XXV

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Os dias se tornaram vazios como ele jamais havia pensado. Momentos de felicidade havia se tornado raro, e sempre eram ao lado da sua mãe e irmã. Simplesmente não conseguia administrar seus sentimentos como achava que sabia. Dias haviam se passado, as mesmas imagens passavam por sua mente, inevitavelmente as lágrimas surgiam por seu rosto. Quando todos perguntavam o que havia acontecido, George simplesmente ignorava a pergunta e começava outro assunto.

Ouviu alguns comentários pelo palácio de que sua aparência estava mais velha, o que infelizmente era verdade. Sabia que não seria fácil esquecer alguém que amava, porém não sabia que poderia ser tão difícil. Os cabelos loiros estavam maiores, sua barba já estava bastante notável, as olheiras que antes não existiam debaixo dos seus olhos, surgiram subitamente. O motivo daquelas olheiras eram as noites mal dormidas com uma frequência exorbitante de pesadelos. E todos, absolutamente todos, tinha ela.

Pensou em várias maneiras para falar com ela. Tentar fazê-la desistir daquela decisão tão imatura e inconsequente, mas algo dentro dele dizia para não fazer isso, que ele deveria dar tempo ao tempo, e tempo a ela. Ele se perguntou várias vezes como suportaria ficar longe dela mais uma vez. A primeira vez já tinha sido insuportável, a segunda estava pior ainda. O sorriso de Charlotte fazia muita falta. Suplicava a Deus todos os dias antes de dormir para que ela voltasse atrás.

Pegou o relatório para ler pela décima vez, porque simplesmente não conseguia se concentrar, não quando estava sozinho. Seus conselheiros estavam de folga naquele dia porque ele pediu, precisava de um pouco de silêncio. O relatório em questão falava sobre uma possível guerra com Portugal por causa das rotas marítimas. Pensou consigo mesmo que era uma grande tolice o rei português querer uma guerra com a Inglaterra, eles venceriam com um piscar de olhos o exército de Portugal. Por hora, tentaria pensar em um acordo que beneficiasse as duas nações, a ideia de uma guerra não lhe agradava em nada. Pensava nas mulheres que ficariam sem os seus maridos, as crianças sem os pais, ele sabia a falta que um pai fazia para uma família.

Uma batida na porta o fez levantar a cabeça e pousar o papel em cima da mesa. Walter entrou totalmente ereto e sem expressão alguma no rosto, como era de costume, o que incomodava bastante George.

— Vossa Majestade. — fez uma reverência. — Sua Alteza Real, Jade Martinez da Espanha deseja falar com o senhor.

— A faça entrar. — encostou-se na cadeira.

— Com sua licença, Vossa Majestade.

— Concedida. — fez um gesto rápido com a mão.

Walter fez outra reverência antes de sair. E então ela entrou com um sorriso no rosto. Ela estava diferente do habitual. Seus cabelos estavam presos, usava um vestido da moda inglesa, e uma pequena tiara de prata estava em sua cabeça. George levantou-se e foi cumprimentá-la. Beijou sua mão, enquanto ela fazia uma reverência.

— Vossa Majestade. — disse com um sorriso.

— Não seja boba. — indicou uma cadeira em frente para ele. — Acho que não precisamos dessas formalidades.

— Eu preciso manter as formalidades, George. Você é superior a mim, sabe muito bem disso. — andou em direção à cadeira. — Não me deixe ficar sentada a mesa sozinha, venha para cá. — sentou-se.

— Eu já estava fazendo isso. — voltou em direção à mesa e sentou-se.

Ele encarou Jade. Seus olhos verdes continham um brilho divertido, coisa que ele não via há muito tempo.

— Estou curioso para saber o que deseja comigo.

— Conversar. — deu um enorme sorriso.

— Sobre? — arqueou sobrancelha.

Lady CharlotteWhere stories live. Discover now