LIVRO 2 -- CAPÍTULO 16

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Amigos leitores, estou de volta! Um pouquinho antes do previsto. Muito obrigada a todos vocês por me esperarem nessas "férias" (em que não descansei tanto assim! ;) )! Espero que gostem e continuem me acompanhando! Muitos beijos!

*

Estava escuro. Sir Lancelot gostava muito de viajar à noite; inspirar fundo, enchendo os pulmões com o sereno úmido e frio; ouvir o pio das aves notívagas, ou o som de patinhas leves e velozes a correr, distantes, entre as árvores, interrompendo o silêncio circundante. Mas não vinha sozinho, nem livre: trazia consigo a rainha, e vinha comprometido a uma missão. Por agradáveis que fossem os passeios noturnos, eram também mais perigosos. Era hora de levantar acampamento.

Ao olhar para dentro do carro a fim de comunicar sua intenção à rainha, deu com ela adormecida, deitada no banco, a cabeça apoiada numa almofada e as cobertas puxadas até o queixo. Parecia tão bem acomodada que não seria certo acordá-la para que fosse dormir na tenda.

À sua frente, os escudeiros, percebendo sua parada, também se detiveram. Lancelot apeou e foi ter com eles. Deu-lhes instruções para que montassem para si próprios uma das tendas, ao passo que ele dormiria sob a carroça, guardando a rainha. Eles aquiesceram sob débeis protestos, oferecendo-se para que um deles tomasse o lugar sob o carro, mas Lancelot encerrou a questão, afirmando que a segurança da rainha era sua responsabilidade. Os escudeiros, aliviados pela recusa de sua oferta, não insistiram mais.

Era uma noite agradável, nem fria nem quente, mas o chão sob a carroça não era a cama mais confortável do mundo, de modo que ele cedo despertou, sentindo o pescoço doer um pouco. Levantou-se e olhou para dentro do carro. Lady Guinevere dormia, ainda. Em seus lábios, um ligeiro sorriso. Sonhava com coisas boas. Talvez com sua casa, em Carmélide. Envergonhado, como se invadisse um momento muito íntimo, afastou-se rapidamente. Olhou ao redor e avistou os cavalos. Se os escudeiros ainda não os haviam levado para beber, é que também ainda dormiam na tenda. Ele estava sozinho, portanto. Resolveu andar um pouco pelo bosque que margeava a estrada, para esticar o corpo que estivera toda a noite encolhido sob o carro. As cerejeiras estavam carregadas.

Quando retornou, muitos minutos depois, percebeu que os cavalos já não estavam lá. Os escudeiros deviam estar com eles no rio. Avistou Guinevere sentada, recostada a uma árvore, a mirar o bosque com o semblante sério, e se aproximou:

"Bom dia, milady! Passastes bem a noite?"

Ela o olhou com alguma surpresa, como se só então percebesse sua presença.

"Sim, milorde!" respondeu com um sorriso. "E vós?"

"Não passei mal. Dizei-me, esses escudeiros cabeça de vento saíram com os cavalos e vos deixaram só?"

"Ah, bem! Parece que sim! Mas, em defesa dos rapazes, digo que acabaram de sair, então mal tive tempo de ficar sozinha! Talvez julgassem que estivésseis por aqui pertinho."

"Talvez..." E, mudando de assunto, "trouxe algo para vosso desjejum!" disse, sentando-se ao lado dela e lhe estendendo um punhado de frutinhas vermelhas. "Acabei de colher!"

"Como sabíeis que gosto de cerejas?" ela perguntou, aceitando-as e colocando uma na boca, satisfeita.

"Sempre comeis lá no castelo, após as refeições!" ele respondeu com naturalidade, como se diante de um fato muito óbvio.

"Ah, reparastes nisso? Já o meu marido, duvido que haja notado," acrescentou, com certa acidez na voz. E, após um breve silêncio, ela prosseguiu, para alívio de Lancelot, que não saberia o que acrescentar à última observação, "Sois um bom homem, Sir Lancelot! Não me admira a estima que o rei tem por vós! Quisera que me estimasse assim também."

Vale sem RetornoWhere stories live. Discover now