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E a conversa com meus pais foi menos pior do achei que seria. Eles não deram sermão em relação ao acidente e nem nada do tipo. Mas minha mãe estava exausta. Meu avô pelo que entendi só piorava e não reagia bem ao tratamento. Insisti para que pudesse visita-lo mas ela dizia que ele não queria que eu o visse no estado em que se encontrava. Um aperto grande no meu peito deu sinal assim que a ouvi dizer tal frase. Era travado um dilema dentro de mim entre querer visita-lo a todo o custo e respeitar sua vontade de não querer que eu esteja lá. Como agora uma viagem a Brasília não seria possível ainda mais sem o consentimento dos meus pais, deixei esse pensamento para outra hora. Morria de saudades de meus pais, por ser filha única sempre fui muito apegada a eles. Se minha viagem para a África não tivesse sido tão longa, eu estaria sofrendo mais com a ausência deles, entretanto, com esses doze meses, pude aprender a lidar com a falta e quase reagir como se ela nem existisse. Mas eu sabia que bem ela no fundo, ela era enorme. Minha mãe, Lucia, era uma mulher de estatura baixa, cabelos cor de mel ondulados na altura do ombro ate a ultima vez que a vi. Ela tinha grandes olhos castanhos e pele morena. Era uma mulher bonita que parecia ser mais jovem do que realmente era. Sempre íamos ao shopping tomar sorvete e nos perder por horas em uma daquelas grandes livrarias. Meu pai era alto o que me fazia questionar sempre o porque deu não ter puxado sua altura. Ele se chamava Marcos e era um doce. Sempre íamos a padaria aos domingos juntos e costumávamos ver filmes antigos domingo a tarde. Sinto falta desses momentos. Com um suspiro sai do banheiro e tratei de me arrumar para ir para a faculdade. Luiza já estava na cozinha tomando café e me apressou o que me fez perceber que a hora já estava u tanto quanto avançada. No carro contei a ela que depois da faculdade iria com Tiago para a empresa de seu pai, já que hora era a quase entrevista. Quase porque de fato, Tiago em nenhum momento usou essa palavra para descrever o que aconteceria hoje. Durante o caminho ate o campus, tracei um dialogo em minha cabeça que poderia usar com meu talvez futuro chefe e pai de Tiago, mas desiste da ideia por saber que nada nunca sai como planejamos.

- Como será que ele é? - Perguntou minha prima enquanto estacionava o carro.

- Quem? - Perguntei perdida.

- O pai de Tiago, quem seria?

- Não sei. Não o imagino de qualquer forma. - Confessei dando de ombros.

- Então boa aula e boa sorte! É provável que só nos vejamos em casa. Hoje nossos horários são muito incompatíveis.

- Obrigada. Te amo. - Falei a abraçando.

- Também amo você pessoa carente.

Fiz uma careta diante de seu comentário e sai em direção a minha sala. Hoje era aula de Língua portuguesa. Parece que todos os cursos tem essa matéria no primeiro período. Fui me arrastando com uma sensação de ensino médio por ter português novamente. Não que eu não gostasse, mas cursar algo já conhecido por mim, me parecia perda de tempo.

A sala estava lotada o que fez com que eu caminhasse ate o fundo em busca de um lugar vazio tentando ao máximo não chamar muita atenção. Em meu lado direito tinha uma menina que lixava as unhas fazendo com que aquele pó branco voasse para os lados e conseguindo que um barulho irritante se instalasse. Senti uma brisa gelada e um arrepio na espinha. Olhei pra trás e constatei que eu estava exatamente embaixo do ar condicionado. Ótimo.

- Pega. - Falou uma voz tao familiar pra mim que me fez virar.

- O que estava fazendo aqui? - Perguntei a Filipe que tinha um topete bagunçado e usava uma blusa branca, calça jeans clara levemente rasgadas no joelho e um all star preto.

- Eu estudo aqui. - Falou como se fosse obvio para todos menos pra mim.

Sua mão continuava estendida a me oferecer o casaco o que não me restou outra alternativa a não ser aceitar. Estava realmente frio e não aguentaria antes de congelar naquela sala de aula ou pegar um resfriado o que não me garantiria uma boa primeira impressão ao pai de Tiago que eu necessitava urgentemente descobrir o nome para parar de chama-lo de pai do Tiago.

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