Capítulo XXIII

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— Estou Kurt. Muito obrigado!! — Hesitou com uma cara de desconfiado.

— Que bom!! A minha mãe está chamando você lá na cozinha. — Kurt deu meia volta e entrou à direita no quarto dos pais.

Dark levantou-se da escada e entrou em casa. Na cozinha ele indagou:

— Minha tia? A senhora não acha que a minha mãe e o meu tio estão demorando?

  Kendra fez uma cara desconfiada para ele e rapidamente hesitou:

— Por favor, pega o meu celular em cima da raque. Vou ligar para saber onde eles estão, mas antes disso, me responda uma coisa. Por que você não quis tomar café e nem almoçar hoje? É alguma coisa com a comida ou você não está se sentindo bem?

— Não é nada com a comida. A senhora cozinha muito bem, mas é que estou preocupado e ansioso. Quando fico assim, geralmente não sinto fome.

— Nossa!! Onde já se viu um menino dessa idade ficar preocupado? Essa é a consequência das crianças serem criadas feito adultos.

— Eu tenho!! Só não é tão grave quanto a dos adultos.

— Bom!! Se você tem tanta certeza. Está bem mocinho!! — Disse sorrindo com os olhos.

  Dark deu meia volta e caminhou até a sala, pegou o celular e voltou para a área de serviço. Depois de ter entregado o celular, deu meia volta novamente. Na garagem ele olhou pra frente em direção à rua, na esperança de ver o carro do tio se aproximar. Ele foi para a laje, quando passou ao lado do fogão de lenha, sentiu o corpo arrepiar e um pouco de vertigem. Talvez causada pela falta de alimentação.

  Dark caminhou em direção ao muro da frente, ficou encostado olhando pra baixo, onde Kurt estava sentado na sombra fresca de pinha, pintando as flores artesanais com materiais reciclados de garrafa pet. Essa era além de sua paixão, uma forma independente de ganhar o próprio dinheiro, já que ele vendia as flores sempre quando havia exposição das flores de crochê da mãe e entre outras peças artesanais que ela criava.

  O barulho do trem desviou a atenção de Dark, e fez com que caminhasse pelas beiradas da laje em busca de uma melhor vista para o horizonte, para registrar na memória mais uma vez a passagem do trem das 15:00 PM.

  O trem cortava o bairro do Parque Continental em direção ao centro. Era possível escutar e sentir um pouco do barulho e do tremor que fazia.

  Dark descobriu ser fã de antiguidades através das novelas de épocas exibidas todas as noites no horário nobre da televisão brasileira. E o trem era o que ficou mais guardado na memória, já que nascido em 1993, na grande Salvador, não teve a oportunidade de conhecer ou viver algo parecido. Mas, ele estava ali, admirando o choque entre o presente, passado e futuro.

  O trem partiu fazendo barulho e soltando fumaça até desaparecer de vista sentido Cotegipe. Dark levantou do chão, onde estava sentado em frente ao fogão de lenha e caminhou novamente até a frente da casa. Mas, logo se deparou com uma forte chuva, que fazia barulho no telhado da cobertura. Um vento frio envolveu o seu corpo e lhe trouxe uma leve sensação de bem estar, já que estava fazendo o gostoso barulho das gotas d'águas sobre o telhado. Era o momento ideal para voltar a se sentar próximo ao fogão de lenha e se esquentar ainda mais. Foi o que ele fez, mas, desta vez, ele se aproximou bastante das lenhas e imaginou-se em outro lugar do mundo, frio, nevando, que fizesse com que ele estivesse coberto com roupas de frio, de toca, sentado em frente à uma lareira, lendo um bom livro enquanto sentia o cheiro de madeira queimando. Esse era mais um dos sonhos dele, mas sempre que voltava para a triste realidade, só restava olhar para o céu com um olhar triste, pedindo a Deus em pensamento que lhe desse a oportunidade de conhecer a neve e viver a incrível experiência de conhecer o exterior.

