CAPÍTULO 6

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Pouco depois de Morgana haver retornado aos seus aposentos, ao fim do almoço, Lady Viviane foi encontrá-la.

"E então, Lady Viviane, Merlin já vos tornou uma feiticeira?"

Viviane riu: "Oh, milady, quisera eu!"

"Estou curiosa! O que ele já vos ensinou?"

"Não muito, ainda. Explicou-me a diferença entre ilusões e verdadeira magia." Por algum motivo, preferiu não trazer à tona o comentário de Merlin sobre, ao contrário do que se dizia, ele ser, sim, capaz de prever o próprio futuro. Tivera a sensação de que aquilo lhe fora dito em tom de confidência e, apesar de ele nada ter pedido, sentia que ele preferia que ela guardasse para si a informação.

"Vós dois vos entendestes bem? Que achastes dele como professor?"

"Ele... é diferente do que eu imaginava."

"Diferente como?" perguntou Morgana, ávida, sem se preocupar em disfarçar o interesse.

"Não sei. Quer dizer, sei, sim, em parte. Eu o imaginava um ancião severo e muito sério. Naquele dia em que consegui alcançá-lo nos bosques, já havia percebido que ele era jovem. E hoje, na aula, vi que não é severo, é até muito informal, o que me surpreendeu. Um pouco ranzinza, talvez. Já estava menos sisudo ao fim da aula."

Esse tolo desse Merlin irá dificultar tudo com o temperamento intragável que possui!, Morgana preocupou-se. E emendou ligeira, tentando tirar o foco do azedume do mago:

"Ele deve vos haver achado linda e graciosa — pois bem o sois!"

"Isso eu não saberia dizer, milady!" Viviane sentiu-se constrangida, mas, ao mesmo tempo, seu coração encheu-se de uma expectativa nova para ela. Criada em isolamento na propriedade da família, convivendo apenas com seus pais e seus velhos tutores, muito raramente se vira exposta aos olhares de jovens rapazes. Ele a teria mesmo achado graciosa? Percebeu as faces quentes.

Morgana deu um risinho. "Ah, mas ele achou! Achou, sim! Eu sei! Quem não acharia?"

Morgana considerava Viviane muito bela, era verdade, mas não a estava elogiando gratuitamente, e sim para lançar uma semente no coração da menina. Ela era muito jovem, muito inexperiente, mas já devia haver alguma vaidade feminina dentro dela que Morgana queria atiçar. Se Viviane acreditasse que Merlin estava atraído por ela, talvez se sentisse estimulada a apresentar-se mais provocante por pura frivolidade, a tentá-lo, e com isso acabasse por seduzi-lo. Mas Morgana ainda não a informaria de seus planos. Tinha muito tempo. E precisava ter cautela. A afobação não a ajudaria em nada. Mudou de assunto:

"Vamos jogar tábula?"

"Sim!" Viviane respondeu empolgada. Estava num estado de leve euforia e diria sim a qualquer convite. A vida na corte, tornar-se dama de companhia da irmã do rei, aluna de seu conselheiro... Um mundo de possibilidades se abria diante dela, cada dia trazia uma novidade. Nunca antes havia saído da propriedade de seus pais em Briogne, na Pequena Bretanha. Tudo na corte lhe parecia bonito, sofisticado, grandioso. Sempre tivera uma avidez fora do comum por aprender, e cada dia em Camelot vinha sendo um aprendizado.

Estava tão envolvida com tudo o que via e ouvia que até se alheava de seu verdadeiro objetivo ali: adquirir os modos da alta nobreza para poder desposar um bom vassalo do rei. Era difícil focar-se numa meta que não era ditada por seu coração, mas imposta por seus pais. Para eles, qualquer instrução adquirida pela filha durante sua permanência na corte seria um lustre, um verniz que destacasse seu brilho perante os jovens cavaleiros, nada que fosse ter verdadeiro uso. Para ela, era a própria razão de estar ali.

Vale sem RetornoWhere stories live. Discover now