CAPÍTULO 14

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MICHAEL
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     Tinha esquecido de como as noites da capital são agitadas. De como a maioria das pessoas parecem ter hábitos noturnos ao invés de diurnos, e de como as ruas parecem estarem ainda mais lotadas do que durante o dia, com pessoas vestidas para festas e encontros, exalando perfumes e feromônios.

      O ar frio da noite não é o suficiente para deixar o clima menos abafado, como se eu estivesse preso dentro de uma sauna gigantesca com milhares de pessoas. Dou graças à Deus por não estar suando, e fico um tanto aliviado ao ver a faixada grande e bonita do hotel em que ficarei logo alí do outro lado da rua.

     O meu avião particular pousou pouco mais de uma hora atrás, e o meu secretário/amigo garantiu que eu encontraria uma vaga reservada para mim aqui, porque afinal, não posso aceitar nada menos que o melhor, mesmo que só vá ficar por no máximo um mês, até comprovar minhas suspeitas de uma vez por todas.

     Depois daquele acidente fálico há quase quatro anos atrás, algo tem tirado meu sono durante quase todas as noites. Eu saí da floresta e consegui encontrar o meu apartamento (logicamente após roubar algumas roupas e está pelo menos meio vestido), mas assim que adrenalina e a confusão que segue a transformação repentina terem passado, eu percebi que o problema era bem maior do que imaginei que seria.

    Um mês.

     Eu fiquei desaparecido durante a porra de um mês inteiro, e praticamente dado como morto, embora não tenham encontrado o meu corpo (obviamente). Pensar nas complicações que eu teria caso soubessem que eu passei um mês inteiro transformado em lobisomem e perambulando por aí não foi o pior.

      O pior foi perceber a presença doce e gentil de outra pessoa na minha mente. Saber que eu me liguei a um ômega, e que existe uma grande possibilidade de que eu... O tenha forçado à isso, mordido-o e tomando à força algo que jamais deveria ter acontecido... Isso sim foi o pior de tudo.

      Eu posso ter destruído totalmente a vida de alguém, embora tenha certeza absoluta de que ele está vivo (pois o laço desaparece totalmente quando um parceiro morre).

      Com o passar do tempo, a distância e a falta de contato fez a ligação ir diminuindo gradativamente, até ser algo quase insignificante e indetectável, mas ela nunca desaparecerá por completo. Eu deveria está feliz pelo ômega, porquê ele provavelmente também já não está sentindo o laço como antes e agora tem a chance de começar de novo, mas eu... Simplesmente não consigo. Não posso deixar para lá.

     Desde aquele dia que voltei à minha forma humana, comecei à procurar por ele, contratando investigadores e viajando pelos arredores para tentar encontrar alguma pista. Vou mover céu e terra para encontrar o meu ômega, embora talvez ele não seja mais tão meu assim. Tudo que quero é olhar nos seus olhos, pedir desculpas e implorar pelo seu perdão.

🔸🌘🌑🌒🔸

      O hotel realmente parece ser bem bonito e organizado, e eu não esperaria menos do que tem a fama de ser o melhor da capital. Assim que coloco os pés na recepção, a temperatura agradável no seu interior faz qualquer resquícios de suor que esteja sob o meu terno preto sumir rapidamente.

     Olho para o meu relógio de pulso e percebo que já são quase 10:30 da noite, e que Alby, meu secretário, provavelmente só irá chegar com minhas malas daqui algumas horas. Começo a andar até o enorme balcão de mármore da recepção, onde há apenas um recepcionista, que parece não ter percebido a minha presença ainda, pois está de costas.

    — Boa noite. — Digo alto o suficiente para o rapaz se sobressaltar e girar rapidamente, de modo com que eu consiga ver o seu rosto.

     — B-boa noite, senhor. — Ele diz, precisando inclinar a cabeça levemente para cima para conseguir me encarar. Ele nitidamente é um Ômega, e não deve ter mais do que uns 20 anos. Seu cabelo liso é de um castanho claro, e cai como uma cascata sobre a testa em mechas longas e sedosas; os seus olhos são da exata cor de um mel refinado, que não chega à ser amarelo, mas claramente não é marrom também, eles são emoldurados por cílios longos e bonitos. O rapaz veste uma calça preta e uma camisa social branca de mangas longas, dobradas até os cotovelos, que está enfiada dentro da calça e evidenciando como a sua cintura é absurdamente fina e elegante.

     Meu olhar recai sobre o crachá preso na sua camisa, onde seu nome está escrito.

    — Acredito que há uma reserva pré-feita no meu nome, Naveen. — Digo de forma calma, fazendo-o ficar um pouco surpreso por eu ter usado o seu nome. O ômega tem pequenas olheiras ao redor dos olhos, o que indica que ele está bastante cansado e trabalhando há um bom tempo, mas isso não tira a sua beleza.

    — Qual o seu nome, senhor? — Observo-o mover a atenção para o computador sobre o balcão, abaixando um pouco a cabeça e me dando uma visão privilegiada da sua garganta pálida e bela. Inspiro fundo e sinto o cheiro doce do seu perfume, embora ele esteja cuidadosamente tentando exalar o mínino de feromônios possível.

     O cheiro é diferente de tudo que tenho sentindo na minha vida. É exótico e não enjoativo, como o de alguns ômegas. Ele desperta alguma coisa na minha mente, embora não saiba ao certo o que seja.

    — Meu nome é Michael Cristopher II. — Digo, esperando que ele reconheça o nome e arregale os olhos devido ao meu status nesse país, mas a sua única reação é um leve e discreto revirar de olhos ao escutar o "II", como se pensasse "que riquinho mimado". A provocação involuntária faz um arrepio subir pela minha espinha.

    — A sua suíte fica na cobertura, senhor. Você vai querer ajuda com as malas? — Ele pergunta, continuando à olhar para o computador e fazendo questão de não me olhar nos olhos. Quero estender a mão, agarrar o seu queixo e ergue-lo para fazer esse ômega olhar para mim, mas me limito à negar levemente com a cabeça.

     — Não, a minha bagagem provavelmente só vai chegar pela manhã. — Respondo, enquanto observo-o pegar um cartão dourado e estende-lo para mim.

    — Boa estadia, senhor. — Ele murmura, sem muito ânimo. Assim que meus dedos agarram o cartão, ele retira a mão de lá apressadamente, impedindo qualquer contato físico entre nossos dedos.

     — Obrigado, Naveen. — Abro um pequeno sorriso provocante, antes de começar a andar em direção aos elevadores, que ficam do lado esquerdo da recepção.

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A MARCA DO LOBO (COMPLETO)Where stories live. Discover now