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- Até que enfim achei vocês! - Filipe chegou já abraçando Lucas e Luísa.

- Prazer Filipe, você é?

Impossível acreditar na tamanha cara de pau desse cara. Ele fingiu que não me conhecia. E eu ainda estava usando seu blusão! Todos me encaravam aguardando por minha resposta. Fui forçada a entrar no jogo.

- Sara - Murmurei meio contrariada.

- É um prazer te conhecer. - Lançou-me um olhar cheio de significados que eu jamais descobriria quais eram.

Não tive forças para responder e nem olhar para ele. Não conseguia entender o porque dele ter mentido. Passei o resto da noite olhando fixamente para o palco onde os músicos se apresentavam. Filipe ficou ao meu lado o tempo todo. Até que percebi que ele estava tremendo um pouco. Talvez de frio? Afinal, o vento que estava na praia era forte. Mas nem se eu quisesse podia devolver o casaco a ele. Depois da mentira que ele inventou, se eu fizesse isso, todos tirariam conclusões precipitadas.
O festival acabou por volta de meia noite. Caminhamos rapidamente até o carro tentando fugir o mais rápido do frio. Luísa e Lucas estavam abraçados logo a minha frente e de Filipe. Ele estava com a boca roxa, de tanto frio. O cutuquei e fiz menção de tirar o casaco:

- Não precisa, serio. E você está com as costas nuas. Pode pegar algum resfriado... - Falou tremendo um pouco.

Ok, talvez ele não fosse tão idiota assim...

- O casaco é seu e se você ficar gripado eu me sentirei culpada e não quero conviver com isso.

- Bom, se eu conseguir conviver com o fato de você me odiar para o resto da sua vida, você também talvez consiga conviver com minha gripe causada por sua causa.

- Eu não odeio você... - Fitei o chão enquanto falava, tentando esconder meu rosto vermelho. Senti um pouco de vergonha por ele achar que eu posso odiar alguém que nem eu mesma conhecia. Que impressão ele tinha de mim?

- Não minta descaradamente, por favor.

Ele parou em minha direção com os braços cruzados, não sei se por conta do frio ou era uma expressão corporal de revolta com minha afirmação.

Parei também, o encarando da maneira mais sincera que consegui. Por algum motivo que eu desconhecia, era muito difícil encarar seu olhos negros e fundos.

- O único aqui que é além de descarado e mentiroso é você. - Falei cansada daquela conversa que eu não sabia onde iria chegar.

- Você não entende nada mesmo não é?

Pela primeira vez, achei que ele poderia estar sendo sincero. Começou a andar, quase correr. Não sei se a pressa era para alcançar Luísa e Lucas que se encontravam bem distantes de nós aquela altura ou era apenas para ficar longe de mim. Não me atrevi a perguntar.

- Pode me explicar então? - Murmurei me apressando para alcançá-lo.

Paramos novamente e Felipe deu um longo suspiro.

- Olha, apenas achei que se eu contasse que o blusão era meu, você poderia ficar um pouco constrangida. Quis evitar que você se sentisse assim.

O encarei. Sim, ele estava falando a verdade. Droga, dessa vez a culpa era minha.

Não consegui dizer mas nada o restante do caminho até o carro. Entramos em silêncio, a não ser pela música que Lucas havia colocado para tocar no carro. Talvez, justamente para quebrar o gelo. Coloquei minha bolsa marrom de franjas entre eu e o Filipe. Me exprimi ao máximo contra o vidro, encarando as ruas de Santos. Tentei não olhar para Filipe, mas minha curiosidade me venceu. Quando me virei, ele estava encarando e nem sequer se deu o trabalho de disfarçar. Ficamos longos minutos assim, não sei porque mas não senti vontade de desviar. Geralmente eu era boa lendo as pessoas, mas seus pensamentos pareciam tão ocultos para mim... Começou a tocar uma música lenta no som do carro. Comecei a sentir minhas bochechas queimarem enquanto Filipe me encarava. Torci para que o escuro não o deixasse constatar esse fato. Finalmente consegui me libertar de seus olhos e encarei o radio:
- Nossa, que música linda! O cantor também é muito bom. -
Disse com um entusiasmo fingido.

AmazimaWhere stories live. Discover now