#27:

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Acordei pela manhã e fiquei encarando o teto. Estava cedo apesar de ser sábado. Quando cheguei da noite anterior Luíza estava dormindo e estranhamente agradeci por isso. A noite foi incrível, Filipe foi incrível e apesar de não ser a grande entendedora de relacionamentos, tudo que estamos vivendo ultimamente tem passado longe de se parecer com uma amizade. Continuo na mesma. Sabendo quase nada sobre ele, que apesar de se abrir aos poucos, sinto que tem muito mais do que ele diz ter. Dormi sorrindo, acordei insegura. Algo me impede de viver essa história em toda sua plenitude e por algum motivo, dentro de mim, sinto que ao Filipe também. Apesar de novamente sentir que os motivos que me impedem são totalmente diferentes dos motivos que o impedem.

Tomei coragem de finalmente levantar e ir lavar o rosto. Encarei meu reflexo e me fiz perguntas que nem ao menos sei se tenho resposta. Por que vim morar em Santos? Estou vivendo o que era pra estar vivendo? Por que escolhi me envolver com garotos tão rapidamente como nunca antes? Preciso respirar e me acalmar. Não posso negar o inegável. Filipe mexe comigo e não sei ao certo o que fazer na maioria das vezes. Mas sei também que preciso estudar e da minha família cuidar. Preciso ter mais calma, ser mais racional. Não nasci pra viver em incertezas do coração, ainda mais em um momento tão frágil como esse que meus pais e eu estamos passando com meu avô. Não posso partir em pedaços, precisam de mim inteira.

Sai do banheiro decidida, não a ter mais uma das minha inúmeras conversas com Filipe e nem de ignorá-lo. Sai decidia a viver sem me prender a ninguem e nem mergulhar em uma história sem garantia de nada além de um coração quebrado. Não estou sendo pessimista, ontem foi realmente surreal, me senti preenchida e em casa como a muito não sentia. Mas até quando? Até o que? Filipe é instável e não estou preparada pra entrar nesse barco que a qualquer momento pode afundar. Não estou pronta pra me afogar, realmente nao sei nadar.

Sai pra andar de bicicleta sem avisar meu tio e nem luiza. Não quis preocupar e nem me preocupar com ninguém no momento. Só queria refletir sobre tudo, decidir um novo rumo. 

Pedalei sentindo a brisa no rosto, o vento no cabelo. Não liguei pra minhas roupas largas e cabelo não tão  arrumado. Não liguei pra minha cara amassada e sem qualquer resquício de maquiagem e incrivelmente me senti bem. Ou quase. Senti que algo em mim mudou. É possível amadurecer do dia pra noite? É possível mudar um pensar e decidir o pé no chao colocar? Pois eu decidi.

Bufei ao pensar em como o Filipe eu vou encarar daqui pra frente. Muito fácil montar planos e objetivar metas, até encontrá-lo. Aqueles olhos que muito dizem apesar de nada dizer. Nao sei como agir após o beijo e tudo que ontem aconteceu sem ser fria. Não quero ser total coração e nem razão. Como achar um meio termo? Como ser feliz sem magoar?

– Cuidado!!
Gritou um homem que passou em minha frente tão rápido e sem aviso que por conta do custo me fez cair e me ralar.

– Você não vê por onde anda, garota?! Podia ter me machucado e agora está machucada e a culpa é sua!

Que droga, em plena manhã quase matei alguem e me matei no processo. Meus joelhos ardiam e meu cotovelo não ficava muito atrás.

- Ei, te conheço. Você ja esteve na minha casa.

A voz realmente não me era estranha, mas ao levantar o rosto aqueles olhos eu nunca havia visto antes. Eram um pouco claros, mas nao muito. Um castanho mais claro que normalmente encontramos por aí. O reconheci por causa do topete característico e lateral raspada.

– Oi, Pedro. - falei rindo internamente de como isso tudo era uma loucura.

– Oi-menina-que-nao-sei-o-nome-mas-é-gatinha.

AmazimaWhere stories live. Discover now