CAPÍTULO 02

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    Os três primeiros dias aqui se passam rapidamente, como um sonho bom e tranquilo. Sabe quando você não quer que o sonho acabe nunca? É exatamente assim que eu me sinto, e saber que o meu tempo aqui faz parte de um prazo curto me deixa um pouquinho triste.

     Eu não tenho muito dinheiro ou bens materiais. Tudo que nossos pais deixaram pra gente foi rapidamente usado para que a gente se mantesse com um mínimo de conforto nos últimos anos. A única coisa que restou de valor foi essa fazenda, e apesar da insistência de Calvin para vendermos ela (ele não tem tanto apresso pelo lugar quanto eu), tive que implorar para ele não fazer isso. E além disso, isso aqui fica no meio do nada, ninguém iria querer comprar um terreno ruim pra plantações e distante de qualquer coisa.

     Calvin arranjou um parceiro bem sucedido, e graças ao bom Deus, ele conseguiu ter uma vida mais fácil. Meu irmão não é do tipo que lida bem com problemas desse tipo (especificamente financeiros), mas sei que ele nunca casaria com alguém por dinheiro. Dá pra ver no olhar dele que ele ama Will, e dá pra ver no olhar de Will que ele é apaixonadinho pelo meu irmão. Então Calvin basicamente matou dois coelhos com uma cajadada só. Arranjou amor e conforto com uma só pessoa.

      Eu trabalho num hotel na capital faz quase um ano, e é de lá que tiro todo meu sustento. Meu irmão já implorou mil vezes para eu ir morar junto com ele, mas não quero ser um peso extra para ninguém, e depender do marido do meu irmão para qualquer coisa realmente não é algo da qual estou à fim.

     Eles me deram um mês de folga, e é justamente por isso que meu tempo aqui é pouco, e eu pretendo aproveitar cada segundo.

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     Sempre adorei passear pela floresta ao redor do casarão. As árvores são magníficas, sinuosas e seculares, das mais variadas espécies possíveis. Fica tudo mais lindo durante o outono, quando tons de amarelo, vermelho laranja e marrom colorem cada uma das folhas, criando um mosaico de cores lindas e hipnotizantes. Ainda estamos no verão, mas isso não deixa essa imensidão de verde menos maravilhosa.

     Há trilhas, morros, cavernas e riachos escondidos no meio da floresta, e cada vez que você entra nela, encontra algo completamente novo. Lembro de quando eu e meu avô andávamos à cavalo pelas trilhas repletas de folhas secas, cogumelos e musgos, mas isso já foi quase a uma década atrás, e todos os cavalos da propriedade já não estão mais aqui, pois foram vendidos.

      Agora, estou caminhando de forma tranquila por uma trilha larga e bela, coberta de grama e que corta a floresta fazendo ziguezague. O canto dos pássaros e o farfalhar dos galhos cria uma melodia reconfortante e tranquila, e o cheirinho de grama molhada e da relva me faz respirar fundo repetidas vezes.

     Eu amo esse lugar. Amo tanto que não consigo parar de sorrir feito um bobo, enfiando as mãos dentro dos bolsos do casaco para protegê-las da brisa fria, que balança as mechas do meu cabelo e às fazem cair sobre a minha testa.

     Tenho quase certeza que havia uma pequena cachoeira por aqui, mas já estou andando por quase trinta minutos e sequer encontro o riacho que leva até ela. Será que fiz o caminho errado? Jurava que era no fim da trilha mais larga que levava para o Oeste, mas faz tanto tempo que vim aqui que não posso confiar nas minhas memórias para me levar à lugar nenhum.

     Paro no lugar e fecho os olhos, tentando usar meus sentidos sensíveis para escutar algum barulho que indique onde há água corrente, mas franzo as sobrancelhas e abro os olhos rapidamente quando percebo qua não há nenhum som pairando ao meu redor à não ser o dos galhos roçando uns nos outros.

     A cantiga dos pássaros de poucos minutos atrás acabou por completo. Os esquilos também pararam de chiar baixinho na copa das árvores.

      Olho para trás rapidamente e não vejo absolutamente nada à não ser árvores. Eu acabei de fazer uma curva brusca na trilha, então não faço ideia de para que direção estou indo agora, já que não estava prestando atenção nas últimas curvas. Estou indo pra Oeste? Norte?

     Meus ouvidos capturam um som alto o suficiente para não ser de um animal pequeno vindo da minha direita, fora do alcance da trilha. Eu me abaixo e tento descobrir o que é, olhando por debaixo dos galhos maiores, mas o som vem de uma área mais distante do que eu consigo ver.

     O meu coração dá um salto, mas eu me tranquilizo com o fato de que não há ursos ou pumas nessa região. Provavelmente é um cervo ou uma marmota. Já que essas florestas tem mais vida do que se pode imaginar.

     Solto um suspiro baixinho e começo a andar na direção do som, tentando ser o mais silencioso possível enquanto passo por cima do tronco de algumas árvores caídas e tento evitar pisar em folgar secas. O berrar baixo de um cervo faz eu gemer de alívio, apesar de que ainda não consigo ver o animal direito.

     Depois de mais alguns passos, a floresta fechada dá lugar à uma pequena clareira. Eu procuro rapidamente pelo cervo, mas quando meus olhos o encontram, um calafrio sobe pela minha espinha.

      O animal está deitado no centro da clareira, ainda bramando com os últimos resquícios de vida que lhe restam. A sua garganta está dilacerada, fazendo um sangue grosso e escuro escorrer pelos cortes e criar uma poça no chão.

     Os meus olhos focam no corpo do cervo por alguns segundos, mas um som alto e animalesco vindo das árvores me obriga a desviar o olhar, e quando minha visão encontra o predador à poucos metros de distância, uma onda de medo e puro terror toma conta do meu corpo.

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A MARCA DO LOBO (COMPLETO)Where stories live. Discover now