#16

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Já estávamos na sexta feira, as aulas seguiam normalmente, e só me faziam ter a certeza de que tinha escolhido o lugar certo. Cada matéria era mais interessante do que a outra e cada professor mais envolvente e dominador do seu assunto do que o outro.

Mas apesar de todo esse ar de maturidade e responsabilidade de ambiente universitário, tinham certos momentos em que as coisas pareciam não ter mudado muito desde a minha formatura do colegial, como quando as garotas suspiravam pelo professor Carlos Nogueira, e queriam que ele fosse o apoiador da classe, eu era terminantemente contra essa decisão, como podem votar em alguém pra nos representar diante das demais autoridades estudantis só porque ele é o "Senhor perfeição"?

Ri sozinha ao perceber que o apelidei do mesmo jeito que o Filipe apelidou o Daniel, e o mais engraçado era que ele me lembrava os dois, o Daniel por causa do efeito hipnótico que causava nas garotas só de entrar na sala e dar um bom dia animado pra todos, mas o que se seguia, a forma como os olhos se fechavam a medida que os lábios se curvavam, era bem parecido com os sorrisos costumeiros de Filipe, mas sem as covinhas, uma em cada lado e que o deixava bem mais encanta... Mas quando foi que eu me tornei especialista em sorrisos alheios? Balancei a cabeça pra dispersar esses pensamentos estranhos.

Outra coisa que me deixou surpresa foi a formação de uma turma do fundão, sim isso ainda existe na faculdade, e eles faziam algumas brincadeira bobas, atrapalhando as aulas. Quando isso acontecia parecia que eu estava de volta a minha antiga escola do ensino médio.

Não acreditei quando um garoto com uma estatura definitivamente abaixo da média se levantou, mais vermelho que um tomate, exigindo que devolvessem sua mochila e pasmem, a mochila se encontrava presa em uma das hélices do ventilador.

Fazia um bom tempo que eu não presenciava uma provocação alheia gratuita, onde os mais fortes zombavam dos menores só pra ter uma sensação falsa de superioridade. Isso era tão infantil, era tão diferente de tudo o que eu tinha vivido na minha viagem à África, lá, talvez por enfrentarem situações duras e desumanas, as pessoas se aproximavam mais uma das outras em busca de apoio pra suportar as dores do dia-a-dia.

Eu fiquei irritada com o que aqueles valentões estavam fazendo com o pobre garoto e já estava me preparando psicologicamente para enfrentá-los, mas meu bravo ato de heroísmo foi interrompido, antes mesmo de ser iniciado, pelo professor Carlos, que soube lidar firmemente com a situação e deixou claro que se algo parecido acontecesse outra vez os envolvidos receberiam uma passagem só de ida pra fora da instituição. É acho que o Senhor perfeição acabou de ganhar o único voto feminino faltava.

Fora isso, até que os dias foram tranquilos. Bem tranquilos. Estranhamente tranquilos se considerar o quanto a Lu estava apreensiva com essa história de "esse ano será pior q o ano passado" e aquele pedido de desculpa antecipado. Pensei que algo muito marcante já teria acontecido até agora, mas parece que o auge da semana dos trotes foi mesmo o primeiro dia, do qual felizmente escapei.
Seria essa a calmaria que antecede a tempestade?

- SARA - gritou Marina no meu ouvido me fazendo pular de susto

- Céus Ma, precisava disso? - perguntei enquanto colocava uma mão no peito, numa tentativa falha de acalmar meu coração.

- Claro, você estava aí viajando no mundo da lua, que nem ouviu as nossas tentativas educadas, então tivemos que recorrer a meios mais drásticos - respondeu Marcus com uma cara de inocente.

- Só estava pensando...

- Então deixa pra pensar depois precisamos descer A-GO-RA. - falou Marina enquanto me puxava pra fora da sala, que se encontrava totalmente vazia.

Eu realmente me encontrava tão imersa em meus pensamentos que não percebi todos saírem?

Marcus só balançava a cabeça como um daqueles cachorrinhos de carro que te fazem questionar quem é o bobo da história, ele por repetir um ato freneticamente ou eu por não balançar a cabeça junto. Ri de minha própria estranha conclusão. Se agarrando ao meu outro braço, agora os dois me arrastavam escada abaixo.

AmazimaWhere stories live. Discover now