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O almoço foi bem tranquilo. Nem me surpreendi quando fomos parar no pesqueiro e também constatei que a comida era maravilhosa. Aquele lugar tinha mágica! Joe nos atendeu e foi simpático como sempre. Acredito que Filipe desfez o mal entendido, o explicando que éramos apenas amigos ( ou quase), já que o garçom me pediu desculpas pela confusão no outro dia.

- Qual sua cor favorita? - Perguntou claramente me pegando de surpresa.

- Por que? - Questionei arqueando um pouco as sobrancelhas.

- Quero conhecer melhor a pessoa que tenho alimentado ultimamente e que insiste em me chamar de maluco do refrigerante.

- Azul.

- Existem muitos tipos de azul...

Refleti.

- A tonalidade varia de acordo com meu humor. - Respondi por fim.

- Flor favorita?

- Se eu receber girassóis essa semana saberei que foi você quem enviou.

Ele sorriu sem mostrar os dentes, já que estava com comida na boca.

- Comida favorita?

- Japonesa e qualquer prato que o pesqueiro tenha a ofercer. - Pisquei em direção ao Joe que estava no balcão ouvindo atentamente nossa conversa.

- Por acaso aqui também tem comida japonesa nos primeiros sábados do mês. - Falou Joe exibindo um largo sorriso.

- Então acho melhor vocês providenciarem um cartão fidelidade para mim, já que virarei frequentadora assídua desse lugar.

- Como são os seus pais? - Filipe perguntou assim que entramos no carro.

- São pessoas incríveis...- Suspirei. - Agora eles estão em Brasília cuidando do meu avô que está doente. Faz tanto tempo que eu não os vejo!

Quantas saudades estavam guardadas em meu peito. Comecei a me lembrar do sorriso acolhedor de minha mãe, das brincadeiras e abraços supresa do meu pai. Saudade era um sentimento do qual eu já havia experimentado antes, mas nunca tão profundamente quanto agora.

- E os seus pais? - Perguntei antes que eu acabasse chorando com o rumo da conversa.

- Meu pai é empresário. Administra a construtora da nossa família.

- Sério? Mas e o Pesqueiro?

- Antes do acidente meu pai era um homem diferente. Ele e minha mãe eram dois sonhadores. Éramos bem pobres e por isso a cada dia um dos dois acordava com alguma nova ideia para conseguir dinheiro. Uma dessas ideias foi o Pesqueiro, minha mãe tinha plenas certeza de que dessa vez daria certo.

- Acidente? - Perguntei.

- Minha mãe se envolveu em um acidente de carro. Acabou não resistindo e morreu na hora.

Sabe aquele momento em que parece que o ambiente em que você está para e que a temperatura cai bruscamente? Eu não sabia muito bem o que fazer, um aperto gigantesco se instalou em meu peito. Em minha família não haviam histórias de tragédia como essa então eu não sabia o que era sentir aquilo, mas eu fazia uma ideia de quão difícil deveria ser.

Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, Filipe continuou:

- Por fim meu pai não teve coragem de fechar o Pesqueiro. Continuou o administrando, porém abriu uma empresa também. No final das contas minha mãe tinha razão, o Pesqueiro hoje é um sucesso. - Filipe falou dando aquele seu famoso sorriso torto. E desde que mencionei seus pais era a primeira vez que ele o fazia. O que instantaneamente me fez sorrir também.

AmazimaWhere stories live. Discover now