CAPÍTULO 22

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NAVEEN
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   Como esperado, no dia seguinte meu cio chega com força, apesar dos inibidores e dos outros comprimidos. Calvin, meu irmão, vai passar o dia com Baz, porque senão não vou conseguir cuidar dele direito, sentindo fortes dores na barriga e uma queimação em... Outros lugares.

   Nós ômegas temos o direito de faltar no trabalho quando estamos no cio, para não correr o risco de dar algum problema, então bastou passar uma mensagem para o meu supervisor que ele me liberou por hoje e amanhã (e como amanhã é sábado, fica melhor para mim).

   Eu passo boa parte da manhã dormindo, porque isso faz o desconforto ser bem mais suportável. É bem ruim ficar longe de Baz durante esse tempo, mas isso é inevitável, porque aquele diabinho não pode um segundo sequer fora de vista, porque isso é a receita pro desastre, e eu não conseguiria olha-lo estando nessa situação.

   Estou quase cochilando no sofá, quando a campainha do apartamento toca, me fazendo levantar em passos cambaleantes e caminhar até lá. Talvez seja algum vizinho, porque meu irmão iria mandar mensagem antes vir.

   Assim que abro a porta, dou de cara com um peitoral largo, me fazendo soltar um grunhido baixinho. Michael está na minha frente, com as mãos enfiadas nos bolsos da calça de moletom. Os feromônios dele me atingem em cheio, e são familiares de uma forma que não consigo explicar.

   — Oi, cê não foi pro trabalho hoje? Não te encontrei em lugar nenhum. — Ele diz, mas antes que eu possa responder, ele inspira fundo e saca na hora o motivo.

   — Bom... É por isso. — Dou de ombros, abrindo um sorriso amarelo. Michael olha por cima do meu ombro e observa a minha sala.

   — Posso entrar? Onde está Baz?

   — Ele vai ficar com meu irmão durante um tempo. — Explico, abrindo espaço para ele entrar em casa, até porque não é porque ele é um Alfa que vai simplesmente me atacar. Não é assim que funciona (embora há certas pessoas que não conseguem se controlar).

   A sala do meu apartamento está limpa e organizada, e alguns dos brinquedos de Baz estão dentro de um enorme cesto azul perto da porta da cozinha (não tive tempo de levar pro quarto dele). Michael senta no sofá e observa ao redor tranquilamente. Sei que ele deve está acostumado com lugares bem mais chiques, mas se ele se não gostou do lugar, não demonstra.

   Eu sento no canto oposto do sofá, mordendo o lábio para não fazer careta, sentindo o meu corpo meio febril formigar, principalmente agora que há os feromônios de um Alfa perto de mim.

   — Você não tem ninguém... Pra te ajudar com isso? — Michael pergunta, notando a minha careta de dor. Sei que ele está pensando no pai de Baz, e eu coro um pouco só de pensar nisso.

   — N-não. Tô bem assim.

   — Eu posso te ajudar com isso, sabe? — Diz de forma tranquila, como se tivesse falando sobre o clima. Ele deve ter percebido o meu olhar assustado, porque se apressa em explicar: - os meus feromônios podem te ajudar com isso, se eu liberar do jeito certo.

   — O-okay. — murmuro, não vendo motivos para negar isso. O incômodo está tão grande que acho que não estou pensando direito. Michael se aproxima de mim e agarra o meu pulso esquerdo, esfregando de leve o polegar na minha pele.

   O seu toque é quente e gentil, e assim que seus feromônios me atingem em cheio, eu não consigo evitar o gemido que escapa dos meus lábios. É como se uma nuvem densa de partículas invisíveis se assentassem na minha pele, provocando arrepios e uma sensação gostosa e diferente, mas ao mesmo tempo meio familiar.

   Quando percebo, estou tremendo um levemente, e o incômodo no meu corpo vai passando aos poucos, até quase sumir por completo.

   — Obrigado por isso. — Agradeço, inspirando o seu cheiro bom e instintivamente me aproximando um pouco mais dele, encostando a cabeça no sofá e encarando os seus belos olhos azuis.

   — Sempre que você precisar, Naveen. — Ele diz, abrindo um pequeno sorriso e liberando outra onda forte de feromônios. Eu fecho os olhos e os sinto emanar dele, inspirando e expirando compassadamente, ainda com sua mão envolvendo o meu pulso fino.

   É um pouco estranho, mas Michael me lembra o meu alfa selvagem de três anos atrás. E talvez a semelhança entre eles esteja fazendo o laço despertar na minha mente, porque tenho ficado inquieto durante os últimos tempos.

   — Sabe. Acho que nas minhas próximas férias vou levar Baz para conhecer o nosso casarão. Preciso dá um tempo de tudo isso. — murmuro baixinho, ainda com os olhos fechados. As vezes que vi Michael podem ser contadas nos dedos de uma das minhas mãos, mas sinto que o conheço à milênios, e que posso confiar nele.

   — Você não é da cidade? — Ele pergunta, um tanto curioso.

   — Sou sim, mas temos uma casa na floresta ao sul daqui. É um lugar bem escondido, mas aconchegante pra caramba. Passei boa parte da minha infância lá. — explico de forma lenta, sentindo o meu corpo relaxado e uma calma que não sinto à tempos. É como se os feromônios dele fossem uma droga anestésica.

   — Floresta? — O tom grave da voz dele muda levemente, e ao contrário da leve curiosidade das outras perguntas, detecto algo mais sério e voraz nessa frase. Isso me faz abrir os olhos e encontrá-lo me encarando com os olhos levemente arregalados, como se estivesse me vendo pela primeira vez.

   — Sim, é uma pequena propriedade escondida no meio da floresta. O resto dela provavelmente pertence à algum riquinho mimado por aí, mas convenci meu irmão a não vender a nossa casa. — Respondo, voltando a fechar os olhos.

   Longos segundos se passam, e Michael continua em silêncio, como se sua mente tivesse dado um bug. Eu abro os olhos de novo e o encontro petrificado, com a boca levemente aberta. A cena é engraçada, então solto uma risada baixinha.

   — Puta merda. — Ele murmura mais para si mesmo do que para mim, me fazendo questionar em silêncio o que deu nele.

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A MARCA DO LOBO (COMPLETO)Where stories live. Discover now