CAPÍTULO 15

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Três dias após as bodas, conforme marcado, Merlin se dirigiu à entrada do bosque na fronteira dos jardins reais. Caminhava devagar, de coração pesado, apenas para fazer valer o combinado, mas não esperava encontrar Lady Viviane ali. Dormira mal aquela noite, inquieto e temendo perder a hora. Saiu muito cedo, antes de o sol nascer. Desde que tivera o estranho sonho em que era alvejado por uma flecha, ganhou outro motivo, se bem que menos estimulante que Lady Viviane, para almejar a viagem: pensou que poderia aproveitar a ida ao monastério para pesquisar antigas lendas e mitos. O sonho lhe causara uma estranha sensação de familiaridade, e a túnica à moda grega dos jovens era uma pista sobre quais livros pesquisar. Chegou ao local marcado. Agora, era esperar. Talvez, para sempre, concluiu, com um risinho resignado.

Estava escuro e havia neblina. Mesmo que sua visão fosse perfeita, não teria visto aquela figura correndo em sua direção até que ela houvesse chegado bastante perto. Sem diminuir a velocidade, Viviane soltou sua bagagem no chão e o abraçou com força, empurrando-o um pouco para trás com o impacto.

"Lady Viviane?" ele balbuciou, atordoado.

Ela nada disse. Continuou retendo-o em seu abraço. Sentia angústia e remorso. Acima de tudo, sentia-se ela mesma presa na armadilha em que Morgana queria capturar Merlin. Estaria enviando-o ao covil do lobo apenas por ser muito egoísta e não querer abrir mão de seus projetos? Seria mesmo possível fazer todos felizes?

"Está acontecendo algo?" ele insistiu, agora alarmado.

"Não. Apenas estou feliz e grata por esta viagem," ela respondeu, ainda sem soltá-lo. Viviane via com alívio o início da jornada, quando, por um tempo, seriam apenas os dois, e ela não teria contas a prestar a Morgana até que voltassem a Camelot. Sentiu mais uma vez o calor da pele dele através do tecido, o cheiro de folhas, e uma onda de paixão a inundou. Não havia dúvidas, ela o amava, e queria-o para si. Queria seduzi-lo, sim, não para entregá-lo a Lady Morgana, mas para fazê-lo querê-la como ela o queria.

Merlin estava incrédulo. Lady Viviane madrugara tanto quanto ele, e parecia igualmente impaciente para partir. Vendo-a, sentindo-a colada a ele, intoxicado pelo cheiro de água de rosas e alecrim de seus cabelos, tomava-se de êxtase. ("Alecrim não nasce no jardim dos maus," dizia-lhe uma pálida lembrança de sua mãe no jardim do convento, o sol brilhando, ela lhe sorrindo, ele ainda tão pequeno. Há quanto tempo não evocava essa imagem? Sua mãe decerto gostaria de Lady Viviane.) Acariciou-lhe os cabelos, sentindo a maciez dos fios. Com delicadeza, segurou-lhe o queixo com uma mão e ergueu seu rosto. Assim, tão de perto, podia ver cada pequeno detalhe de suas feições, iluminadas pelos primeiros raios de sol. As sardas na ponta do nariz, uma levíssima cicatriz na sobrancelha direita, os olhos sérios. Ela ergueu-se na ponta dos pés e roçou seus lábios nos dele. Merlin não esperou outro convite. Havia se torturado durante dias por haver imposto um beijo que ele acreditou indesejado, mas agora ela demonstrava também ansiar por aquilo. Beijaram-se com vagar, usufruindo da plenitude do momento, sentindo cada gosto, cada cheiro, colhendo a respiração um do outro.

"Eu vos amo," ela sussurrou, com ar de felicidade.

Merlin desacreditava em seus ouvidos. Após uma vida difícil e sofrida, em que sempre se relacionara com os outros de modo superficial, penoso e desajeitado, seria o amor tão fácil para ele, tão simples? Sua sorte mudara, enfim? Seria uma compensação pela vida que levara até então? Enquanto tantos cavaleiros sofriam de mal de amores, e choravam, e compunham canções, e não sabiam mais que fizessem para cativar suas amadas, tudo o que ele precisara fazer para conquistar sua dama fora... amá-la. Nada mais. Amara-a, e fora correspondido. Não iria pensar agora na inverossimilhança de alguém como ela amar alguém como ele. Por ora, queria apenas embriagar-se de felicidade, a maior que já sentira.

Vale sem RetornoWhere stories live. Discover now