CAPÍTULO 06

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     Quando abro os meus olhos, uma estranha sensação de não saber onde estou clareia a minha mente, ainda completamente turva de sono e preguiça. Algo peludo e macio está sob mim, e eu quase acredito que é a minha cama e o cobertor fofinho do casarão, mas o meu colchão é maleável, e apesar disso aqui ser quente e macio de tocar, consigo sentir algo duro sob a camada felpuda, como se fosse uma parede de concreto.

     Ergo o rosto e tento olhar ao redor, mas a primeira coisa que vejo são dois olhos vermelhos e enormes me encarando de volta, à centímetros dos meus, fazendo as memórias virem à tona.

     Ah é. Eu fui sequestrado por um lobisomem, que queria dormir agarradinho comigo. E o pior que eu estava tão cansado que não fiz nada à não ser apagar pouco tempo depois.

     Eu ergo o corpo rapidamente e percebo que os seus braços gigantes ainda estão ao redor da minha cintura, me mantendo no seu colo firmemente. Eu solto um grunhido de alívio ao perceber que ainda estou vestindo o pijama, e que não há nenhuma sensação estranha na minha bunda, que seria indícios de...

     O lobo solta um rosnado alto para mim, como se soubesse exatamente o que estou pensando e tivesse ficado zangado com o fato de eu achar que ele faria isso sem se preocupar com o que eu quero ou não.

    — Ei! — Dou um soco no seu peito e tento levantar de cima dele, e dessa vez, ele não apresenta nenhuma resistência. Assim como havia imaginado, cada milímetro de mim está impregnado com os seus feromônios de alfa, e pelo visto ele passou a noite inteira fazendo isso, porque seria impossível eu ficar assim com um simples toque. Não consigo sequer sentir o meu próprio cheiro, e ele parece bastante satisfeito com isso.

     Olho para a entrada da caverna e percebo que o dia já está quase amanhecendo, e o horizonte já está colorido com tons alaranjados e arroxeados, indicando que o sol está prestes à nascer.

    — Acho bom você me levar logo. Aposto que todos já estão quase acordando. — Digo, cruzando os braços e engolindo em seco ao olhar para a queda de vinte metros que leva até a parte menos inclinada do morro. O lobo cinzento apenas levanta e marcha até onde estou, com passos sobrenaturalmente silenciosos para um ser que deve pesar uns 150 quilos.

      Dessa vez, eu subo por conta própria nas suas costas, não querendo ser jogado pelo ombro e ser feito de um objeto de malabarismo como da outra vez. Envolvo o seu tronco com as minhas pernas e agarro os seus ombros com força, então ele simplesmente avança até a entrada da caverna e pula.

     — AAAH!! — grito, fechando os olhos e sentindo o meu coração quase sair pela boca. O lobisomem aterrissa com uma graça inumana lá embaixo, antes de começar a correr pela floresta.

🔸🌔🌕🌖🔸

     Uns quinze minutos depois, ele para na linha das árvores, perto do casarão, longe e escondido o suficiente para não ser visto caso já tenha alguém acordado. Eu pulo das suas costas e meio que espero ele fazer alguma coisa ou protestar para eu não ir agora, mas tudo que ele faz fungar no meu pescoço e inclinar levemente a cabeça em direção à casa, indicando para que eu vá.

     — Bom... Adeus. — Murmuro. Ele revira os olhos lupinos e nega com a cabeça.

     —  "Adeus", não. — Rosna baixinho, mas eu já estou caminhando em direção ao casarão, embora saiba que essa não é a última vez que o verei.

🔸🌔🌕🌖🔸

      Como todos ainda estão dormindo, eu aproveito para tomar um banho, sem saber o que mais posso fazer para tirar esse cheiro de um desconhecido de mim. Passo alguns minutos debaixo do chuveiro, sentindo a água morna escorrer pela minha pele e fazendo os meus músculos relaxarem instantaneamente.

     Que loucura foi essa em que me meti? Preciso dá um jeito nisso o quanto antes.

     Será que contar para Francisco que tem um alfa selvagem rondando a propriedade adiantaria alguma coisa? Pelo que li na internet, lobos sem controle são abatidos ou presos por apresentarem um perigo para as pessoas, e não tenho certeza sobre qual seria a reação de Francisco caso eu contasse. Ele provavelmente iria achar que todos nós estamos sendo ameaçados pelo lobisomem e...

     Não. Eu não posso contar pra ele. O lobo não merece ser morto ou preso assim dessa forma. Ele não parece ser perigoso, embora não esteja conseguindo voltar para a forma humana.

     Solto um suspiro longo e saio do banho com uma toalha enrolada na cintura, indo até o velho guarda-roupas procurar alguma coisa para vestir. Os sons vindo do andar de baixo mostram que pelo menos algumas pessoas já acordaram, então visto uma calça velha e uma camisa verde simples e com manchas de alvejante, onde a cor ficou mais clara por causa do produto.

     Passo um bocado de perfume e tomo um inibidor só pra garantir, apesar deles fazerem eu me sentir um pouco estranho e tonto caso tome mais do que o necessário. Na verdade esses remédios são bastante contramedicados, mas não ligo muito pra isso.

     Desço para o primeiro andar descalço mesmo, sentindo a madeira lisa e um pouco fria contra os meus pés. Já consigo ouvir as vozes de Fran e Maria daqui da sala, e assim que entro na cozinha, encontro os dois colocando a comida na mesa, onde apenas Half e dois outros betas estão sentados.

     — Bom dia, gente. — Sento ao lado de Half, de modo estratégico para ficar um pouquinho distante de Maria, a única ômega aqui, e quem pode sentir o cheiro suspeito em mim. O beta ao meu lado é alguns centímetros mais alto do que eu, apesar de ser mais novo.

     — Bom dia, Naveen. — O casal mais velho responde ao mesmo tempo, dando-me alguns sorrisos e olhares de gentileza. A minha barriga ronca assim que meu olhar recai sobre a mesa repleta de comida, e isso faz Half soltar uma risada baixinha.

     — Acha que ela estapearia a gente se nós pegarmos alguns bolinhos? — Sussurro para ele, inclinando o queixo na direção da sua mãe, que está concentrada fazendo uma pilha de pães de queijo em cima de uma travessa.

     — Provavelmente, mas não se a gente fazer escondido. — Half sussurra de volta, com um sorriso maligno no rosto.

     — Okay.

     —  Eu distraio e você pega?

     — Certo. - confirmo, vendo ele levantar da cadeira no segundo seguinte.

    —  Mãe, rainha do meu viver. Vou ajudar a senhora. — Ele dá a volta na mesa, e eu preciso me concentrar para não gargalhar, enquanto faço a minha parte do plano.

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A MARCA DO LOBO (COMPLETO)Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz