XXIII

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George foi tomado por um excesso de fúria ao ver aquele homem dando uma rosa vermelha para Charlotte. Ele sabia que rosas vermelhas significavam paixão e casamento, pois certa vez Millie o ensinou a linguagem das flores. O que deixou ele mais possesso, era a maneira que ela sorria para ele. Não aguentou por muito tempo ficar calado, desceu do seu cavalo e se aproximou de ambos. Seus olhos pousaram no homem que havia dado a rosa para Charlotte, e não conseguiu desviar para nenhum outro lugar.

— Charlotte. — disse secamente.

Ela se virou rapidamente assustada, provavelmente nunca o esperaria em sua casa tão cedo. O homem se virou, e também ficou assustado ao se deparar com o rei atrás dele.

— Vossa Majestade. — no mesmo instante ele fez uma reverência.

— George. — ela respondeu normalmente. — Não sabia que viria em minha casa hoje. Esse é Sr. Brown, amigo do meu primo Frederick.

— Bom dia Sr. Brown. — George o cumprimentou com a cabeça. — O que o senhor faz sozinho com a Srta. Harrison?

— Eu... É... — gaguejou ao ouvir aquela pergunta. — O Sr. Harrison pediu para ela me mostrar o jardim. Sou botânico. — deu de ombros.

— E por que o senhor deu uma rosa vermelha para ela?

— George! Por que está fazendo essas perguntas? Não está insinuando... — interrompeu sua frase. — Sr. Brown, poderia voltar para dentro de casa? Preciso conversar com o rei em particular.

— Claro, senhorita. — Henry fez um reverência para ele e saiu apressado de perto deles.

Charlotte começou a se afastar do jardim e jogou a rosa no chão. George entendeu que aquilo era um aviso para que ele a seguisse; fez um sinal com a mão para os guardas ficarem onde estavam. Como ele nunca conheceu a propriedade dos Harrison totalmente, não fazia a menor ideia da onde ela o estaria levando. Parecia que ela nunca chegava ao destino ao qual queria levá-lo, até ela parar de repente. Percebeu que ela respirava fundo e havia abraçado o próprio corpo.

— Responda-me com sinceridade George. — virou-se para ele. — Que tipo de mulher acha que eu sou?

Ele não esperava aquela pergunta. Naquele momento começou a se sentir péssimo pelo que tinha feito, ela não merecia a desconfiança dele. Começou a se arrepender imediatamente. Quando colocou a mão em seu braço, ela se afastou. Uma lágrima desceu pelo rosto dela, que imediatamente limpou com a mão.

— Eu acho você uma mulher maravilhosa.

— Acha mesmo? — riu sem graça. — Não parece que acha mesmo isso.

— Peço humildemente que acredite em minhas palavras.

— É tão difícil acreditar nelas. — mais lágrimas brotaram em seus olhos. — Eu gostaria de acreditar em você, mas não consigo. Como pôde insinuar que eu tinha alguma coisa com o Sr. Brown? Como pôde? Eu mal conheço ele.

— Eu não sei! Quando eu o vi dando aquela rosa vermelha para você...

— O que tem ele me dar uma rosa vermelha? Você me deu uma rosa vermelha quando nos encontramos Hyde Park! Lembre-se que você estava gostando de Jade. Você tinha alguma intenção comigo naquela época? Não!

— Eu sei, eu sei. Eu fui um tolo.

— E isso não somente hoje. — riu com ironia. — Naquele baile que foi no dia do meu aniversário, você olhava para mim e o príncipe Alejandro da mesma maneira que olhou para mim e o Sr. Brown hoje. Eu deixei passar, eu não queria ter mais discussões com você. Porém, seu olhar ciumento se repetiu ontem no baile. Acha que eu não percebi a maneira como olhava para mim e Sua Alteza? Eu disse para mim mesma que eu não deveria me importar. — respirou fundo. — Hoje ficou notável que não confia em mim.

— Charlotte, pelo amor de Deus, eu confio em você. — tentou pegar a mão dela, mas Charlotte se afastou.

— Não chame o nome de Deus em vão. — limpou as lágrimas do seu rosto. — Estou cansada de ver seus olhares desconfiados sobre mim sem motivo algum. Estou cansada da nossa distância. Estou cansada de tudo.

