O filtro do meu cérebro com a minha boca não deve estar funcionando essa noite porque quando menos espero já falei.

- Sobre esse assunto...- Eu nem o deixo terminar, vou logo interrompendo.

- Fernando, não se incomode em dar explicações, agora não precisa mais. Somos adultos e seguimos em frente, não há porque falarmos disso, não é mesmo? – Sorri e demonstrei a maior tranqüilidade do mundo, embora por dentro eu estava esgotada.

- Ok, sei que te magoei e embora seja tarde pra tocar nesse assunto eu gostaria que me desculpasse. – Ele parece aquele gatinho do Shrek e juro que por uma fração de segundos eu penso em desculpa-lo por todo sofrimento que me causou, só que não.

- Fernando, vamos deixar algo bem claro aqui? Não estou feliz em ter que trabalhar com você, mas estou fazendo isso pelos nossos pais, não quero nenhum tipo de ligação entre nós, seremos apenas colegas de trabalho. Nunca nos demos bem e não será agora que viraremos melhores amigos. – Ele me olhava com um olhar impassível, estava claro que não esperava essa reação.

Eu tentei, juro que tentei ser legal e fingir passar por cima da dor que ele havia me causado, mas a verdade é que eu não conseguia. Não ia conseguir fingir algo que eu não estava sentindo, sempre fui assim, oito ou oitenta.

- Ok Paloma, já entendi qual seu posicionamento a meu respeito. Podemos voltar a falar de trabalho se preferir. – Ele disse só isso mesmo produção? Eu podia ver nos seus olhos o quão desconfortável ele estava, mas mesmo assim não deixou-se intimidar. Eu havia encontrado um oponente á minha altura.

- Claro, explicarei algumas coisas sobre a B&B e com o tempo você vai se inteirar melhor.

Continuamos nosso jantar como se fossemos dois estranhos e tratamos apenas de negócios, percebi o quão frio ele estava comigo depois de tudo que eu havia lhe dito. Ao fim da noite ele pagou a conta e nos dirigimos a saída, ele agradeceu minha companhia, me deu um beijo na bochecha e foi embora ao se despedir.

Dirigi o caminho inteiro pensando em como havia sido nosso jantar, por mais que eu não quisesse admitir ele ainda mexia comigo e saber que isso era mútuo me fazia ter uma sensação de êxtase. Cheguei em casa exausta, era como se acabasse de chegar de uma batalha, decidi tirar a maquiagem e tomar um banho pra tentar relaxar. Me vi no espelho e toquei no lugar onde ele havia me beijado, ainda conseguia sentir um formigamento, não não, eu não deveria sentir nada por Fernando Baker e então percebi que a batalha nem havia começado.