CAPÍTULO 12

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"O que achastes de Lady Guinevere, Lady Viviane?" Morgana e Viviane aproveitavam o sol nos jardins do castelo — ou, antes, Morgana aproveitava. Viviane estava alheia ao sol, ao jardim, às flores, e até a Lady Morgana. Há dois dias pensava com insistência em Merlin, fosse o que fosse que estivesse fazendo: conversando com alguém; pensando em sua casa em Briogne ou no casamento do rei, que se aproximava; jogando tábula com Lady Morgana — em segundo plano, incansavelmente, estava sempre relembrando seu último encontro com o mago. Seu cheiro de folhas, o calor de sua pele e o toque dos lábios dele nos seus. Estaria apaixonada por ele? Apenas porque recebera um beijo? Não, claro que não só por isso. Ela já devia estar enamorada, apenas não se dera conta — mas era inegável o quanto gostava de passar seu tempo na companhia dele. Estar apaixonada seria apenas isso? Ela era muito inexperiente e por isso não soubera perceber antes? Mas não desconsideraria que o beijo poderia ter sido o gatilho que despertou algo físico, a paixão propriamente dita. Algo que não seria despertado de outra maneira. E, para ele, o que aquele beijo significara? O que o levara a beijá-la? Um impulso, um arroubo, uma paixão que não podia mais ser contida, um amor nascente? Estaria ele naquele momento desempenhando com tranquilidade suas funções de conselheiro real, abstraído de toda a agitação que aquele beijo despertara nela?

"Lady Viviane, o gato comeu vossa língua?"

"Perdão, milady?"

"Achei que estivésseis adormecida. Este excesso de sol sempre me deixa sonolenta."

"Estou acordada, milady, perdão. Que dizíeis?"

"Perguntava que vos parece Lady Guinevere."

"Oh! Achei-a simpática! Parece ser uma boa moça. Poderíamos ensiná-la a jogar tábula, convidá-la para algumas partidas. Seria um bom modo de entrosá-la. Ela talvez esteja um pouco solitária."

"Obrigada, mas não quero me entrosar. E vós estais proibida de jogar com ela, Lady Viviane! Já basta que tenhais que banhá-la e vesti-la!"

Viviane achou graça: "Eu quase poderia desconfiar que estais com ciúmes de mim, milady."

Morgana admitiu, risonha: "Quereis saber? Talvez eu esteja mesmo! E já avisei a Arthur, digo, a Sua Majestade, que ele cuide de buscar uma dama de companhia adequada à Lady Guinevere antes que ela comece a vos pedir mais favores!"

"Fico lisonjeada, milady, mas não valho tanto a ponto de provocar disputas!"

"Não digais tolices, valeis muito! E o que será de mim se Lady Guinevere resolver tomar-vos por dama de companhia? O que seria de mim sem vós, Lady Viviane? Iria morrer de tédio e solidão nesta corte fastidiosa. Tratai-a mal! Não a cativeis nem mimeis demais, não deixeis que ela cresça os olhos para vós!"

"Lady Guinevere está ansiosa demais em estabelecer uma boa relação com a irmã do rei para tomar-vos o que quer que seja, milady."

"Provavelmente estais certa." E estendeu as mãos para depositar na cabeça de Lady Viviane uma coroa de flores que acabara de tecer. Viviane respirou fundo, buscando lhes sentir o aroma. De fato, como dissera Lady Morgana mais cedo, a tarde estava bonita demais para ser desperdiçada dentro do castelo.

"Será que o rei é apaixonado por Lady Guinevere?"

"Claro que não, não sejais tola!" Morgana parecia insultada pela ideia. "O que quero dizer," logo emendou, "é que não se pode apaixonar-se por quem não se conhece. E a mão de Lady Guinevere foi pedida sem que Arthur nunca a houvesse visto. Um casamento de conveniência, nada mais!"

O casamento real estava movimentando todo o reino e era assunto diário em todas as casas de Logres e mesmo além das fronteiras. A ansiedade do povo era grande em conhecer a nova rainha, e sabia-se que, durante e após a cerimônia, grande seria o número de visitas que Camelot, a capital, receberia. Mas essa era apenas uma das novidades da corte, e sequer era a mais apelativa. Afinal, a realeza não se casava todos os dias, mas casamentos eram casamentos, todos mais ou menos parecidos. Já uma ordem de cavalaria como a Távola Redonda, sem qualquer hierarquia entre seus membros, nunca havia sido vista, e eram muitos os curiosos para ver tais cavaleiros em carne e osso. Esse Rei Arthur, jovem, criado desgarrado da corte, não entendia nada da nobreza e propunha inovações afrontosas, na opinião de alguns.

Vale sem RetornoWhere stories live. Discover now