— Não diga isso. Por favor, eu imploro, me perdoe.

— Eu pensei que depois desses longos meses esperando por você, eu o teria novamente por inteiro. Não sabe o quão foi difícil admitir que eu amava você, George. O quão foi difícil ficar sem suas cartas, sem seus relatos pessoais. Eu pensava que estava claramente nítido que eu o amava, eu juro que pensei. E depois da nossa conversa de ontem, eu tive certeza que enfrentaríamos tudo para ficarmos juntos.

— Vamos enfrentar tudo. — conseguiu pegar a mão dela. — Acredite em mim.

— Eu estou tentando, mas simplesmente não consigo. — tirou sua mão da dele novamente.

— Lottie...

— Não diga mais nada. — virou-se. — Eu acho melhor ir embora e me esquecer. Viva sua vida longe de mim, com alguém que ache mais confiável. Desejo do fundo do meu coração que seja feliz. O que nós vivemos, apesar de pouco, significou muito para mim. E não pense que eu deixei de amar você, muito pelo contrário, eu o amo com toda força que existe em mim.

— O que você quer dizer com isso? — perguntou com lágrimas em seus olhos.

— Que é melhor darmos um tempo disso tudo. Que é melhor acabarmos por aqui, antes que fiquemos mais machucados — encarou George. — Não posso continuar com alguém que não confia em mim. Quem ama, confia.

— Charlotte... — começou a dizer, mas foi interrompido por ela.

— Não torne as coisas mais difíceis. Por favor, vá embora.

— Eu não sei se vou conseguir ficar longe de você, Charlotte.

— Você ficou longe seis meses, e nem por isso morreu. — respondeu friamente.

— Eu pensei que compreendia minha situação. — recebeu aquelas palavras como golpes fortes em seu estômago.

— Eu sempre compreendi tudo, esse é problema. Agora, por favor, vá embora.

— Não faça isso com nós, Charlotte.

— Está feito. — virou-se novamente. — Vá embora, Majestade.

George abaixou a cabeça, respirando fundo para conseguir ter controle ao falar.

— Espero que um dia não se arrependa de tudo isso. Eu amo você, e não sei se serei capaz de esquecê-la algum dia. Vou respeitar sua vontade, apesar dessa vontade estar quebrado meu coração, e eu sei que vou sofrer. Adeus, Charlotte.

Ela não se virou, e George começou a caminhar de volta para a entrada da mansão Harrison. Começou a chorar, simplesmente não conseguia parar; as lágrimas vinham a todo momento. Sentia uma enorme dor no peito, não conseguia explicar o que estava sentindo para si mesmo. Nada estava mais fazendo sentindo para ele naquele momento, e achava que demoraria as coisas voltarem ao normal. Agora ele sabia o que Jade sentiu quando ele a trocou por Charlotte. Quando avistou seus guardas, limpou as lágrimas que insistiam sair e subiu em seu cavalo.

— Vossa Majestade está bem? — perguntou um dos guardas.

— Não estou bem, Edward. — respirou fundo. — Mas logo vai passar. Vamos retornar para o palácio.

— Sim Majestade. — Edward respondeu.

— Que Deus me ajude. — George murmurou para si mesmo.

♛♛♛♛

Assim que Charlotte percebeu que George tinha ido embora, jogou-se de joelhos no chão, e desatou a chorar. Como se o tempo estivesse rindo dela, começou a chuviscar, mas logo depois a chuva engrossou. Deitou-se no chão para deixar a chuva lhe molhar. Raios começaram aparecer no céu, e pela primeira vez ela não estava se importando. Os trovões vieram logo em seguida, e seu coração ficava acelerado a cada trovoada. Ela sentia uma enorme dor no peito, uma dor sufocante. Não conseguia distinguir o que era lágrimas ou água da chuva, mas sabia que existiam lágrimas descendo por seu rosto. Começou a sentir frio, mas se recusava a se levantar e voltar para casa. Sentia-se vazia, como nunca havia se sentindo antes.

Fechou os olhos. E a única coisa que ela ouviu antes de fechá-los foi alguém chamando por ela.

Lady CharlotteWhere stories live. Discover now