CAPÍTULO 04

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     Eu tomo um banho demorado assim que chego no casarão, usando um frasco de sabonete líquido inteirinho pra lavar o meu corpo repetidas vezes, embora saiba que os feromônios de alguém não saem desse jeito.

     A excitação sem motivo algum é um sinal de que o meu cio está chegando, e isso é muito ruim. Eu tomo um remédio para amenizar os efeitos e passo um monte de perfume para tentar disfarçar o cheiro daquele lobisomem de mim, e como a maioria das pessoas daqui são betas, isso aqui pode passar despercebido.

     Não consigo tirar o alfa da minha mente. O meu coração está dando cambalhotas no peito, e eu ainda estou morrendo de medo pelo que vi. Ele praticamente dilacerou o cervo sem problema nenhum, e poderia ter facilmente feito isso comigo se eu não tivesse dado o fora dali.

     Já são umas 6:00 da tarde quando eu desço para o primeiro andar, ciente de que o meu perfume excessivo pode incomodar os alfas e ômegas que trabalham aqui, então tento me manter longe deles.

    Encontro Francisco sentado na velha cadeira de balanço da varanda, onde ele sempre fica durante as manhãs e boa parte da noite. Assim que saio da casa e sento ao seu lado num banquinho, meus olhos vão automaticamente para a floresta, que já começa à uns vinte metros de distância da casa. A luz das lâmpadas é o suficiente para iluminar a linha das árvores, mas não muito além disso, então é impossível ver alguma coisa dessa distância.

     — O que você sabe sobre alfas selvagens, Fran? — Pergunto, tentando soar menos curioso do que realmente estou sobre isso.

    — Lobisomens? — Ele olha para mim por cima do ombro, começando a balançar de forma calma na cadeira, que range um pouco devido à velhice da madeira e a ferrugem das dobradiças.

     — Isso. — Respondo. Tentei procurar na internet, mas com o passar dos anos não se pôde mais confiar nas respostas e coisas que você encontra online. Governos manipulam informações de grande influência, e talvez seja por isso que tudo que encontrei vinha com manchetes do tipo "Aberrações da natureza/descaso com a evolução/bestas sem controle...".

     — Bom. A maioria dos alfas fica um pouco alterado durante a lua cheia. Unhas tendem a crescer, presas ficam maiores e o instinto de agressividade, territorialidade e proteção ficam ainda piores. Mas existem aqueles que são mais selvagens, mais impulsivos, esses ultrapassam o grau de transformação e viram lobisomens, um alfa meio lobo, meio homem fisicamente. É incrivelmente raro, e só dura por algumas horas.

     — E aqueles que se transformam sem a lua cheia?

    — sem a lua cheia? Isso é provavelmente impossível, Naveen. — Francisco solta uma risadinha engraçada, como se eu tivesse contado algo engraçado.

    — Mas se acontecesse?

     — Ninguém seria selvagem à esse ponto, garoto, mas se fosse, seria incrivelmente perigoso. — Ele responde, me fazendo engolir em seco e olhar para a floresta novamente, como se sentisse dois olhos avermelhados me encarando à distância, mas tenho certeza que é só o medo me fazendo sentir coisas estranhas.

     — Bom... Vamos comer, garoto? Maria fez uma torta de carne daquelas que só ela sabe fazer. — Francisco levanta da cadeira de balanço e Inclina levemente a cabeça na direção da porta, então eu levanto do banco também e o sigo em direção à casa.

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     O jantar é ótimo e especial, como todos os outros aqui na fazenda. Todos que moram aqui comem juntos ao redor da enorme mesa de madeira, rindo e contanto histórias (ou melhor: ouvindo Francisco contar suas aventuras, que provavelmente tem uma pitada de exagero quando ele às conta).

     Como é típico do interior, todos dormem cedo, então subo para o meu quarto pouco mais de 9:30 da noite e me jogo na cama de solteiro, que range sob o meu peso, apesar de ser incrivelmente confortável. O quarto é iluminado apenas pela luz amarelada vindo do banheiro, já que a porta está entreaberta, deixando o clima aqui dentro gostosinho e confortável.

     Eu apago pouco tempo depois, me perdendo em meio à pensamentos e saboreando o cobertor quente, embora tenha um sono um pouco leve.

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     Não sei por quanto tempo dormi, mas acordo em algum momento da madrugada devido à um som estranho vindo lá de baixo, no quintal, me fazendo levantar da cama rapidamente e ir até a velha e um tanto embaçada janela de vidro, vestindo não mais que a calça xadrez do meu pijama.

     Olho para baixo através do vidro e tento encontrar o que quer que esteja fazendo o barulho, embora tenha uma ideia bastante sugestiva de quem seja.

    Encontro o lobisomem acinzentado na linha das árvores, onde a luz vinda das lâmpadas da varanda iluminam completamente o seu corpo enorme e musculoso. Ele está olhando diretamente para o casarão. Ou melhor: olhando diretamente para minha janela. Para mim.

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A MARCA DO LOBO (COMPLETO)Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz