CAPÍTULO 20

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NAVEEN
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   No dia seguinte, Baz vai pra escola mais alegre do que nunca. O diabinho acordou um pouco mais cedo só para retirar o carro de dentro da enorme caixa (já que ele apagou poucos segundos depois de chegarmos em casa e não deu tempo de fazer isso ontem). Eu o coloquei dentro do carrinho e observei o loirinho pilotar pela sala do nosso apartamento, soltando gargalhadas bobas sem parar. A mecânica do brinquedo é simples, e apesar dele andar sozinho caso Baz pise nos pedais (como um carro de verdade), a velocidade é mínima, então não corre o risco dele bater com força em algum móvel e se machucar.

     Depois de leva-lo para a escola, eu fiz o mesmo trajeto de sempre até o hotel onde trabalho, que fica apenas à algumas quadras de distância. A camisa social branca de mangas compridas barra boa parte do frio da manhã, e eu agradeço internamente por isso. Os funcionários tem permissão para dobrar as mangas até os cotovelos, mas não podemos deixar os botões abertos ou a parte de baixo fora da calça social.

     Meu trabalho hoje é ficar na recepção, junto com três outros funcionários (uma ômega alguns anos mais velha e dois alfas mais ou menos da minha idade). Confesso que nunca tive nenhuma proximidade com nenhum outro colega de trabalho, até porque o número de empregados é imenso, e sempre que estou tendo afinidade com alguém, eles me trocam de função e eu não vejo essa pessoa por semanas seguidas.

     Dias em que há bailes e festas acontecendo sempre são movimentados, mas pelo menos o baile de hoje irá acontecer à noite, e eu já não estarei aqui, embora o movimento comece de manhã, pois a maioria dos convidados querem um lugar para ficar com antecedência.

     — Bom dia, senhora. — Cumprimento com um sorriso no rosto a ômega bem vestida que surge em frente à mim, vestindo um casaco de peles e puxando uma mala chique de rodinhas. Ela me analisa de cima à baixo com um olhar frio, me medindo à medida que os segundos passam, como se estivesse ofendida com o meu "senhora".

      — Bom dia. — Ela diz, por fim, com uma voz desprovida de qualquer emoção e revestida por uma aspereza gélida. Eu sou obrigado à ser gentil com todos os hóspedes e já suportei pessoas assim durante dois anos, mas nada me impede de me imaginar estapeando essa sua cara plastificada. — Vou querer uma suíte na cobertura.

     — Todas já estão ocupadas, senhora. Mas temos alguns outros quartos disponíveis. — Explico, já sabendo muito bem o que vai acontecer nos segundos seguintes.

      — O que?! Como assim não tem uma suíte para mim?! Você sabe quem eu sou garoto...?! — Ela continua gritando e falando comigo, mas sequer registro o resto das ameaças bobas, enquanto tento resistir à vontade de revirar os olhos.

      A vadia deve ter percebido o meu olhar de puro tédio, antes de por fim desistir dessa briguinha de gente rica e idiota, calar a boca e aceitar o maldito quarto que ainda temos disponível.

    — Tenha uma ótima estadia, senhora. — Dou tchauzinho para essa puta e observo ela caminhar em direção ao elevador, arrastando a maldita mala e rebolando a bunda imaginária que ela acha que tem. Espero sinceramente que o seu quarto esteja mal limpo e tenha uns cinco ratos mortos debaixo da sua cama.

    Olho para o relógio redondo e meio retrô que há preso na parede e solto um suspiro, porque meu horário de trabalho mal começou, e ainda faltam várias horas até eu ir pra casa e passar o resto do meu dia com meu filhote.

     — Olá, bom dia. — Um Beta bem vestido aparece na minha frente, também carregando uma mala.

    — Bom dia, senhor. — Abro um sorriso, porque esse pelo menos parede ser gentil. Inspiro fundo e continuo fazendo meu trabalho.

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    Eu meio que esperava ver Michael hoje por aqui, embora não saiba o motivo, mas ele não apareceu em lugar algum do hotel. Provavelmente está ocupado fazendo outras coisas, e talvez o nosso encontro divertido no shopping tenha sido apenas por acaso.

     Acho que Baz e eu não nos divertíamos assim em meses, e isso é um pouquinho estranho, porque bastou um desconhecido ficar com a gente por algumas horas para nos sentirmos assim. Eu meio que me sinto um pouquinho culpado por Baz não ter outra figura paternal e eu não possa ficar com ele durante tanto tempo, mas agradeço internamente por ele não ficar perguntando sobre o seu outro pai. Meu diabinho é muito inteligente pra idade dele, e ele simplesmente parou de perguntar, depois que Calvin e eu inventamos algumas desculpas esfarrapadas da primeira vez.

     Felizmente, o meu turno acabou de terminar, então saio correndo para fora dessa recepção como o diabo foge da cruz, principalmente porque estou me sentindo um pouquinho tonto, e isso pode ser um indicativo de que meu cio está próximo.

     Vou para a área dos funcionários e caço uma cartela de comprimidos no meu armário. Tomo dois de uma vez, para então ir até a sala do supervisor perguntar se já estou liberado por hoje, porque não vejo a hora de ir buscar o meu filhote, que provavelmente vai passar o resto da tarde inteira gargalhando e rindo dentro daquele bendito carro.
    

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A MARCA DO LOBO (COMPLETO)Where stories live. Discover now