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Chegando a noite comecei a me arrumar depois de ter dormido com Luísa o resto da tarde e me certificado de que ela realmente estava bem. Na verdade, pareceu ficar bem feliz com meu jantar com Daniel. Tomei um banho demorado e lavei o cabelo. Um bom condicionador também entrava na minha lista de objetos em que comecei a dar o real valor depois de minha viagem a África. Estava logo embaixo do item "chuveiro".
Luísa insistiu tanto, que deixei ela ajudar a escolher minha roupa. Depois de muitas controvérsias, finalmente concordamos por um vestido branco apertado em cima com decote coração e rodado em baixo. Ele era da altura da minha coxa e junto com ele usei minha bolsa de couro marrom com rendinha igualmente branca. Passei uma maquiagem leve no rosto e enquanto finalizava com um pouco de perfume, escutei a campainha tocar.

- O surfista gato chegou! Deixa que eu atendo, fazer ele esperar cria um clima de ansiedade.

Dava para ver que Luísa estava adorando toda aquela situação. Para falar a verdade, eu também estava feliz e bem empolgada. Há muito tempo eu não tinha um encontro. Luísa voltou com um sorriso no rosto maior que o anterior.

- Devo dizer que o gato está mais gato do que nunca. Ele te espera na sala.

Me despedi dela, peguei minha bolsa e caminhei até a sala. Encontrei Daniel sentado no sofá com um buquê de rosas amarelas na mão. Quando me viu, logo levantou e me entregou as flores.

- Agora você é vidente? - Falei cheirando o buquê.

- Como assim?

- Adivinhou minhas flores preferidas.
Ele riu.

- Adivinhar não. Vamos dizer que tenho minhas fontes.

Sorri de volta. Daniel usava uma bermuda branca acompanhada de camisa polo preta e sapatênis. A Camisa era um pouco justa, o que deixava bem a mostra o contorno de seus músculos. Luísa tinha razão, ele estava lindo.
*********

Andamos em direção ao carro e por um bom tempo me permiti observar a forma como ele caminhava. Me mantive um pouco atrás para que ele não pudesse ver meu olhar repousar em seus ombros largos. Ele era forte. Mas não aquele forte estereotipado, um forte natural. Era óbvio que ele não era um desses carinhas que ficam trancados na academia puxando ferro o dia inteiro, e sim, que seu belo corpo era consequência de sua dedicação ao surf. Assim que ele abriu a porta para que eu entrasse no carro, me dei conta de que eu não fazia ideia de onde estávamos indo.

- Vai me contar aonde vamos?

- Acho que terá que confiar em mim.u

Suspendi os ombros enquanto disse:
- Para sua sorte adoro surpresas.

Chegamos ao estacionamento de um restaurante repleto de luminárias de papel de arroz e paredes vermelhas.
Daniel saiu do carro e logo prontificou-se a abrir a porta para mim.

- Espero que goste de comida japonesa senhorita.

Sorri pela maneira formal com que ele me tratou e como resposta, Daniel me fitava com seus olhos grandes e azuis.
Entramos e sentamos em uma mesa perto da janela ao fundo do restaurante.

- Mora há muito tempo em Santos? -

Daniel perguntou enquanto escolhíamos o que comer.

- Na verdade, nasci no Rio. Estou apenas passando um tempo aqui antes de ir para casa.

- Quanto tempo até você voltar para as belas praias de lá?

- Dois meses. Você conhece o Rio de Janeiro?

- Já surfei muito por lá. A paisagem do Rio é bem mais bonita...

Ele me encarou dando ênfase na palavra "bonita". Fiquei na dúvida se isso havia sido um flerte ou não. E apenas com essa pequena possibilidade meu rosto corou. Por sorte, Daniel não teve tempo de reparar pois logo um garçom se aproximou perguntando se gostaríamos de fazer o pedido.
Decidimos pedir uma barca linda que vinha recheada da comida japonesa mais gostosa de que eu já havia provado.

**************

- Vamos jogar um jogo. Perguntas e respostas. - Disse Daniel.

- Por mim tudo bem. Quantas você quer?

- Começaremos apenas por três. É o suficiente por enquanto.

Ele me lançou um olhar malicioso e divertido Era tão fácil estar com ele. E a maneira como ele me olhava, me fazia sentir como uma pessoa única. Estar com Daniel ressaltava todas as qualidades que eu tinha. Ele despertava meu melhor lado.
Enquanto comíamos fazíamos as perguntas um pro outro. Não sou muito fã desse jogo, pois acredito que precisamos descobrir as coisas da outra pessoa gradativamente. Se não, cadê a graça? Mas confesso que estava bastante curiosa para ouvir as perguntas de Daniel.

- Vamos começar com o básico. Quantos anos você tem?

Ri. Esperava tudo, menos uma pergunta tão fácil.

- Dezoito.

- Idade boa. - Ele sorriu.

- E você?

- Espere sua vez, Sara. Sei que está ansiosa para me conhecer. Mas controle-se.

Ele piscou. O que fez com que eu quisesse abraça-lo. Daniel era um fofo.

- O que fazia antes de vir para Santos?

- Bom, eu estava na África. Fazendo missões em uma aldeia pequena.

- Nossa.

Daniel permaneceu em silêncio e com a testa franzida durante alguns minutos.

- O que houve? - Perguntei.

- Estou apenas pensando. Você é mais especial do que eu imaginava.

- Ir para a África não me faz uma pessoa melhor que você. Somos iguais.

- Tem razão. Sua viagem não, mas seu coração sim.

Ele pegou minha mão que estava sobre a mesa. Corei enquanto ele me encarava com um olhar intenso.
No resto da noite descobri que Daniel tinha um programa de TV em um canal internacional sobre surfe. Ele ajudava instituições carentes e levava crianças da comunidade para terem aula de graça com campeões mundiais. Ele tinha vinte e dois anos, participava de campeonatos e ainda tinha uma loja. Ele se mostrou muito interessado em minha viagem para a África. Mostrei-lhe as fotos em meu celular das crianças que conheci. Ele ficou encantado e sua expressão de felicidade com animação me deixou bastante animada para falar sobre a viagem.
Comemos muito, conversamos mais e rimos juntos.
Depois de Daniel insistir para pagar a conta sozinho, abriu a porta do restaurante e começamos a andar ate o carro. No caminho, Daniel entrelaçou minha mão na sua de modo que ficamos de mãos dadas. Suas mãos eram grandes comparadas as minhas. Por estar tão próximo a mim, pude notar que ele deveria ser uns sete centímetros mais alto que eu. Ele encarava fixamente sua frente. Em nenhum momento me dirigiu o olhar, apesar de eu o estar observando o caminho inteiro ate o carro.

AmazimaWhere stories live. Discover now