CAPÍTULO 17

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De longe, avistaram o mosteiro.

"Só mais um pouco, agora!" Viviane estava excitadíssima. Merlin evitava a todo custo demonstrar sua perturbação, mas mantinha-se ainda mais calado que de costume. Por mais que houvesse decidido esquecer o sonho por ora, o mal-estar e a desconfiança gerados pela relação recém-descoberta entre Viviane e Diana eram quase impossíveis de serem dissipados.

Com cerca de mais uma hora de caminhada, chegaram diante do portão.

"Quem sois?" o sentinela apressou-se a perguntar. Era um jovenzinho, ninguém que já estivesse lá na primeira visita de Merlin.

"Sou Merlin, o conselheiro real. Venho em nome de Sua Majestade, o rei Arthur. Para melhor atender ao reino, preciso de algumas informações que conto com encontrar em alguns códices deste mosteiro. Trago comigo uma copista para me ajudar a reunir os achados mais importantes, assim poderemos trabalhar duas vezes mais rápido e abreviar a missão."

"Uma copista?"

A história tinha inconsistências evidentes. Uma copista mulher. Enviados do rei chegando a pé como andarilhos mendicantes. Para dar um pouco mais de credibilidade ao que dizia, Merlin fez algo que surpreendeu não apenas o monge, mas a própria Viviane: puxou de sua bagagem uma carta com o selo real endereçada ao abade de Amesbury e a exibiu ao sentinela. Viviane sorriu discretamente: o próprio Merlin devia tê-la escrito e, como tinha livre acesso aos aposentos de Arthur, selara a carta com o carimbo real. Mas os monges não conheciam a caligrafia ou a assinatura do rei, e a tomariam por autêntica.

"Não queremos alarde," Merlin alertou o sentinela enquanto este passava a vista no papel, querendo justificar sua aparição tão modesta e sem aparatos sob a forma de uma missão secreta.

Foram levados diante do velho abade — o mesmo abade de quinze anos atrás. Não reconheceu Merlin de pronto, o que não o surpreendeu: afinal, naquela época, ele era apenas um menino, com menos da metade da idade que tinha hoje. Apenas quando as palavras "conselheiro do rei" foram pronunciadas o ancião olhou Merlin nos olhos, expressando um gradual reconhecimento e desagrado. Merlin sabia que não era bem-vindo ali. Como seria bem-vindo a um mosteiro um suposto filho do demônio? Mais uma vez, mostrou a carta.

"Não vou desobedecer a um decreto real," o abade falou com um suspiro resignado que fez questão de não disfarçar. "Mas não devemos ter contato com o sexo feminino. Vossa acompanhante ficará isolada das atividades dos monges, inclusive das refeições, que deverá fazer sozinha — ou em vossa companhia, caso prefirais, para que ela não fique tão isolada."

"Sim, parece um bom arranjo," Merlin concordou, sabendo que esse fora ditado não por consideração a Viviane, mas por ser o modo que o abade encontrou para sinalizar que Merlin tampouco dividisse a mesa de refeições com os monges. Quanto a ele, não fazia qualquer questão de conviver com aqueles religiosos cristãos que desprezava tanto quanto sabia ser desprezado por eles.

"Irmão Filipe é o responsável pela biblioteca e pelos copistas," prosseguiu o abade, satisfeito em haver resolvido a questão com diplomacia. "Ele estará avisado de vossas presenças aqui e vos auxiliará na busca dos códices de vosso interesse, bem como providenciará material para cópia e um local adequado para trabalhardes."

"Agradecemos muito!"

"Por ora, Irmão Damásio vos guiará para a área de hóspedes." E lá já vinha surgindo irmão Damásio, para surpresa de Merlin e Viviane. O primeiro monge com quem falaram o alertara, decerto.

A área de hóspedes consistia de três quartos que davam para um terraço em comum, onde havia uma mesa com cadeiras para refeições. Irmão Damásio apontou um quarto para cada um, e informou que em breve alguns irmãos viriam trazer-lhes água para se lavarem e uma pequena refeição para se restaurarem da caminhada. Deu-lhes as costas e os deixou sozinhos no terraço.

Vale sem RetornoWhere stories live. Discover now