  Um barulho muito alto de carro o trouxe de volta para o planeta terra. Logo, imaginou-se que era a volta da sua tão querida mãe e do seu querido tio. Ele rapidamente levantou-se do chão e caminhou até a frente do muro da garagem há 1 metro de distância à sua frente. Ao olhar para baixo, percebeu que era o carro de Hanks, trazendo Megan debaixo daquele forte temporal.

  Ele seguiu alegremente, desceu a escada correndo e quando chegou na garagem, esperou Megan sair do carro para um abraço apertado. Mas, quando passou caminhando de frente ao carro já na garagem estacionado, avistou Anthony dentro do carro quando deu uma rápida olhada para o banco de trás.

  Dark ficou paralisado, o seu corpo começou a tremer e o seu coração começou a disparar de uma forma absurda. O ar começou a faltar e ele sentia as mãos soarem, trêmulas como se estivesse vivendo novamente aquela sensação de desmaio.

  Megan rapidamente saiu do carro e deu um forte abraço no filho, que estava boquiaberto, trêmulo e paralisado olhando para o rosto do pai saindo do fundo do carro. Anthony se aproximou do filho com uma caixa de chocolate na mão, após entregá-lo, ele puxou o filho para a perto e deu aquele abraço de pai bem caloroso.

  Megan dirigiu-se para à cozinha, onde Kendra estava finalizando uma das suas peças, fixando lantejoulas com cola quente numa boneca de cozinha.

— O que aconteceu com você? Estás com um olhar estranho. Não gostou do chocolate? — Falou curioso.

— Não meu pai!! É claro que gostei. Muito obrigado!! Era justamente o que eu estava precisando para levantar o astral. Estava meio pensativo nas voltas que a vida dá e um chocolate vai me ajudar bastante nesse frio. — Hesitou confuso.

— Olha lá rapaz. Não fique pensando muitas besteiras para não ficar maluco. Eu quero ver você se dando bem na vida. Aproveitando todos os melhores momentos dela. Nenhum pai gostaria de ver um filho com uma cara tristonha depois de ter ganhado uma caixa de chocolate.

— Me perdoe!! Eu não havia pensado nisso. Mas, não se preocupe, porque estou bem. Só foi mesmo excesso de pensamento. O senhor adivinhou em cheio o que estava precisando. — Disse rindo com a mão na cabeça.

— Que bom!! Espero ganhar um bombom de volta. — Disse sorrindo caminhando com Hanks para a área de serviço.

  Na cozinha Megan arrastava uma cadeira e sentava ao lado da cunhada para contar a obra que Deus fez na sua vida. Hanks e Anthony começaram a ter uma prosa sentados na mesa branca de plástico que ficava no canto da área de serviço, ao lado da entrada da porta da cozinha. Kurt caminhou da sala em direção à cozinha, foi se aproximando da mãe e após ter dado um beijo na tia, seguiu em frente saindo da cozinha, logo mais cumprimentou Anthony no lado direito da porta.

  Dark começou a dividir os bombons para todos, guardou para Kevin que estava dormindo e Tommy que ainda não havia voltado do trabalho.

  Kurt foi para a laje com os seus bombons na mão, enquanto Dark caminhava para cozinha para perguntar se a mãe e a tia queriam.

— Filho? Cadê você? — Hesitou Anthony da mesa.

— Oi, estou aqui. — Respondeu voltando da cozinha.

— Sente-se aqui na mesa conosco. Me fala um pouco sobre essa nova experiência de mudar de cidade.

  Dark esbugalhou os olhos ao perceber que o tio e pai estavam lhe encarando de frente com caras de que estavam curiosos para saber. Dark engoliu a seco e então respondeu:

— Eu gosto do clima quieto. Mas, eu não conheço a cidade. Até agora só sei que passa um trem antigo. O que mais gosto é esse clima de família que a casa do meu tio tem, sem brigas, sem discussão e sem aquele clima chato que tem em Águas Claras.

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